FIFA 17 | Crítica


Todo ano FIFA traz ao menos uma nova mecânica que é a manchete que encabeça os artigos da imprensa e serve para vender o jogo como a grande nova coisa dentro dele. E por mais que esse ano essa novidade seja A Jornada, ou o “modo história” de FIFA, a grande protagonista do lançamento é a engine Frostbite, que estreou na edição passada e atingiu seu potencial esse ano.

Enquanto FIFA 16 era um redesign perfeito do FIFA 15, com melhores gráficos e algumas melhorias na inteligência artificial do jogo, o FIFA 17 faz parecer que o game realmente foi recriado do zero, seguindo os moldes dos anteriores, mas para atingir o potencial de uma engine superior.

O redesign vai além dos gráficos, obviamente, mas os gráficos chamam a atenção por si só. O sistema de escaneamento facial dos jogadores reais que permite uma fidelidade sem igual e micro expressões nos jogadores virtuais é extraordinário, mas os visuais retrabalhados vão além disso também e marcam a presença nos diferentes climas e nos efeitos de luz nos campos e estádios do jogo, passando um realismo e imersão muito maior do que qualquer outro jogo de esporte já visto.

Mas um jogo, especialmente um como FIFA, não vive só de gráficos e por mais que existam dezenas de melhorias e centenas de refinamentos aqui e ali no jogo, nenhuma novidade é mais óbvia do que o “modo história” chamado A Jornada.


Em A Jornada você controla Alex Hunter, um jogador inglês novato que vem de uma família pobre, mas cujo avô foi um grande jogador da época em que o futebol não rendia a grana que rende hoje e o pai, que também tentou ser jogador, mas graças a uma lesão no início da carreira, se tornou uma pessoa frustrada e ausente e acaba abandonando o filho.

A parte familiar de A Jornada poderia acabar representando mais do que representa para o personagem, mas ao mesmo tempo que ela influencia menos do que poderia na trama, ela é uma adição interessante ao todo, mas a graça mesmo fica na ideia de amizades rompidas e formadas e nas pressões que um jogador profissional sofre para alcançar seu espaço no mercado.

A história de Hunter se estende durante uma temporada da liga inglesa e faz com que Hunter comece em um time de novatos buscando um contrato, faz com que você vá para o seu time (inglês) favorito, depois para a segunda divisão e depois de volta ao estrelato numa jornada que é uma montanha russa de clichês, a maioria deles bem divertidos, normalmente vistos nos contos e filmes sobre esportes.

A mecânica da jornada é bem simples, você joga uma partida, as vezes a partir do início do jogo, as vezes a partir de um momento especifico, normalmente no 2° tempo e o técnico do time te dá objetivos a serem seguidos, como “faça X passes corretos” ou “faça 2 gols”, em alguns casos quando você já entra com o jogo em andamento, as missões podem ser “tire o desempate” ou “ao menos empate o jogo” quando o seu time está perdendo. Antes de cada jogo você precisa também fazer ou simular algumas sessões de treinamento que também influenciam na escalação, se você for mal nos treinos pode acabar ficando no banco de reservas no jogo.


Entre um jogo e outro, ou pelo menos entre uma sequência de jogos, você tem algumas cutscenes com opções RPGisticas de como influenciar a história, normalmente em escolhas de diálogos no melhor estilo Telltale Games/Mass Effect. Sinceramente eu não sei o quanto as suas escolhas influenciam de fato a história, pois eu joguei apenas uma vez, mas certamente isso dá um fator replay à Jornada. Embora a trama em si seja difícil de prever nessas escolhas, há o sistema de comportamento do protagonista, que pode variar de Tranquilo, Neutro ou mais Acalorado. Essas variações podem mudar a forma como as pessoas te encaram, se você for um jogador mais esquentadinho, exibido e alto-confiante (e meio babaca) a torcida vai gostar mais de você, afinal, você vai se comportar como um verdadeiro rockstar, se você for mais tranquilo, calmo, humilde e virtuoso é o técnico que vai gostar mais de você. As consequências entre os dois é que você vai ser mais escolhido para as partidas no caso da personalidade mais calma, no caso da personalidade mais explosiva, você vai ganhar mais seguidores e consequentemente mais patrocínios, que na teoria muda apenas os cosméticos e as cutscenes, mas que é o suficiente para se destacar em uma história que precisa desse tipo de imersão.

Há duas coisas interessantes adicionadas na Jornada que podem passar despercebido num primeiro momento. Uma delas é a versão do Twitter de FIFA 17, onde nós podemos acompanhar o que a imprensa, outros jogadores e a torcida em geral está falando sobre Alex Hunter e por mais que falte o nível insalubre de acidez e crueldade do Twitter original, ler esses tweets pode ser bem divertido e irritante no melhor sentido, pois mesmo quando nós ganhamos um jogo fazendo quatro gols, vai ter sempre alguém dizendo algo como “Alex Hunter não é grandes coisas, fez gol por pura sorte e só está em um time grande graças ao avô”. Isso é a síntese do que é a internet afinal, pessoas falando mal de outras sem saber do esforço e da vida delas.

Outra coisa que talvez passe despercebida no primeiro momento é sobre como os narradores trabalharam a mais para “A Jornada” e sobre como comentários sobre a carreira de Alex Hunter não faltam durante cada partida, mesmo na versão em português, o que deixa a sensação de que estamos escutando uma narração de verdade e não frases soltas que estão unidas graças a um algoritmo.

Os narradores num geral já tinham melhorado muito desde os últimos jogos, mas em FIFA 17 a versão em português traz dezenas de novos comentários que deixa tudo muito menos repetitivos, embora eu ainda ache que seria espetacular ter dois narradores diferentes para variar entre as partidas.


Seria contraproducente eu me debulhar sobre todos os detalhes da jogabilidade de FIFA, pois eu poderia simplesmente copiar a e colar os reviews dos últimos três jogos da franquia e a maioria das coisas não mudaram e a maioria delas não deveria mudar mesmo, os controles se comportam da mesma forma, os jogadores funcionam mais ou menos do mesmo modo baseado nos mesmos status de sempre, a fluidez da partida é a mesma e dezenas de outras coisas continuam como sempre foram, para o melhor e para o pior, mas é claro, existem alguns refinamentos específicos que chamam a atenção.

Algumas das melhorias do ano anterior continuaram, como uma melhora na regra de impedimento, onde o juiz não dá mais impedimento para toques não intencionados ou rebotes, a agressividade da A.I é tão boa quanto a do ano passado, onde os jogadores rivais de fato fazem falta e não são gentlemen que sequer te tocam (mas ainda está longe do realismo), e muitas outras melhorias permanecem, mas algumas novidades dessa versão soam indispensáveis a partir de agora.

Algumas novidades bacanas dessa versão começam com o jogador defensor, que agora defende melhor a bola, usando o braço como escudo e se movimentando para ficar entre o jogador rival e o objeto mais importante do jogo. As cobranças de bola parada também mudaram para melhor, os pênaltis, faltas e escanteios agora são bem mais divertidos e mais ou menos práticos dependendo do quão práticos eles deveriam ser na vida real. Os pênaltis em especial sofreram a melhor das mudanças, pois eu particularmente detestava a forma como funcionava a cobrança nos jogos anteriores.

Esse parece uma reintrodução do jogo ao mercado, com diversas novidades e refinamentos, mas mantendo a qualidade e a base sólida da franquia, somado a ideia sensacional de A Jornada, que por acaso pode e deve continuar no próximo game (afinal, quem não quer jogar na seleção inglesa com Alex Hunter, por exemplo?), fazem de FIFA 17 muito mais do que uma sequência estática do jogo anterior e prova mais uma vez que FIFA é uma das melhores franquia de jogos de esportes do mundo.

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