The Flame in the Flood | Crítica (Xbox One)
Jogos de sobrevivência não costumam ser o tipo de jogo que eu aprecio, embora eu seja adepto e fã hardcore de jogos mais difíceis como Dark Souls, os jogos de sobrevivência atuais costumam ser difíceis demais para a recompensa que eles te proveem, ainda que sejam uma experiência significativa quando são jogados.
Por outro lado, The Flame in the Flood se diferencia da maioria dos games desse tipo, graças a beleza do que ele se propõe a lhe fazer experimentar, um apocalipse lindo, completamente opressor e capaz de deixar a todos extremamente vulneráveis, ainda assim com uma beleza singular e com uma pitada de esperança fugidia a cada parada que você faz.
O game tem uma arte única e uma ideia singela, nós somos uma personagem num mundo apocalíptico onde uma inundação destruiu a sociedade. Os mantimentos são escassos e temos que coletar materiais e comida para sobreviver nos poucos pontos de terra seca que ainda sobraram no mundo, para isso usamos uma espécie de balsa numa jornada com um amigo canino através de um rio infinito.
Os menus do jogo são um tanto complicados, há muitos status diferentes e diversas opções de montagem e criação de itens que as vezes fogem um pouco a lógica, entretanto há muitas formas de morrer um tanto quanto realistas. Se você se cortar e não se tratar o seu corte pode virar uma infecção e você vai morrer por isso, se você quebrar a perna, além de se mover de forma arrastada, com o passar do tempo vai morrer por isso, se você pegar chuva sem roupas adequadas e ficar muito tempo longe de uma fogueira, você vai morrer de frio, se você ficar muito tempo sem dormir você vai morrer de sono, se ficar sem beber agua limpa você vai morrer de sede, se você ficar muito tempo sem comer, morrerá de fome, se você comer algo estragado ou beber agua do chão ou do rio é provável que você pegue alguma doença e obviamente... morra.
O que acontece com a morte? Bem, depende do modo e da dificuldade do jogo, no modo história você tem checkpoints bem escassos, mas ou menos de hora em hora e se você morrer, você volta do último checkpoint que alcançou. Contudo no modo “infinito” o jogo te pune com a morte definitiva, fazendo-o voltar do início do jogo/do rio, com a única diferença sendo que a bolsa que seu cachorro leva, estará com os mesmos itens que ela tinha quando você morreu, são poucos itens, mas vale aí a sabedoria de saber deixar coisas importantes com seu amigo canino para o caso de uma morte surpresa.
A cada parada em terra seca nós encontramos diferentes tipos de prédios e de ambiente, que acabam fazendo com que certos tipos de materiais sejam mais facilmente encontrado em certos lugares do que em outros. Isso é especialmente interessante quando o rio está empurrando a nossa balsa com força e nos vemos obrigado a escolher um terreno no qual parar, um lugar com materiais hospitalares na esquerda e um posto de gasolina na direita, por exemplo, e uma vez que você perdeu uma parada, essa parada está perdida para sempre, pois o rio só corre em uma direção. Essas decisões são particularmente duras porque nunca sabemos que perigos vamos encontrar nesses lugares, pode ser que encontremos coelhos prontos para serem caçados e virarem alimentos pelos próximos dias, ou lobos ferozes, javalis e até ursos que nos matarão facilmente se tentarmos enfrentá-los.
Nada disso é previsível pois o game usa a seu favor a cada vez mais interessante tecnologia de geração processual, o seu rio nunca será igual ao rio de outro jogador, ou sequer será igual ao rio que você jogou na última vez, com algumas exceções bem pontuais aqui e ali onde há algum ambiente que faz parte da “história”.
O modo história do jogo é bem fraco, pelo menos se você espera de fato uma história, o que acontece na verdade é que em algumas paradas obrigatórias você encontra um NPC ou outro que lhe dão itens ou missões excessivamente simples, de resto o modo história é apenas o jogo comum com essas pequenas paradas, o que é um desperdício, pois um setting e um visual tão bonitos poderiam render algo marcante em termos narrativos.
No geral algumas das melhores ideias de The Flame in the Flood acabam se tornando suas fraquezas com o tempo, visto que o game pode durar virtualmente para sempre. Sobreviver é monótono por natureza, enquanto nas primeiras horas pode parecer tenso e arriscado, muitas horas depois você vai achar simples e divertido, visto que sua experiência vai ter aumentado exponencialmente e você vai virar uma espécie de ranger que conhece floresta, terrenos, trilhas e animais com facilidade, contudo, mais algumas horas na frente vai ser apenas uma rotina repetitiva e não ajuda em nada o jogo te obrigar a passar tanto tempo nos menus gerenciando espaço para itens. Existe uma ideia excelente de te dar pouco espaço no inventario para que você use tática e estratégia sobre o que usar e o que deixar para trás, mas isso é na teoria, porque na prática isso significa horas e horas olhando para menus, gastando itens que você pode gastar, decidindo o que é mais importante levar ou não... para ter que passar mais tempo na mesma função na parada posterior.
De qualquer forma, apesar de termos alguns momentos monótonos lidando com menus, The Flame in the Flood é um jogo duro e punitivo, mas que evoca uma sensação de esperança que dificilmente se vê em outros jogos e essa sensação em partes se dá graças ao belíssimo visual do jogo e a trilha sonora sem igual, que dão o clima de um apocalipse brutal, mas estranhamente bonito.