Quarteto Fantástico (2015) | Crítica
Não é uma tarefa fácil escrever uma das minhas longas críticas em um filme onde nada acontece como Quarteto Fantástico, especialmente porque eu estou atrasado e já li pérolas que resumem muito bem o filme, como a comparação dizendo que o longa parece “o trailer de um filme que nunca acontece” e eu tenho que concordar muito com esse tipo de comentário.
A maior qualidade do filme, e talvez única, fique por conta dos atores que interpretam os personagens, todos eles muito bons, mas que não parecem estar bem nos seus papéis, por melhor que Miles Teller e Kate Mara sejam, por exemplo, não conseguem transformar seus personagens em personagens reais, além de que a falta de química entre o grupo inteiro é palpável, além do filme simplesmente negar o clima de família no qual o Quarteto Fantástico sempre foi baseado, os personagens mal parecem se conhecer ou mesmo gostar uns dos outros. Eu tenho quase certeza de que alguns deles nem chegam a conversar até a última cena, embora eu ache que nem mesmo no final do filme o Ben fale qualquer coisa com a Sue.
O maior problema entretanto, é o seu roteiro que é mal escrito e mal estruturado. A trama progride sem curvas dramáticas tentando justificar única e exclusivamente os poderes do personagens, desde a primeira cena até o final do segundo ato não há nada que se pareça minimamente com uma cena de ação, ou com uma cena que tenha qualquer tipo de conflito, são apenas personagens falando termos científicos para a câmera entre um ou outro diálogo ruim.
Quando chegamos ao ato final e vemos o Doutor Destino querendo destruir a Terra porque sim, começa alguma ação, mas que acaba rápido e que não é nada empolgante, na verdade é pior do que isso, a ação é terrivelmente mal feita, desde as coreografias, o uso dos poderes, até as frases de efeito entre elas e por último até os efeitos especiais são fracos.
Mas voltando a estrutura, ela é tão mal feita que o filme precisa usar o péssimo artifício do “anos depois” mais de uma vez. Primeiro o filme se inicia em 2007 para mostrar que o Reed é gênio desde criança e que ele é amigo do Ben, para depois pular para os tempos atuais, quando colocar Ben e Reed atualmente em diálogos que demonstrassem essa amizade e genialidade pouparia uns 20 minutos de tela. Logo após, quando chegamos a um ponto em que o filme poderia ser interessante, logo após os personagens ganharem seus poderes, nós simplesmente não testemunhamos como eles lidam com aquilo, já que entra uma tela preta e se passa mais um ano, onde já está quase todo mundo confortável com a situação, o máximo que vemos é que o Coisa está tristinho por ter virado uma rocha ambulante e que ele também está puto com o Reed porque... bem, porque o Reed é um amigo babaca que merecia ser punido pelo que fez.
Obviamente Reed não é o único personagem babaca no filme, todos eles são e os que não são, como o Ben, é simplesmente porque não o conhecemos o bastante para formamos uma opinião. A Sue é chatíssima, o Johnny é irritante e o Victor Von Doom é o revoltadinho clichê de Facebook, que é igualmente desinteressante.
Alias, o Victor é o pior vilão que o filme poderia ter. Primeiro porque ele não é necessariamente inimigo de Reed ou de qualquer membro do Quarteto, eles são amigos de fato e o máximo de conflito que ele e Reed parecem ter é o fato do vilão ser apaixonado pela Sue, o que não quer dizer nada já que nesse filme nem a Sue é apaixonada pelo Reed, nem o oposto, o máximo de cena amigável que eles dividem é uma conversa fiada pós-trabalho. Doutor Destino é chato, com um visual bizarro e pobre, com motivações inexplicáveis e com poderes que aparentemente fazem tudo, desde explodir cabeças com o olhar, telecinesia, criar tecido (afinal, de onde ele tirou aquele capuz?) e até servir de conduíte para um portão entre dimensões.
O filme ainda consegue ser claustrofóbico, já que 80% de toda a sua história se passa em apenas dois cenários, ou dentro de um galpão no Edifício Baxter ou no Mundo Paralelo que é um planeta de rocha e com céu nublado, tudo pouco imaginativo. Além disso eu queria ressaltar o fascínio que Josh Trank parece ter por pessoas digitando, ele enfia a câmera nos teclados e filma o ato de digitar rapidamente como se fosse algo verdadeiramente digno de um super-herói, provavelmente ele está elogiando todos nós, usuários de internet que digitam melhor do que escrevem a mão livre.
No final, tudo é problemático, desde a direção aborrecida de Josh Trank, que por mais que ele negue, a menos que tenham refilmado 70% do longa com um roteiro diferente, a culpa do resultado final também é dele, dos ótimos atores em versões patéticas de bons personagens, o visual que é surpreendentemente ruim para um blockbuster de heróis e especialmente o roteiro, que além de ser mal estruturado como eu falei anteriormente, ele ainda têm diálogos sofríveis, que variam desde a necessidade estúpida de explicar cada detalhe do que está acontecendo em tela, que fica bem evidente na única cena de ação do longa, onde o Reed fica narrando os efeitos científicos inventados que estão acontecendo em cena, até coisas como “ele está sugando tudo para outra dimensão” que é uma frase que soa extremamente infantil para um personagem tão analítico como o Reed dizer, e outras frases patéticas como as clássicas “em chamas” ou “tá na hora do pau” que soam completamente forçadas e quase um pouco retardadas aqui, mas talvez nada seja pior que a justificativa para seus nomes, que consegue ficar ainda muito pior na versão dublada.
Quarteto Fantástico não é abominável como Lanterna Verde, Mulher Gato ou Elektra, porque faltam coisas terríveis aqui e ali e que alguns desses filmes têm de sobra, mas por outro lado Quarteto Fantástico consegue ser chato e medíocre em todos as áreas em que aborda, sem qualquer exceção, exceto se você contar escalação de elenco como uma qualidade. Traduzindo, Quarteto Fantástico não é uma atrocidade cinematográfica, mas é tão medíocre que talvez você prefira assistir a um filme pior, porque pelo menos é minimamente mais divertido ver algo tão ruim quanto Lanterna Verde.