GTA 5 | Crítica
“Hipocrisia, a maior virtude da humanidade” Essa é um frase dita por Michael de Santa no final de GTA 5, uma grande frase, terrivelmente cínica de um grande jogo, terrivelmente cínico.
GTA 5, sem dúvidas é tudo isso que todo mundo está dizendo por aí, um jogo lindo, um jogo extremamente bem feito, bem trabalhado e bem escrito, só que diferente dos outros eu tenho um pequeno “mas” para acrescentar, ainda assim, vou deixa-lo para depois.
Para começar os muitos elogios que você já ouviu e leu e vai ler de novo agora, vou falar da troca de personagens entre o jogo, que é o seu ponto mais forte. Michael, Franklin e Trevor, os três protagonistas matematicamente escolhidos pela RockStar são um dos muitos pontos altos do jogo. Eu digo que eles são matematicamente escolhidos, pois eles nos permitem lidar com as melhores situações de todos os GTAs só que em só. O Franklin nos dá a chance de missões mais urbanas, de gangsters, trafico de droga, roubos de carro e tudo mais. Michael tem missões mais alto estilo, já que ele é um criminoso bem sucedido e aposentado, já o grande Trevor, entre aspas o "melhor personagem do jogo", nós deixa fazer as loucuras que sempre gostamos de fazer em GTA, sério, quem gosta de jogar imerso no “mundinho” e se sente mal por as vezes ter a ânsia de destruir o mundo dentro inteiro do jogo? Você não se sentirá assim depois de controlar Trevor, ele é escrito como o tipo de bipolar psicótico que atiraria misseis em prédios e depois nem lembraria direito do que fez.
Alias, Los Santos é tão bonita e tão bem feita, que é tentador explodir algumas coisas para ver como a cidade reage a isso. Infelizmente, o único modo de interagir com a cidade é através da violência, não há nada que você tente fazer com outros personagens NPCs que não seja insultá-los ou espanca-los, isso fora as prostitutas, é claro, com esses NPCs você pode interagir de outras formas.
Eu não consigo deixar de ver isso como um defeito do jogo, a Rockstar criou uma obra tão impecável em diversos pontos que te faz pensar que você pode tudo ali dentro, então quando você percebe que o "tudo" é limitado, você não consegue deixar de se sentir frustrado. Mas a maior beleza da “liberdade” limitada de GTA 5 não está em tudo que você pode fazer, mas em todos os pequenos detalhes do que você pode fazer.
Já fizeram listas e mais listas das pequenas coisas que mal percebemos no jogo, mas que estão lá de uma forma ou de outra, o que certamente ajuda na imersão que a Rockstar se propõe a entregar. Eu não vou aqui listar todas essas coisas, mas são alguns detalhes como o fato de que quando um personagem pisa em uma piscina, apenas a perna do personagem fica molhada, ou quando nós usamos a visão traseira, o personagem dentro do carro realmente olha para o retrovisor, esse tipo de coisas acontecem aos montes em GTA 5 e isso é encantador para qualquer gamer antigo que percebe a evolução desse jogo para um GTA anterior ou para qualquer jogo de até um ano atrás.
Outro ponto alto do jogo é a forma como ele é escrito. A equipe da Rockstar tem um desdém tão grande pela humanidade que dá gosto de ver. Fazer um tour pago de ônibus por Vinewood é um feito para rolar de rir ou para entrar em depressão, tamanho é o cinismo com que o guia trata os acontecimentos “importantes” que aconteceram por ali. O desdém que a Rockstar tem para com a indústria do cinema também é visível, e justamente por isso é apenas interessante ver que o jogo passou em vendas a bilheteria de qualquer filme já feito (exceto Avatar, que eu repito, tem números muito estranhos e suspeitos).
Todo esse desdém e esse cinismo faz parte do brilhante grupo de roteiristas que o jogo tem, ainda que eu não consiga achar nenhum dos personagens tão simpático quanto eu achava Nico Bellic, que por acaso é mencionado no jogo durante um dos Heists, eu consigo me identificar com Michael e consigo sentir a ira contida e louca de Trevor. Tudo bem que nesse ponto eu acho Franklin um personagem menor, talvez por isso a RockStar insista em fazer parecer que ele é o protagonista, visto que ela dá o controle do jogo em partes importantes diversas vezes para ele. Talvez seja um modo da Rockstar compensar um personagem underwritten, mas talvez isso seja só a intenção de mostrar de fora uma visão sem ideia pré-formatada do mundo louco da amizade de Michael e Trevor.
Mas deixando Franklin de lado, os outros dois personagens são metralhadoras de pérolas, como a discussão entre Michael e Trevor, na “casa” desse último onde ele fala sobre o sarcasmo “Sarcasm is all I fucking have”. Ou praticamente qualquer cena de troca de personagem quando trocamos para Trevor, só tem coisas brilhantes ali.
Agora deixando de lado os muitos elogios, em termos de jogabilidade, esse GTA tem as mesmas falhas de todos os GTAs, dirigir carros não pode ser menos natural, a mira, mesmo com algumas opções configuráveis sobre ela, ainda é uma mira terrível, as armas, com todos os upgrades que possuem, mal variam quando são modificadas, mesmo o supressor que torna a arma silenciosa, não evita que alguém escute o seu tiro, alias, a polícia funciona de forma péssima nesse jogo, se você atira em alguém em uma montanha com um silenciador, só você e essa pessoa em um raio de quilômetros, a policia magicamente estará atrás de você, se você pula de um avião e o deixa cair na cidade, não importa o quão longe você esteja de paraquedas, a policia estará atrás de você, se você atira com uma sniper silenciosa e destrói um dirigível que está do outro lado da cidade, a policia estará atrás de você.
O fato dos carros serem mais descartáveis do que o copo descartável que você usa em festas também é um outro problema de jogabilidade, tudo no jogo conspira para a imersão dele funcionar perfeitamente bem, mas detalhes como a polícia onisciente ou detalhes como você poder e precisar trocar de carro a cada 2 minutos acabam com parte dessa imersão.
Enfim, na área da jogabilidade GTA 5 não apresenta nada de novo, por mais que tenha milhões de qualidades, os mesmos defeitos de sempre permanecem na estrutura, só que dessa vez soam mais gritantes, pois o jogo está perfeito em praticamente todo o resto, mas eu mal posso esperar por GTA 6 e para ver a RockStar consertando esse tipo de coisa.
A jogabilidade não melhorou, isso é fato, mas as missões do jogo são as melhores comparadas com qualquer outro GTA já feito. Há missões incríveis nesse jogo e ter inimigos como a MerryWeather, que é algo como a BlackWater da vida real, só deixa tudo mais legal. Existem varias missões memoráveis, como as últimas missões que fazemos para Dave Weston, ou a missão do avião da MerryWeather com Trevor, tudo brilhante e digno de ser cenas de grandes filmes de ação.
Outro ponto a favor do jogo, é que quando ele termina, a história termina pelo menos, você ainda quer jogar mais, você ainda quer terminar qualquer sidemission ou coisas do tipo que possam ter faltado e por sorte, o GTA Online te permite até mais do que isso, alias, não por enquanto porque o jogo está extremamente bugado e com problemas de estabilidade, mas GTA Online parece uma sensacional saída para quem ficar com saudades de GTA 5, vai te permitir matar a saudade de Los Santos, viver uma experiência GTA Online e ainda ter novas “aventuras” destruindo e matando coisas na cidade.
Antes de terminar vale um adendo que é sobre a tradução do jogo, ainda bem não há nenhuma dublagem mal feita como em muitos games por aí, acho que seria até difícil graças as muitas variáveis, mas a legenda e os elementos de tela são excepcionais, em especial o “Game Over” do jogo... eu me matei umas três vezes quando joguei a primeira vez só pra ter certeza de que eu tinha lido certo a mensagem dizendo “Se Fodeu” na tela, eu tinha lido certo e o jogo é corajoso o suficiente para isso, alias, porque poupar elogios, o jogo é genial por isso.