The Newsroom – 2° Temporada | Crítica
The Newsroom é uma série diferente em vários quesitos, mas no principal é em sua estrutura e em como essa estrutura funciona melhor, nesse quesito é única, pois ela é a única grande série atual que funciona melhor sendo episódica do que recorrente, infelizmente, essa segunda temporada não foi nada episódica, exceto em seus melhores momentos.
O primeiro episódio da série, na primeira e genial temporada, foi um singelo conto sobre a forma como o “Quarto Poder” está enfraquecido, como as pessoas são estúpidas e tudo envolto a um conflito sobre um vazamento de petróleo que na verdade nada mais é do que outra analogia para o que está se falando. Os episódios a seguir, especialmente o episódio Fix You, um dos melhores da série, continuam rebatendo a questão cada vez com um pano de fundo diferente que nos exemplifica melhor o que está sendo falado, mas infelizmente, talvez pelas muitas críticas, Aaron Sorkin, mudou isso.
Na segunda temporada de The Newsroom as questões importantes do jornalismo ainda são debatidas, mas com uma diferença, elas não estão mais diluídas em contextos interessantes e por natureza da profissão, variáveis. Elas estão diluídas (e muito diluídas dessa vez) em uma mesma história e em uma mesma dinâmica pessoal e isso enfraqueceu demais a série.
Começamos mal a segunda temporada desde cara com Sorkin nos prometendo em um Flash-Foward algo que nunca entrega, uma Maggie perturbada com acontecimentos que se deram com ela na África, o próprio Sorkin se considerou pouco criativo nessa segunda temporada e ela teve vários problemas internos, como um episódio a menos para dar um exemplo, e esse bloqueio criativo fica claro porque pelo menos os dois primeiros episódios não tem absolutamente nada a apresentar, exceto o prólogo em Flash Foward que promete que as coisas vão esquentar em episódios posteriores.
As coisas eventualmente esquentam, porque com Jim saindo do Newsnight para ir para New Hampshire, querendo se afastar de Maggie, ele é substituído por Jerry Dantana, um produtor sênior de Washington que é ambicioso e recebe uma dica que pode “Fazer carreiras e acabar com presidências”. A dica é que na operação Genoa, o governo americano usou Gás Sarin em civis para uma extração de soldados capturados.
Isso não podia ser mais atual, pois em um golpe de... sorte (?), o mundo inteiro está testemunhando o poder do que o uso de Gás Sarin pode fazer no mundo, já que a Síria, durante essa segunda temporada, usou (agora comprovadamente) o mesmo gás descrito na série na sua própria população e isso pode iniciar mais um guerra.
Na série, a investigação sobre a operação Genoa toma toda a segunda temporada, o que deixa ela um pouco repetitiva e sem novidades, o que bate de frente com o jornalismo, que em si significar levar novidades (News) para as pessoas. Mas as notícias e a forma como elas são produzidas eram apenas um dos pontos fortes da série, o outro, são os personagens.
Os personagens de The Newsroom são extremamente fortes, justamente por não serem estereótipos de jornalistas conhecidos e por terem vários ângulos, mas apesar da tridimensionalidade deles, todos eles possuem uma leveza que contrasta com a gravidade de daquilo com que eles lidam no dia a dia. Nesse caso, isso é um ângulo criticado da série, mas que eu adoro (eu sou assim, meu sócio é assim e a maioria das pessoas com quem eu trabalho são assim), ainda que eu saiba que isso limita um pouco o que a série é, e o que ela pode ser em questões dramáticas.
No quarto episódio, quando finalmente vemos Maggie na África e o que acontece com ela, fica o gosto amargo de saber que aquilo poderia ter sido um episódio de um Thriller político e jornalístico, mas não foi porque... tem a Maggie e a Maggie é a menina mais doce, inteligente e engraçadinha do mundo, não importa a situação. Nem mesmo todo o trauma que ela sofre nesse episódio tem o impacto que deveria ter, exatamente porque é a Maggie ali. Com certeza a intenção de Sorkin era exatamente a oposta, o impacto deveria ser maior porque era com a Maggie, mas acaba que no resultado final isso se prova falho.
A maior crítica que The Newsroom recebe é sobre as mulheres da série, especialmente a Mackenzie, que por acaso é minha personagem preferida ao lado de Jim. Na primeira temporada a Mackenzie é obcecada pelo bom jornalismo, é uma produtora executiva perfeita.
[quote cite="Charlie Skinner"]A cada 10 pessoas do ramo, 8 diriam que ela é A Melhor e as outras 2 são estúpidas[/quote]
Ainda assim ela não consegue enviar um e-mail sem causar um problema... os críticos mais ferrenhos de The Newsroom (o pessoal da Fox) tomam isso como um problema porque é “irreal”, ora, eu pessoalmente conheço um Gerente de TI que já enviou um e-mail para si mesmo e causou um paradoxo de cadastro de e-mail, isso um Gerente de TI e não uma jornalista que passou os últimos 5 anos em Guerras no Oriente Médio sem contato diário com tecnologia de ponta...
Os personagens de The Newsroom são sim, seu ponto forte, pelo menos o único ponto forte que sobrou nessa fraca segunda temporada. E por mais que Mackenzie tenha sido diminuída, Jim ao menos teve muito tempo para brilhar, especialmente nos primeiros episódios onde ele estava cobrindo a campanha de Mitt Rooney numa espécie de “carreira solo”. Durante um longo tempo, Jim foi a graça da segunda temporada, pelo menos até o fatídico sétimo episódio.
Red Team III é O MELHOR EPISÓDIO DA SÉRIE... sem dúvidas, se Aaron Sorkin conseguiu fazer coisas que deveriam ser impactantes como a morte do pai do Will ser banal e inútil, e coisas como o “acontecimento na África” ser raso, em uma coisa pelo menos ele acertou a mão, nas consequências de um erro.
No sétimo episódio, eles finalmente divulgam a Genoa e como nós sabemos desde o primeiro minuto do primeiro episódio (com a velha tática do Flash Foward), a matéria é uma mentira e isso destrói o Newsnight. É interessante ver como os funcionários do ACN pela primeira vez são impactados com algo de verdade. Todos os personagens da série são dotados de uma inteligência sem par, de um idealismo e de um respeito profundo pelo jornalismo e ao mesmo tempo com aquela leveza que amortece o impacto de qualquer grande acontecimento neles, como eu mencionei acima na relação Maggie/África. Mas quando o impacto atinge a inteligência deles, o idealismo e a relação deles com o jornalismo, as coisas mudam, finalmente houve impacto real e finalmente aqueles personagens ficaram mais reais do que nunca, porque eles estão sofrendo com um erro e acho que agora todo mundo se identifica com eles.
[quote cite="Charlie Skinner"]Nós não confiamos mais em ninguém e ninguém confia mais no nosso trabalho.”[/quote]
Os dois episódios finais, seguidos do Red Team III não mantêm o mesmo nível de qualidade, mas retrabalham as consequências de como lidar com um erro tão grande, a forma como eles lidam com o erro é muito sensata e coerente com a essência de cada personagem. Mesmo os personagens menores e os mais novos lidam de forma digna com o ocorrido, o que prova que apesar do bloqueio criativo de Sorkin, ele ainda é um grande escritor.
Alias, já que eu mencionei novos personagens, vale dizer que junto de Jim, Maggie, Will e Mackenzie (e do resto), temos Hallie Shea (interpretada pela filha de Meryl Streep, Grace Gummer) a nova namorada de Jim e temos principalmente Rebecca Halliday, advogada genial interpretada pela vencedora do Oscar Marcia Gay Harden, dentre outros.
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Os personagens de The Newsroom que nos fizeram amar a série continuam intactos, alias, estão ainda mais reais depois de Genoa e mais resolvidos pessoalmente depois desse final de temporada, mas as tramas e todo o resto que a série tem de melhor, estão apenas na primeira temporada. A essa altura, a terceira foi confirmada e sabemos que Aaron Sorkin ama escrever histórias de tribunal e que a HBO não contratou Marcia Gay Harden para ser advogada atoa, então vamos esperar algo brilhante para a terceira temporada e aceitar que essa segunda foi só uma marcha lenta e não um sinal de que algo está quebrado.