A Lenda de Korra – Livro 4 | Crítica


Uma coisa é fato sobre essa temporada de A Lenda de Korra, ela começou melhor do que terminou. Os primeiros episódios da 4° e última temporada, também conhecida como Livro 4 – Equilíbrio mostrou um potencial extraordinário que foi se perdendo ao longo dos episódios. O problema emocional de Korra, a volta de Toph e a vilania interessante de Kuvira foram promessas que não se concretizaram tão bem quanto prometiam no início.

Outras coisas, entretanto, como a volta de Varrick e Zhu Li, e o Príncipe Wu terminaram muito melhor do que era esperado.

Acontece que seja lá quais expectativas foram levantadas para essa 4° temporada era realmente complicado bater a qualidade tanto técnica quanto temática e visual da 3° temporada, parte disso porque Zaheer era um vilão desproporcionalmente bom, enquanto Kuvira parecia ser ainda melhor quando ela era a Grande Unificadora nos primeiros episódios, ela acabou virando só mais uma vilã com objetivos de conquista e pouca motivação. O último episódio, alias, a última cena de Kuvira especificamente tenta redimi-la um pouco com toda a história de “fiz isso pelo meu povo”, mas o discurso dela não é compatível com a sede de sangue que ela aparentou ter a ponto de tentar matar seu próprio noivo dois episódios antes.

Bryan Konietzko perdeu a sua chance nessa quarta temporada de criar uma vilã que elevasse o nível de todas as animações atuais, não que Kuvira seja uma decepção total, ela ainda é interessante, seus objetivos são interessantes e seu estilo de luta preciso e frio é muito cool, mas no fundo enquanto Zaheer era um dobrador de ar que despertou segredos da classe que só o Guru Laghima sabia, ela é apenas uma dobradora de metal megalomaníaca que não consegue aguentar uma luta de igual pra igual com Korra, mesmo quando a Avatar estava fraca e sem seus poderes completos e Grande Unificadora claramente levou a melhor, a luta ainda não foi fácil.

Mas também fica óbvio o tempo todo que para Korra pelo menos, o grande vilão da temporada nunca foi Kuvira, foi ela mesma. É até interessante como os 3 vilões anteriores e os medos que eles infringiram em Korra são constantemente lembrados, na verdade o próprio Zaheer aparece em carne e osso (e cabelo e barba que crescem bizarramente rápido) falando sobre isso para Korra, e é um dos melhores momentos da série, ver a nossa atual avatar se liberando de seus medos com a ajuda de seu até então pior inimigo.

O meu foco nesses primeiros parágrafos foi em Kuvira por um simples motivo, desde a primeira temporada da série são os vilões que ditam o ritmo do ano, e essa quarta temporada exatamente como a vilã teve seus altos (o inicio) e seus baixos (o meio e alguma parte do final). Por sorte A Lenda de Korra também se vale de ter ótimos personagens e esse ano especificamente foi dominado pelo ÓTIMO lado cômico da série, com Bolin que é o grande coração da trama e Varrick e Zhu Li roubando a cena em diversos momentos, mas até mesmo o Príncipe Wu, que começou como um personagem desprezível (houve comparações com o Jar Jar Binks a principio) se tornou um ótimo personagem no final da série arrancando algumas boas e genuínas risadas.

Há também que se elogiar a falta de nostalgia e o excesso de confiança que os showrunner tiveram esse ano, por mais que Toph, que por acaso é a minha personagem preferida da franquia Avatar tenha aparecido logo de cara com o seu clássico “Twinkle Toes”, muito pouco sobre Aang e sua turma foi explorada, Toph foi usada principalmente para dar base nas histórias de suas filhas do que como uma ancora nostálgica na série mais famosa e isso foi bacana porque provou que Korra não precisa de Aang para funcionar e pode andar com suas próprias pernas, mas eu confesso que fiquei esperando em algum momento, mesmo que fosse só em uma mínima cena, ver os velhinhos Toph, Katara e Zuko juntos mais uma vez e provavelmente pela última vez.


Considerando que essa temporada foi o fim da série, há algumas coisas que eu particularmente gostaria de ter visto mais, além do encontro dos velhinhos que eu mencionei acima. Um exemplo disso é todo o lance de Dobradores de Ar Jedis que foi insinuado no final da 3° temporada e meio que apresentado no inicio dessa com o episódio focado em Kai e Opal. Eu gostaria de ver mais especialmente sobre Jinora, que é a única dobradora de ar além de Tenzin que ganhou suas tatuagens, ela se juntar ao Time Avatar nessa temporada não teria sido nada mal, especialmente quando Mako é um personagem completamente descartável na equipe. Mas falando em Time Avatar, esse “time” mal merece ser chamado assim, desde a primeira temporada que Asami, Korra, Bolin e Mako nunca tiveram a mesma coesão e química de Aang, Katara, Toph e Sora e nessa última temporada a coesão ainda foi menor do que antes, porque em uma grande parte da temporada eles mal aparecem juntos.

A série esse ano também teve algumas dificuldades financeiras, um dos capítulos como você deve ter percebido incorporou o estilo Naruto e mostrou reprises de episódios anteriores em forma de memorias, o famoso “episódio de clipes” que tem em diversas séries. A explicação para isso foi simples, a Nickelodeon cortou a verba da equipe e por isso eles não tinham grana o suficiente para fazer a quantidade de episódios que eles queriam e isso foi resolvido dessa forma, o problema aí foi o péssimo timing, esse episódio caberia em quase qualquer lugar da temporada, por isso ele poderia ser lançado mais no inicio dela e não no final, bem no meio da ação que acabou sendo uma pausa enorme no meio da história e uma terrível quebra de ritmo. Em determinado momento eles disseram que a opção era isso ou um episódio a menos, eu acho que preferia um episódio a menos.

O último episódio em si trouxe algumas coisas bacanas em tela, todos os dobradores de Republic City se unindo para matar um robô gigante não é algo a se desprezar, a resolução entre Korra e Kuvira no mundo espiritual foi legal, ainda que anticlimática, mas os momentos finais e mais pessoais entre as duas foram ainda melhores.

Depois da ação em si, os momentos entre Korra e Tenzin foram especialmente interessantes, Korra pode não ter o mesmo carisma de Aang, mas ela é com certeza uma personagem mais profunda que ele. Mas possivelmente o momento mais emocionante do final é o casamento de Varrick e Zhu Li, onde Bolin perfeitamente finaliza a cerimônia com “façam a coisa”.

Agora o que dizer sobre aquele final, aquela última cena, uma cena que não mostra nada de especial para uma criança incauta assistindo a série sem influencias externas, mas para quem acompanha toda a discussão sobre A Lenda de Korra online há muito a que se discutir ali, e Bryan Konietzko é uma criatura 100% online, por isso ele sabia exatamente o que ele estava fazendo, aquela cena mostra algo que a Nickelodeon dificilmente teria coragem de mostrar mais claramente, ela é dúbia o suficiente para não ser censurada pelo canal infantil e óbvia o suficiente para nós sabermos que a #korrasami realmente aconteceu.

Eu particularmente não sou adepto da #Korrasami, em nenhum momento da série antes Korra pareceu ser lésbica ou mesmo bissexual e em nenhum momento até essa temporada ela e Asami pareceram ter um vinculo tão forte assim, nessa quarta temporada o vinculo delas se fortaleceu, mas isso sinceramente me pareceu forçado, mas vamos falar a verdade... qual seria a outra opção, Korra e Mako? Mako é um dos personagens mais chatos da franquia e assim como na primeira temporada de Agents of S.H.I.E.L.D. essa temporada de Korra achou que falar que um personagem é incrível faz dele incrível... desculpe, vocês podem dizer isso mil vezes, mas Mako não é incrível, Bolin por outro lado é incrível, mas isso nunca é dito.

Então eu fico feliz com a escolha, Korra e Asami são grandes personagens e ainda que não tenha ficado 100% claro um romance, a escolha é tão ousada que compensa o fato dela não fazer tanto sentido quando parece, e afinal, era isso que os fãs queriam, foi um fanservice da melhor categoria, eu mal acreditei quando vi que Bryan Konietzko incorporou a Zhu Li e “fez a coisa”.


Agora me perdoem se eu não estou escrevendo textos extremamente apaixonados sobre o quanto A Lenda de Korra elevou o padrão dos desenhos infantis, porque em termos a série como lidou com temas políticos complexos, Star Wars – The Clone Wars sempre foi muito mais além, a série era completamente subversiva e isso não parece ter mudado muito o cenário das animações atuais, veja Star Wars Rebels que é um retrocesso de tudo que Clone Wars pavimentou do inicio ao fim. Sobre tramas complexas, bem escritas e com bons vilões, bem... houve uma animação chamada Young Justice e era incrível. Sobre o romance lésbico entre as protagonistas, bem, a situação ficou dúbia, mas de qualquer forma, formar um romance entre Korra e Asami nos últimos 30 segundos da série é só um fanservice, é um grande, bonito e corajoso fanservice que eu especialmente gostei, como eu disse acima, mas é só isso e não deve mudar nada em cenário algum, a situação não foi óbvia o suficiente para mudar, não houve beijo, não houve declaração de amor, não houve uma construção de um romance, não houve nada... sinceramente, vocês jogaram/assistiram o DLC Left Behind de The Last of Us? Algo como aquilo poderia mudar o cenário atual, aquilo foi lindo, tocante e ousado, nada parecido com o final de Korra.

No fim A Lenda de Korra não foi uma série tão boa quanto O Último Mestre do Ar e eu realmente acho um pouco menos incrível do que todos veem dizendo, mas ela não ser a obra prima que todos pintam por aí não significa que não tenha sido uma grande e memorável série de TV, só não precisamos dar mais crédito do que ela merece para reconhecermos o quão boa ela é e eu espero que a Nickelodeon seja gentil o suficiente para reconhecer isso, talvez não o sucesso em termos de audiência que não teve, mas o sucesso de crítica e a qualidade da obra em geral e quem sabe dê mais uma grana extra para Bryan Konietzko fazer mais uma série da franquia Avatar.

O que vem agora? Um(a) dobrador(a) de terra, certo? Mal posso esperar.

NOTA: 8,5
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