Thor 2 - O Mundo Sombrio | Crítica
Acho que na próxima entrevista que alguém fizer com Kevin Feige, no lugar de pedirem por uma confirmação “exclusiva” de que o filme do Pantera Negra vai sair mesmo, pela milésima vez, alguém poderia perguntar: “Porque vocês desistiram?”
Thor 2 – O Mundo Sombrio representa uma clara desistência da Marvel, desistência em criar uma história que tenha qualquer tipo de coesão e por favor, não me falem “filme de super-heroi não precisa fazer sentido, eles são heróis afinal!”. O fato de Thor ser um herói extremamente poderoso é facilmente aceitável por mim, alias, toda a mitologia por trás do Thor da Marvel é melhor aceitável quando não tentam explica-la. Essa mescla de ciência e magia que a Marvel dá a Thor é de doer, mas não é disso que eu estou falando, eu estou falando do fato de todas as cenas do filme, todas mesmo, não fazem nenhum sentido lógico.
Primeiro, começamos o filme com guerras entre os 9 reinos porque a ponte Arco-íris, ou Bifrost porque por aqui não traduzem o nome, foi destruída no primeiro filme. Ok, isso não faz muito sentido, o que exatamente levou a guerra? Mas deixamos passar porque o filme precisa de ação. Depois, Loki e Odin se encontram e em diálogos mal escritos e mais do que óbvios demonstram que só a mãe de Loki gosta dele por ali, mostrando também que o sentimento é reciproco e Loki gosta de alguém. Até então que chega a hora de a Marvel exigir demais de nossa suspensão de descrença e ela coloca Jane Foster para encontrar o Aether. Sério... Jane Foster encontra uma Gema do Infinito que é uma arma poderosíssima dos Elfos Negros, inimigos de longa data da família real Asgardiana, que por um acaso é a família de seu namorado Deus Alienígena. Coincidência demais? Ainda não... porque ela encontra esse artefato dias antes de uma convergência entre os 9 reinos que só acontece de 5 mil em 5 mil anos. Coincidência o suficiente? Sim, mas espera até você ver como o Loki entra na jogada...
Alias, a partir de agora haverão alguns Spoilers bem leves do filme, mas não se preocupe, não acontece nada importante no filme inteiro mesmo.
SPOILERS LEVES:
Chris Hemsworth é um bom ator, ele tomou o Thor para si como Robert Downey Jr tomou o Homem de Ferro/Tony Stark, mas não há dúvidas de que o carisma do filme é todo de Loki. Simplesmente Tom Hiddleston é hoje a pessoa mais importante para a Marvel ao lado de Kevin Feige e Joss Whedon. Ele tem um ótimo personagem, é um ótimo ator e é hoje o grande boa praça e show-man da Marvel. Além disso, é uma das pouquíssimas coisas boas de Thor 2 – O Mundo Sombrio, contudo, se ele é bom, a forma como ele entra na trama é péssima.
Não poderia haver modo mais forçado de trazer Loki para a história do que Thor tentando desafiar uma arbitrariedade de roteiro, alias, de Odin, que muito sabiamente, diga-se de passagem, prende Jane Foster em Asgard esperando que os poucos elfos negros tentassem invadir o local novamente para então destruí-los. Thor, numa atitude retardada desafia isso e leva Jane até o planeta de nome impronunciável dos Elfos Negros, para que Malekith tire o Aether de dentro dela e assim ele possa destruí-lo.
Aí começam um show de coisas nonsense acontecendo, mas antes de ir para o show, vale dizer que os Elfos Negros momentos antes viajaram muito para chegar a Asgard e perguntar onde estava o Aether, então quando dizem a Malekith que não vão falar ele simplesmente fala “Ok, então vou embora”... como assim? Eles estavam ganhando a invasão, porque ir embora?
Mas vamos ao show de nonsense.
De acordo com a cena pós-créditos, Sif e Volstagg sabem que o Aether é uma Gema do Infinito, algo ridiculamente poderoso e virtualmente indestrutível, não destruíram o artefato 5 mil anos antes e eles nem tentam destruir com calma depois, simplesmente entregam ao personagem de Benicio Del Toro, O Colecionador. Thor aparentemente não sabe, ele acha que vai conseguir destruir o Aether lançando raios e trovões nele e arrisca não só sua vida, mas a de Jane por essa intuição de que isso funcionaria.
Heimdall ajudou Thor, Jane e os outros em tudo nessa fuga de Asgard, mas não permitiu que eles usassem a ponte bifrost, porque? Ele já tinha cometido traição mesmo.
Como Heimdall não deixa eles usarem a ponte, alias, não é que ele não deixa, todo mundo parece ter esquecido que a ponte existia, Thor simplesmente diz que tem que usar um caminho alternativo já que Odin não permite que usem a ponte e fala que apenas Loki sabe caminhos alternativos para sair de Asgard.
Claro, leve a pessoa que te traiu diversas vezes, que fez contrato com uma raça alienígena para cometer um genocídio e escravizar um planeta inteiro, com sua namorada humana e frágil para o encontro com um exército que quer destruir o universo e esse encontro é justamente para entregar a arma que esse exército precisa... Thor, você é um “jênio”!
Obvio que a entrada de Loki na trama deixa tudo melhor, ele é divertido e seus diálogos são tão bons que nem parecem terem sido escrito pelo mesmo “roteirista” (tem que ser em aspas) que escreveu o resto da trama. Em especial ele traz coisas interessantes como a “participação” de outro vingador no filme, o que é hilário.
A cena com o personagem e com Thor no planeta dos Elfos Negros é simplesmente genial, um plot-twist interessante, diferente do Mandarim Malandrim do Homem de Ferro 3, depois do plot-twist interessante tem outro plot-twist, menos legal e que tira um pouco da graça do anterior, mas ainda assim é empolgante ver o desenrolar daquilo.
No fim, OBVIO que o plano retardado do Thor daria errado e Odin com certeza deve ter se envergonhado de ter pensado em dar o trono dele a esse imbecil e não ao Loki. O que leva ao terceiro ato, completamente anticlimático.
Alias, a ação não é o forte de Alan Taylor, diretor do filme, ele parece preferir se focar muito mais na ambientação e até no humor do que na ação, que jamais, em nenhum momento é empolgante, especialmente no fim.
Mas falando em humor, acho que depois do Loki em si, o humor é o único acerto do filme. Darcy, a One Broke Girl, Kat Dennings está ótima nessa sequencia, um pouco menos on fire do que no primeiro filme e por isso mesmo melhor. Erik Selvig também parece ter sido pego para alivio cômico do filme e sua interação com Stan Lee é uma das mais engraçadas. As Gags visuais como Thor no metro também são maravilhosas para quebrar o ritmo... chato do longa.
Alan Taylor também parece um exímio jogador de Portal, vejam o filme que vocês vão entender.
Antes de terminar e falar do final do filme, vale falar que Malekith é um vilão pavoroso. Sua intenção? Usar o Aether para destruir o universo... porque sim... ok, ele tem uma desculpa, mas é tão idiota que seria melhor dizer “porque sim”. Ele tentou fazer isso 5 mil anos atrás, mas como não conseguiu, ficou 5 mil anos esperando até que Jane encontrasse a coisa, a coisa que ele achou que nem existia mais só para constar. Imagino que os elfos negros inventaram diversos jogos de baralho para passar todo esse tempo atoa, em um planeta feito puramente de pedra e de nada... sem nenhuma previsão para o futuro.
Agora no final do filme, Jane usando sua “Ciência de Qualquer Coisa” consegue criar uma arma de portal usando umas varetas com um relógio em cima que estava com o Dr. Selvig e seu Tablet e entrega tão arma ao Thor, arma essa que aparentemente é muito mais útil do que o Martelo indestrutível que solta raios e trovões e que foi feito do coração de uma estrela por um Deus anão.
O filme acaba como começou... sem nenhum sentido.
Ahhh só para constar, a trilha sonora do filme é ótima, em especial nas boas cenas em que Alan Taylor exercita sua surrealidade fazendo Jane interagir com o Aether, mas ao mesmo tempo em que ela é boa, varias vezes ela me lembrou da trilha sonora de outros filmes, especialmente a trilha sonora de A Origem.
Eu lembro que minha nota de Homem de Ferro 3 é muito maior do que o filme merecia, havia a empolgação de ver o inicio da fase 2 da Marvel, empolgação mesmo com todos os problemas do filme, mas não cometerei esse erro com Thor 2 – O Mundo Sombrio, a empolgação pela fase 2 acabou depois de Homem de Ferro 3 e diminuiu ainda mais agora. Ao menos, o trailer de Capitão América 2 é sensacional, o que pode (ou não) significar um filme sensacional. Guardiões da Galáxia é um conceito absurdamente interessante e Homem Formiga está há muitos e muitos anos na cabeça de Edgar Wright, o que significa que ele deve saber o que está fazendo... e Os Vingadores 2 – A Era de Ultron... dizer o que, né? Joss Whedon de novo. Pelo menos, agora eu acho que o pior já passou.
