O Fábuloso Destino de Amelie Poulain | Crítica
Dificilmente
eu consigo pensar em um filme mais magnífico do que Amelie Poulain,
desde seus créditos iniciais e mesmo antes dele, Amelie Poulain exala
beleza e candura. Com quase 15 minutos apenas de narração e com um pouco
de quebra da quarta parede a introdução da obra suprema de Jeunet é uma
das coisas mais lindas que o cinema já viu.
Desde o inicio o diretor faz questão de
apresentar o tom do filme, que é basicamente um filme sem caminho e sem
gênero, é um filme sobre um personagem, sobre relações e sobre a beleza
da vida. Alguns confundem o filme com um romance ou uma comédia,
entretanto isso seria resumir uma obra incrível em apenas uma de suas
muitas facetas.
A cenografia do filme é incrível, o
ambiente do Deulx Moulains é um belo parque de diversão, ou quem sabe um
hospício temporário visto que todos os personagens que entram no café
são da melhor forma possível, completamente malucos, alias, todos os
personagens mostrados no filme tem algo de extremamente peculiar, para
começar a própria protagonista.
A senhorita Amelie Poulain é
provavelmente a personagem mais apaixonante já criada nos cinemas e não
apenas por sua personalidade absurda, mas também pela caracterização
simpática de Audrey Tautou que está incrivelmente carismática em sua
personagem definitiva, Amelie/Tautou têm o sorriso mais meigo já exibido
nas telonas na última era e uma personalidade que no mínimo é
indiscutivelmente cativante.
Além de Tautou, Dominique Pinon retorna a
parceria com Jeunet, dessa vez tão carismático quanto sempre, mas sem o
mesmo espaço, vivendo apenas um dos fregueses excêntricos do Deulx
Moulains. O restante do elenco também capricha nas interpretações, com
destaque especial para Jamel Debbouze (que recentemente apareceu no 360
de Fernando Meirelles.), que está incrível e Isabelle Nanty com sua
debilitada Georgette.
O roteiro de Guillaume Laurant e Jeunet
mostra uma interessante inocência por parte de seus escritores, não deve
ter sido fácil mesclar traquinagem e inocência nas “vinganças” de
Amelie e soar autentico ainda que fabuloso em um mundo cínico como o
atual, isso para não mencionar a bobinha, mas bonita brincadeira com o
Gnomo de Jardim do pai da protagonista. Outro traço interessante do
roteiro é mostrar os gostos e desgostos de cada personagem durante sua
introdução, Amelie é claro é mais aprofundada do que todos pelo texto,
mas Laurant e Jeunet parecem ter se divertido muito ao criar as mais
diversas particularidades de cada um em tela e pensar que isso tudo é um
roteiro original para o cinema e não adaptado de alguma obra só faz
ressaltar ainda mais a qualidade do texto.
Entretanto uma das coisas que mais chama
a atenção no filme é a sua fotografia, digna de um Oscar, o
possivelmente mais famoso diretor de fotografia da atualidade, Bruno
Delbonnel deu um show impressionante guiado pela mente dinâmica de
Jeunet. A iluminação além de incrível apenas auxilia o estilo de arte em
verde e vermelho inspirados em Van Gogh. Praticamente é impossível
achar uma cena onde não tenha algo em uma dessas duas cores, mas é um
bom passa tempo para você que depois de se apaixonar pelo filme está
assistindo ele pela décima quinta vez, e mesmo assim ele ainda é
visualmente instigante.
Com cinco indicações ao Oscar (Melhor
Filme Estrangeiro, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Som
e Melhor Roteiro Original) dois prêmios Bafta (Melhor Roteiro Original e
Melhor Desenho de Produção) e mais diversas indicações nesses e nos
mais importantes prêmios internacionais e pelo menos outros 51 prêmios
ao redor do mundo, Amelie Poulain é um filme de qualidade
inquestionável.
O Fabuloso destino de Amelie Poulain é
uma das maiores obras cults e intocáveis da história do cinema, o
perfeito misto entre fantasia e a realidade cotidiana, uma obra que
exalta a beleza da vida a cada frame.
NOTA: 10