Fallout 4 | Crítica
A melhor maneira de começar a falar sobre Fallout 4 é dizendo que ele é um jogo da Bethesda, para o bem e para o mal, saber como um jogo da Bethesda
é, é saber muito sobre esse jogo. O que normalmente você pode esperar
de um jogo do estúdio? Um cenário enorme, horas e mais horas de gameplay
sem nem arranhar a superfície de tudo que o jogo tem pra te oferecer,
uma liberdade colossal sobre o que fazer e é claro… muitos bugs no meio
disso tudo. É exatamente isso que Fallout 4 é, mas com aquele toque especial que a ambientação da franquia tem.
Logo de cara o jogo te ganha com a
brilhante tela de criação de personagens, que te dá um grau de controle
único sobre como seu personagem será, deixando você moldar cada ponto da
estrutura facial com mínimos detalhes, sem também tornar complexo
demais, se você não é daqueles que perde muito tempo montando seu
personagem, você tem opções com bases predeterminadas, tanto do rosto
inteiro como de cada ponto da estrutura facial, se você quer liberdade
máxima, você também tem.
Após seu personagem montado com todo o
carinho e se você estiver com muita paciência, até o seu conjugue
montado com o mesmo nível de detalhe, começa a aventura típica de Fallout,
embora de cara nós testemunhamos a novidade que é o mundo normal antes
do holocausto nuclear, após alguns minutos nós já temos que nos
aventurar na terra desolada atrás de uma pessoa, dessa vez, atrás do
nosso filho Shaun. Clássico.
A maioria das mecânicas usadas em Fallout 4 você já conhece de outros games da Bethesda, seja de Fallout 3 (ou mesmo o New Vegas que não é do estúdio, mas usa a mesma engine), ou Skyrim.
Você tem um mundo inteiro a explorar livremente, enquanto busca por
armas e equipamentos melhores para sobreviver. Além de poder desenvolver
seu personagem para alguns tipos diferentes de situação. Você não
precisa, por exemplo, pensar em seu personagem apenas para guerra, já
que muita coisa no game pode ser resolvida com Inteligência e principalmente Carisma.
Escolher bem os diálogos e suas ações, além de dar uso em seus pontos
de inteligência podem fazer com que você consiga tanto ou mais coisas do
que com truculência pura, até porque o game agora dá um novo uso para
as famosas Power Armors.
As Power Armors do
jogo, que nos games anteriores eram vestíveis no lugar de sua armadura
ou roupa comum, agora é um traje que entra por cima do que você veste,
no melhor estilo Homem de Ferro, desde a forma cool que
você entra na armadura, que lembra um pouco o segundo filme da Marvel
onde Tony Stark entra na sua armadura maleta, até a forma como a energia
da Armadura funciona, no universo de Fallout nem Tony Stark nem nenhum gênio no seu nível existiu e não há um Reator Ark
que dê energia infinita pra armadura, então você tem que procurar e
comprar reatores para usá-la. E como eu mencionei no parágrafo anterior,
essas armaduras equilibram o jogo pro caso de você não querer
desenvolver seu personagem totalmente para batalha, afinal, depois de
vestir uma dessas você tem força e resistência extra para lutar com
qualquer inimigo. Só que para usá-la com mais frequência, a Inteligência e o Carisma ajudam, pois ao menos com esse último, você pode comprar itens mais baratos, portanto podendo comprar mais reatores, com Inteligência você consegue abrir mais portas, que contém itens mais poderosos, incluindo reatores.
No meio da desolação de Fallout 4, conhecida pelos habitantes da aérea como Comunidade,
mais uma vez você também vai encontrar as facções que vão dar um gosto
especial a sua jornada, a clássica e perene na franquia, Irmandade do Aço
está lá obviamente, e dessa vez com tecnologia ainda superior aos
outros games, com transporte e ataque aéreo incluso que você pode usar
caso se junte a eles. Além deles há pelo menos os Minutemen, não os de Watchmen, mas que também são um grupo com o propósito de defender as pessoas oprimidas e o Instituto, um grupo de vilões interessantes com o qual você pode interagir, entre outras menores que você também encontrará no game.
Eu ainda acho que nenhuma das facções do jogo tem o mesmo charme que as facções de Fallout New Vegas, mas elas são interessantes o suficiente graças as suas vantagens, há vantagens óbvias em pertencer a Irmandade do Aço,
embora eles estejam ainda mais fascistas do que antes nesse jogo, o que
pode te dar um leve enjoo em completar algumas de suas missões, como
obrigar a fazendeiros inocentes a lhe dar provisões e coisas do tipo.
Nos Minutemen, por outro lado, apesar de estarmos ajudando pessoas, nós não temos o mesmo nível de armamento e tecnologia, mas temos O Castelo, melhor assentamento do jogo.
E isso nos leva aos assentamentos e construções, que é de longe a mais inovadora e talvez mais interessante inclusão de Fallout 4. Agora você pode criar refúgios para você, seus companheiros e alguns NPCs.
Esses refúgios não são apenas lugares prontos onde você fica por lá,
você literalmente pode criar o lugar usando um sistema de criação que é
quase um Minecraft dentro de Fallout… quase. Dentro do sistema de criação, você pode criar uma torre de rádio chamando NPCs
para seu abrigo, pode criar cama para eles, uma mini fazenda para
alimentá-los, criar defesa para proteger seu assentamento de ataques de
saqueadores, coisa que inevitavelmente vai acontecer. Você também
precisa criar geradores de energia, sistemas de purificação de agua e
tudo mais que você possa imaginar, desde coisas com uso prático, até
ornamentos como placas luminosas e mobilia.
O sistema de criação não fica só no
assentamento, mas também no seu equipamento, você agora pode criar suas
próprias armas com base em outras armas. Você pode pegar sua Pistola Laser e trocar o Agitador de Fótons
dela por um maior, que vai causar mais dano, mudar a coronha por uma
diferente que causa menos coice, mudar o bico da arma para uma lente
amplificadora que transforma sua Pistola Laser em uma Shotgun Laser e
por aí vai. Obviamente, tudo que você pode criar, depende de material e
esse material é conseguido com o lixo que você coleta durante o jogo, o
que finalmente deu um objetivo para toda essa loucura de lixo que tinha
nos jogos anteriores.
O modo de criação de armaduras é um pouco decepcionante, tanto as Power Armors
quanto as armaduras normais carecem de variedade visual, por isso se
você quiser um personagem visualmente mais estiloso você deve acabar
focando em usar os trajes prontos do game, que não oferecem nada ou
muito pouco de defesa, mas são visualmente legais. Mas ainda assim, eu
já vi muitos jogadores em streaming usando os mesmos tipos de traje,
basicamente o traje de Skellog e o traje de General dos Minutemen, justamente por não ter muitas opções, coisa que em Skyrim, por exemplo, era abundante.
A variedade de missões por outro lado é enorme, Fallout 4
está longe de se manter no lugar comum de missões básicas e sem
imaginação onde você tem que ficar fazendo favores para NPCs para
conseguir avançar um pouco mais em sua busca, até porque tudo pode ser
morto em Fallout 4, então digamos que se nós estivéssemos essa mecânica The Witcher 3 e o Barão Sangrento
nos pedisse para lhe fazer um favor para então contar onde está a Ciri…
bem, era só apontar uma arma para cabeça dele e espalhar seu cérebro
pelo cômodo e achar alguma chave no corpo dele que abra alguma gaveta
com um diário onde a informação está escrita. Em Fallout 4
nós somos muito mais ativos do que em outros RPGs de mundo aberto onde
somos passivos. Aqui nós precisamos pedir favores e não cumprir favores,
pelo menos não na maioria dos casos.
Não sei se por isso, ou se é pelo fato da Bethesda
ter um monte de gente excepcional escrevendo e desenhando o jogo, mas
algumas missões são extraordinárias e alguns eventos comuns e aleatórios
no game também são brilhantes e surpreendentes. Não pense que você vai
ficar apenas no lugar comum de passear pela “Comunidade” matando e
falando com pessoas por aí, quando você menos esperar você vai estar
enfrentando monstros gigantes no estilo Godzilla, em fases submarinas,
vai estar passeando por memórias, participando de ataques aéreos para
retomar fortes e muito mais.
Agora se Fallout 4 tem um problema, bem, talvez ele tenha dois na verdade, que são os dois clássicos problemas de jogos da Bethesda.
O primeiro dele é que em alguns momentos específicos o mundo do jogo é
tão grande e há tantas coisas pequenas a se fazer nele que o jogo acaba
ficando um pouco sonolento. Não se espante se depois de momentos
incríveis você se pegar dormindo com o controle na mão por ter que
passear pelo mapa para encontrar alguma sucata especifica para criar
algo importante na sua base. O outro problema são os clássicos bugs da Bethesda.
Fallout 4 está tão bugado quanto todos os games da Bethesda estão, o jogo vai travar, NPCs
não vão fazer o que deveriam e você não vai conseguir completar a
missão, missões vão falhar porque de repente você deu alguns passos a
mais do que deveria em certo momento e isso engatilhou algo que não
deveria acontecer e por aí vai.
Comigo, dois bugs foram especialmente frustrantes, ambos com companions do jogo. O primeiro bug foi com a Piper, em um belo momento onde eu caminhava em uma daquelas partes sonolentas do jogo pelos arredores da Boa Vizinhança, Invasores
nos atacaram, e quando eu pude perceber uma guerra tinha estourado
entre Invasores e Ghouls e eu estava no meio e decidi fugir de lá, mais
por impaciência com aquela guerra sem propósito e menos por segurança,
mas Piper, minha companheira, por algum motivo decidiu ficar e lutar, o que é normal, as vezes o NPCs se perdem de você, mas depois eles aparecem. Só que Piper
não apareceu mais. Eu fui até minhas bases, troquei de companion e a
ordenei à distancia a ir para um de meus assentamentos e nada, Piper
simplesmente desapareceu. Até que dias depois eu por acaso sem nem mais
lembrar de sua existência, por sorte a encontro próxima do lugar onde
eu a perdi… presa em escombros do jogo e numa jogada frustrante de
seguir e guiar através de comandos eu consegui depois de 10 minutos
tirar ela de lá e recuperá-la a minha equipe.
O segundo bug foi com Strong,
antes dele virar companion nós temos que resgatá-lo junto de um locutor
de rádio, de uma cela onde eles estão presos no topo de um prédio, isso
depois de matarmos um líder de Supermutantes e pegarmos de seu corpo
uma chave. Eu, porém, quando peguei a chave simplesmente abri a porta e
libertei os dois antes de conversar com eles. Depois segui a missão que é
uma enorme descida por elevadores externos enquanto enfrentamos hordas
de Supermutantes nos andares. Durante a descida eu falei com os
personagens e percebi que eles falavam como se ainda estivessem preso na
cela, apesar de já estarem descendo no elevador. Quando terminei,
depois de muita luta e uma longa descida, chegou a hora de falar com os
dois novamente para concluir a missão e bem… eles estavam travados, pois
a sequencia certa de eventos era eu conversar com eles antes de abrir a
porta e não depois. O que eu tive que fazer? Subir tudo de novo por
escadas, enfrentando mais supermutantes, fechar e abrir a maldita porta
para a quest destravar e então descer tudo de novo e falar com eles.
Extremamente frustrante e dá uma péssima impressão ao jogo.
Os bugs de games da Bethesda deixaram de ser bonitinhos e compreensíveis pra mim na geração anterior, ver um jogo como Fallout 4 tão bugado no meu Xbox One / Playstation 4
me parece negligencia. Agora, isso estraga o jogo? A resposta é
simples, enquanto esses bugs provavelmente fariam qualquer outro jogo se
tornar detestável, Fallout 4 é tão incrível que mesmo com essa quantidade absurda de bugs, tudo parece apenas um arranhão em uma bela gema reluzente.
Agora sabe aquela pergunta que está todo
mundo se fazendo: “Fallout 4 é o melhor jogo do ano?”. Bem, é difícil
afirmar isso num ano que teve The Witcher 3, Metal Gear 5 e até Bloodborne, mas… a quem eu estou enganando, pra mim pelo menos Fallout 4 apesar dos problemas técnicos, come todos esses jogos no café da manhã e nem pega radiação.
NOTA 9,8