Blame! | Crítica


Publicado entre 1998 e 2003 pela editora Kodansha, o mangá Blame!, de Tsutomu Nihei (autor também de Knights of Sidonia), e uma aula de desenho arquitetônico com excelentes dimensões e uma historia misteriosa e complexa. Ambientado em um universo Cyberpunk único, a obra possui uma grande gama de personagens diferentes e vários desafios que precisariam ser enfrentados no caso de uma adaptação para qualquer tipo de mídia.

O estúdio Polygon Pictures e a Netflix decidiram enfrentar este desafio e adaptar a obra em um filme produzido totalmente em computação gráfica (algo parecido com o que o Polygon já havia feito com Knights of Sidonia e Ajin). O filme contou com roteiros produzidos por Nihei e Sadayuki Murai e os dois criaram uma historia inédita para o longa.

A sinopse oficial na pagina da Netflix destaca que o longa se passa em uma cidade controlada por maquinas destrutivas, de onde surge o misterioso e solitário Killy, um sobrevivente que luta para evitar a extinção da raça humana.

Como destaquei no primeiro paragrafo deste texto, Blame! possui uma historia complexa e sua versão animada mantem estas características. Nihei conseguiu criar uma grande e complicada mitologia durante a publicação de seu mangá e não seria possível explorar todo o universo da serie em um longa de quase duas horas, para isso o autor e Murai usaram um artificio que já existia no mangá, revelar apenas o necessário no decorrer da historia.

Mas mostrar apenas o necessário no decorrer do filme acabou sendo a principal falha do longa, como telespectador não conseguia ver motivos para me importar com os personagens de uma pequena vila por não conhecer nada sobre eles (além de saber que eles estavam com problemas de escassez de comida) e o longa nao mostra nada do cotidiano deles. Para tentar manter um tom de mistério em torno de Killy o personagem quase não fala e isso faz dele um personagem quase antipático em alguns momentos e em outros não é possível entender os motivos de suas ações. Já a androide Cibo e a única que passa as informações essenciais para o andar da trama, mas ainda assim o roteiro fica com algumas informações incompletas, falas soltas que só sevem como fanservice para quem já leu o mangá e revelações que não possuem peso na trama.

O maior ponto a favor de Blame! e a produção do CGI empregado no longa, nas cenas de ação os personagens possuem agilidade e praticidade superior do que em outras produções da Polygon Pictures. O filme não entrega toda a dimensão que o manga de Nihei possui, mas e possível ver um pouco da mão do mangaka em algumas grandiosas áreas mostradas no filme. A única coisa que incomoda um pouco e a movimentação dos personagens em cenas simples focadas em rosto ou no corpo inteiro, nestas cenas fica clara uma movimentação quase mecânica do personagem.

Blame! pode ter um CGi bem trabalhado, porem isso não é o suficiente para salvar um filme com um plot interessante mas com uma execução e desenvolvimento bem ruim, com personagem principal antipático em alguns momentos, buracos na trama e falas que só os fãs do mangá entendem. Infelizmente o filme também possui uma trilha musical muito ruim, não existe nenhuma musica que chame a atenção nas cenas calmas, nas cenas mais frenéticas ou em momentos importantes.

No geral, só posso sugerir que você busque pelo mangá de Nihel (publicado atualmente no Brasil pela editora JBC) e conheça em definitivo e de forma completa esta grandiosa e complexa obra.

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