Gilmore Girls - 1° Temporada | Crítica

Pode parecer estranho, mas Gilmore Girls é uma daquelas obras que definiram a minha personalidade, a Rory Gilmore teve uma vida semelhante a minha, sem tentar ser arrogante por isso, mas ao menos com as mesmas intenções e com os mesmos gostos. Na verdade, meu gosto foi muito aprimorado pela série, comecei a ler avidamente literatura russa clássica, Gogol, Dostoievski, Tostoi, literatura americana clássica, até Marcel Proust e seu (chatíssimo) Caminho de Swann eu li. Tudo para me afinar com as milhares de referencias que a série tinha. O gosto de Rory por política externa era uma das coisas que me fascinava na adolescência, era algo que eu adorava e que afinou também meu gosto para o jornalismo, ou seja, é um daqueles muitos fatores que me levaram a criar o EdenPop, assim como outras coisas, Gilmore Girls é, indiretamente, uma das razões do EdenPop existir. PLUS eu sempre quis casar com a Rory ou com alguém parecida com a Rory na vida real... não existe é claro.


É claro que a ideia de falar sobre Gilmore Girls hoje vem em homenagem ao dia das mães, assim como a Rory eu fui criado apenas por minha mãe, que assim como a Lorelai é também uma mãe incrível, talvez a minha não seja tão engraçada e cheia de referencias, mas é real enfrentou a vida real e por isso é mais incrível.


Infelizmente os personagens masculinos dessa primeira temporada são absolutamente unidimensionais, Tristan Dugray e Dean são pavorosos, com certeza os dois piores personagens de Gilmore Girls EVER, pelo menos entre os que têm destaque. Michel é o único bom personagem masculino, mas a masculinidade dele é questionável, não que isso seja um problema, mas perdemos o ponto aqui, não é? Luke não tem tanto espaço e carisma como ele ganha nas temporadas posteriores, então é difícil falar. Max é legal, mas meio que só tem força como “par romântico” do que como qualquer coisa. A proposito, Jackson é só um “Crazy Person” assim como o Kirk, que antes é chamado de Nick e Mickey antes de definirem um personagem para ele e acertarem sua personalidade para ficar fixo na série.


Todas essas pessoas mencionadas acima, e outras ainda, vivem em Stars Hollow, uma cidade interiorana que foi fundada em 1779 e tem pouco mais de 9mil habitantes, ao menos é isso o que dizem aquelas loucas placas que estampam pequenas cidades americanas, como se essas informações fossem fazê-las maiores ou mais importantes do que são. E Stars Hollow é uma dessas cidades pequenas e arrogantes, cheias das manias e dos eventos que são “os maiores” da região, contudo se formos pensar a única coisa que Star Hollow ganha de todos, até de Springfield, é na quantidade de loucos carismáticos que lotam as ruas.


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Mas apesar de Stars Hollow ser uma das três protagonistas da série, uma das mais complexas de se entender, veja o nome da loja do Luke, por exemplo. São mãe e filha que dominam essa primeira temporada. Mãe, filha e a inteligência brilhante para construir diálogos e referencias de Amy Sherman-Palladino. Palladino é praticamente o Woody Allen da televisão para fazer diálogos, uma pena que nenhum outro projeto dela emplaque como GG emplacou, pois ela é incrivelmente talentosa para isso, um filme dela seria memorável.


O texto de Palladino tem coisas que vão a insultos bíblicos, Platão até bandas indies da época, que hoje morreram no meio do Neo-indie/Hipster que domina o segundo plano musical. Além é claro de muita literatura clássica, comida e “americanisses”.


O "episódio do Golfe", ou o 3° chamado Kill me Now, é um clássico para se entender como são os diálogos da série.


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(situação, jantar em família com os Gilmores, onde Rory diz que tem que fazer algum esporte em sua nova escola)


Eu disse que ela deveria participar do grupo de debates. – Lorelai.


Debate não é um esporte. – Rory.


É sim, é o que os Gilmore jogam. - Lorelai”


(Quando ela “escolhe” Golfe, Emily, a avó de Rory solta uma nova pérola)


Você pode usar os tacos da sua mãe, estão lá em cima acumulando poeira com o resto do potencial dela. – Emily.


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A série também é capaz de criar suas próprias lendas como se fosse um mundo de fantasia literária, veja o “Al do Mundo das Panquecas”, lugar que é mencionado diversas vezes sem nunca aparecer, ou a lenda da criação da cidade e essas coisas, se essa primeira temporada tem algum defeito, nenhum parte da habilidade de Amy Sherman-Palladino de criar coisas.


Eu só tinha assistido a série em minha adolescência, embora eu tenha crescido com os personagens, eu temia que não fosse gostar do que assistiria agora, mas apesar de enxergar hoje um defeito que eu não via antes, ela ainda é uma das coisas mais bem escritas que eu já vi na TV. O problema dessa primeira temporada e um pouco da série em si, é a falta de proposito dela, os personagens tem seus desejos e vontades, mas nunca parece que nada está fluindo até lá, as coisas estão, mas não parecem, pois tudo é secundário. Não é um sitcom, mas em momentos parece ser um, isso por conta de sua própria trama. Mas eu prefiro considerar que é um retrato de um momento da vida dessas duas mulheres brilhantes.


A trama:


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Lorelai vem de uma família rica, os Gilmore, mas ela engravida aos 16 anos e decide abandonar sua família e seu dinheiro, pois estes não dão apoio a ela com a gravidez. Então sai de Hartford e vai para Star Hollow, trabalhar no hotel com nome nada relacionado Independence Inn. A série começa 16 anos após isso, quando Rory que tem o sonho incontrolável de ir para Harvard, é aceita em Chilton, uma escola importantíssima de Hartford e que vai com certeza aumentar as chances dela ir para a Harvard.


“Há uma grande chance de você falhar, o que não é um problema, falhar faz parte da vida, mas falhar não faz parte de Chilton. – Reitor de Chilton para Rory.”


Contudo, Lorelai não tem dinheiro o suficiente para pagar a escola, então firma um trato com seus pais, Emily e Richard Gilmore, com quem tem uma péssima relação, para pagar Chilton em troca de jantar com eles toda sexta-feira.”


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Então basicamente a série é sobre isso, Rory estudando para tentar ir para Harvard um dia, Lorelai trabalhando para montar, com Sookie, seu próprio Hotel e é claro, os clássicos jantares de sexta-feira a noite.


A falta de história é compensada não só pelo roteiro de diálogos brilhantes, mas também pelos personagens incríveis (não mencionei ainda, mas a Paris Geller, por exemplo, é um personagem absurdo, embora melhore ainda mais, antes de piorar no decorrer da série) e dos atores maravilhosos que os interpretam. Nesse ponto ninguém ganha de Lauren Graham, a atriz que é sempre medíocre nos cinemas em todos os filmes que ela faz, interpreta a Lorelai como ninguém mais conseguiria, Lorelai é a pessoa mais incrível do mundo e ao mesmo tempo é real demais, seus trejeitos, a forma como ela fala rápido, mas com verossimilhança... enfim, Lauren Graham tem tudo que todas as atrizes de TV gostariam de ter, habilidade e um personagem para mostrar tal habilidade, pena que ela nunca mais conseguiu repetir sua façanha em outra série ou filme.


Só para constar Melissa McCarthy é realmente incrível, a forma como ela faz Sookie (tirando o piloto onde ela está horrível) me faz entender todo o sucesso que ela tem hoje, com certeza de todos do elenco ela é quem chegou mais longe e teve uma carreira mais bem sucedida até agora.


A Alexis Bledel vive a personagem que tanto me inspirou como eu disse (mesmo eu gostando mais da Lorelai), mas o talento dela é menor do que a das duas mencionadas acima, sem contar que na vida real Bledel é completamente insossa e eu diria até chata, difícil pensar como alguém assim fez um personagem tão bom.


Enfim, Gilmore Girls é em sua primeira temporada, uma série sem propósito e que parece que não sabia para onde ir, mas ainda assim já dava sinais de que seria uma pérola da TV.


Eu queria fazer algo especial para o dia das mães, então nada melhor do que uma série que remetia tanto a mim quanto a minha mãe, eu temia rever e estragar uma parte da minha adolescência, com algo que pudesse não ser tão bom hoje, mas como eu disse, apesar de encontrar defeitos que eu não via antes, Gilmore Girls ainda é uma das minhas coisas preferidas e acabou de deixar de ser apenas um especial dia das mães, para virar uma maratona da série e um especial sobre a série e sobre Amy Sherman-Palladino, que seguirá através dos próximos meses com mais críticas e matérias sobre ambas.


 
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