Micmacs – Um Plano Complicado | Crítica

Micmacs é uma tentativa interessante de emular a fotografia de Eterno Amor, porém falha visto que os temas dos filmes divergem tanto que a fotografia solene soa falsa e deslocada, Tetsuo Nagata, diretor de fotografia de MicMacs, não é Bruno Delbonnel, diretor de fotografia premiado de Eterno Amor, que obviamente entenderia as necessidades de iluminação do filme.


Micmacs – Um Plano Complicado é uma queda óbvia de qualidade dos últimos filmes do diretor, especialmente se desconsiderarmos Alien 4, que é um filme de contrato, Jeunet vinha de uma sequencia de 3 filmes primorosos depois de um inicio menos impressionante.


Ainda que o texto de Laurant ainda seja divertido: “Se eu tirar a bala ele vai se tornar um vegetal, se eu não tirar ele vai viver sobre o fio da navalha.” então uma enfermeira responde: “melhor viver correndo o risco de morrer, do que não ter a consciência de que está vivo.” para o medico finalizar com um: “isso é mais filosofia do que medicina, você tem uma moeda? Cara ou coroa?”. O título nacional do filme realmente faz jus a trama que é realmente complicada, desnecessariamente.


Jeunet e Laurant conseguiram criar aqui o maior grupo de esquisitos reunidos em um de seus filmes, a quantidade de personagens bizarros é tão grande que a impressão que o passa é de que o filme não se passa naquele mesmo universo real, porém semi-fabuloso e romantizado de Amelie Poulain e Eterno Amor, mas sim que se passa em um universo paralelo tão bizarro quanto o de O Ladrão de Sonhos e de Delicatessen, o que claramente não parecia ser a intenção do diretor que ao mesmo tempo trata de assuntos tão mundanos sem as alegorias usadas antes.


A falta de ancora na realidade dos personagens é tanta que por horas o filme beira a alcançar o desinteresse do publico. Em contrapartida o filme faz menção a coisas como o Youtube e o problema com o trafico de armas, se Jeunet tinha um discurso sério a fazer ele acaba se perdendo em seu estilo que está forte além da conta aqui.


Não que o filme seja completamente desinteressante, esse como nenhuma outro em sua filmografia flerta com a metalinguagem e a trilha sonora divertida salva um punhado de cenas que de outra forma soariam demasiadas tolas.


Na questão de atuação Dominique Pinon dá o seu show usual, mas o protagonista Danny Boom quem rouba a cena, se bem que como a cena já era dele não há como roubar, mas a ideia prevalece.


Guillaume Laurant e Jean Pierre Jeunet fizeram o que sabem fazer melhor, mas talvez eles tenham errado a mão, como quem coloca açúcar demais na receita de um bolo e acaba deixando-o desagradável ao paladar mais apurado.


Em termos técnicos tudo executado em Eterno Amor pareceu desandar um pouco, mas ao menos o diretor voltou a sua direção característica com cenas coreografadas como uma dança, ainda que timidamente já que não tem mais do que uma cena nesse estilo, mas depois de dois espetáculos cinematográficos seguidos que abandonou (apenas em parte) esse lado mais coreografado de Jeunet, eu imagino, esse não seria um bom caminho a seguir?

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