True Detective – 2° Temporada | Crítica
Nic Pizzolatto pode muito bem ser a maior farsa da TV contemporânea. Eu gostei tanto da primeira temporada de True Detective que cada vez que eu ouvia algum comentário sobre plágio eu revirava os olhos e pensava “o típico caso de pessoas querendo se aproveitar do sucesso alheio”, bem, eu não tenho mais a mesma certeza.
A 2° temporada de True Detective parece não uma copia da primeira temporada, o que até seria uma coisa boa, mas ainda assim temos diversos dos mesmos temas explorados antes de volta esse ano, mas dessa vez no lugar de tudo soar orgânico ou propositalmente exagerado como em alguns casos, ou mesmo fascinante como foi no primeiro ano, tudo soa apenas bobo.
Em uma série de TV duas coisas têm que funcionar bem, para a série também funcionar bem, a primeira é a sua história e a segunda são os personagens, e True Detective falhou miseravelmente em ambas. A trama principal é confusa e desinteressante, uma trama sobre corrupção e crimes que soa chata e monótona a todo o tempo, especialmente quando comparamos com a vida real... se nós formos ficar de olho na Operação Lava Jato provavelmente vamos ficar mais empolgados do que com o mistério de “Quem matou Ben Caspere”, na verdade esse mistério é tão chato que mesmo depois de ver o último episódio e descobrir quem o matou, eu tive que ficar 30 minutos tentando lembrar quem era mesmo o assassino, porque no final ele não importa, como nada do que estava acontecendo importa, visto que o foco principal do texto sempre foi na jornada pessoal dos personagens e não no mistério no qual eles estavam envolvidos.
E exatamente aí esta o pior de tudo, porque além da história ser chata o suficiente para me fazer querer desligar os episódios na metade, mesmo no season-finale que deveria normalmente ser o melhor episódio de uma temporada, (que alias teve um final previsível e covarde), os personagens cujas jornadas são o que realmente importam nesse roteiro... são pavorosos.
Com exceção de Frank Semyon, único personagem sem sobrenome excêntrico e vivido por Vince Vaughn, todos os personagens beiram ao insuportável, Ray Velcoro, protagonista interpretado por Colin Farrel é um dos piores de todos, quando a série o colocava em perigo e o diretor do episódio usava todas as técnicas cinematográficas para injetar tensão e suspense na cena, eu sempre estava torcendo para matarem logo o personagem porque não há tensão sobre a vida de um personagem detestável, que faça o público gostar dele. E alias, não importa o quanto o roteiro diga que o personagem ama seu filho para nos gerar simpatia, se nas poucas cenas que os dois passam juntos a criança está sempre sobre tortura psicológica e as vezes é até agredida.
Mas o pior mesmo é o personagem de Taylor Kitsch, que é um daqueles clássicos personagens “sombrios e profundos” que na verdade são personagens ocos que adoram encarar o vazio da noite enquanto falam sobre seus dramas pessoais. Alias, a quantidade de personagens nessa segunda temporada que gosta de encarar o vazio é tanta, que algumas vezes eu me perguntava se não estava assistindo a um dos filmes da saga Crepúsculo no lugar de True Detective.
Todos os personagens da série são “sombrios e profundos”, todos eles com traumas em seu passado e nenhum deles engajador o suficiente para me fazer dar a mínima. Alias, quando na primeira temporada tínhamos os memoráveis Cohle e Hart, a série fazia um bom paralelo entre homens maus lutando no lado dos homens bons. Hart era mal, era profundo, mas não era "sombrio", nem todos os personagens precisam ser, assim como a maioria dos personagens da primeira temporada não é, o Cohle de Matthew McConaughey não era legal por ser "sombrio e profundo", ele era legal por ser um contraste a todos daquela história, por ser um contrate ao ser humano comum, já quando você transforma todos os seres humanos comuns em Cohles, a graça dele se perde e tudo soa falso.
Pelo menos os atores não estão de todo o mal, Rachel McAdams tem alguns momentos fracos graças a sua personagem ser bem ruim, mas em geral está boa, Colin Farrel beira ao brilhantismo em alguns momentos, eu tenho que admitir, mas para em outros momentos apresentar uma atuação pífia, Taylor Kitsch, bem... ele realmente me lembrou personagens de Crepúsculo, pra mim foi de longe o ponto fraco do ano e o Vince Vaugh surpreendentemente foi o ponto forte, apesar de seu personagem ter menos destaque que os outros três. Alias, mesmo o personagem de Vaugh sofre do mesmo problema de encarar o vazio e falar coisas sombrias, que talvez nós possamos definir doravante como Pizzolattismo, mas como ele tem menos destaque, seus momentos normais acabam balanceando isso melhor.
Talvez a maior vantagem da série tenha sido o fato dela ter apenas 8 episódios, por mais que os últimos episódios tenham melhorado um pouco, com exceção do péssimo season-finale, eu não aguentaria acompanhar a série por mais 2 ou 4 episódios mesmo com muita vontade de terminar e sabendo que é meu trabalho assistir para escrever sobre posteriormente e sim, pra mim a experiencia foi ruim nesse nível.
Eu sei que é um pouco injusto julgar a segunda temporada de True Detective, porque sempre haverá comparações, mesmo inconscientes, com a primeira temporada que beira a ser uma obra prima da TV moderna, mas vamos ser honestos, ninguém terminaria de assistir o primeiro episódio dessa temporada se também não fosse graças ao legado do primeiro ano. Alias, com a quantidade de críticas que a série vem recebendo, era de se espantar se a HBO não cancelasse a série nos primeiros episódios se não fosse tudo o que a primeira temporada representou, então por mais injusto que toda essa crítica seja com a segunda temporada, ela também se beneficiou muito do que veio antes.
O lado bom desse ano em True Detective ficou por conta da direção, por mais que tenhamos perdido Cary Fukanaga, os diretores que assumiram fizeram um trabalho exemplar conseguindo injetar emoção e ação no texto mais infértil que eles poderiam ter dirigido. Alguns episódios e algumas cenas são memoráveis graças a direção apenas, e eu posso ressaltar aí a incrível cena do tiroteio no quarto episódio, a cena da orgia na festa do sexto episódio e mesmo a última cena de Frank Semyon no deserto, que é provavelmente a melhor cena de toda a temporada e bate de frente com as melhores cenas da temporada anterior.
Pelo visto, apesar da audiência ter sido baixa e das duras críticas que a série sofreu esse ano, a HBO planeja continuar True Detective caso Nic Pizzolatto queira escrever mais, o que é bom, afinal por enquanto o jogo está empatado 1 x 1 e mesmo com isso tudo, eu li sobre bastante gente que gostou da série esse ano, coisa que eu jamais compreenderei, mas sei que existe o caso, afinal mesmo nossos parceiros do Focados em Série deram boas notas para os episódios isolados (leia AQUI). Mas de qualquer forma, minha confiança em Pizzolatto se esvaiu completamente e eu vou assistir a possível terceira temporada com menos empenho e provavelmente abandonarei a série se o nível for semelhante ao desse ano, mas quem sabe não seja muito esperar que pelo menos o meu outrora tão querido autor, se esforce para no mínimo não escrever uma parodia involuntária de seu próprio estilo.