Capitão América: Guerra Civil | Crítica

Os irmãos Anthony e Joe Russo podem agora se vangloriar da fama de serem os melhores diretores de filmes de quadrinhos, em suas duas obras para Marvel eles conseguiram demonstrar que sabem o que estão fazendo, demonstraram que conseguem criar um filme sólido e com uma visão particular, mesmo seguindo as demandas do estúdio sobre um estilo geral, um estilo que entra em conflito direto com o que eles fazem de melhor.

Isso não quer dizer que Capitão América: Guerra Civil seja perfeito, mas o equilíbrio com o que os Russos gostam de fazer e com o “estilo Marvel” é melhor que o esperado, ainda que aqui e ali bem pontualmente algumas piadinhas soem exageradas e sem propósito e a formula soe forçada.

Vamos tirar logo essa questão do caminho, embora muitos estejam afirmando, eu não acho que Capitão América: Guerra Civil seja o melhor filme da Marvel, talvez esteja no top 5, mas eu não sei nem se é o melhor filme dos irmãos Russo para o estúdio, mas quer saber, nem todo filme precisa ser o “melhor filme nas condições x” e se você for assistir com um pouco menos de expectativa, talvez você aproveite a obra ainda mais.

Diferente dos quadrinhos, os personagens Homem de Ferro e Capitão América parecem bem mais razoáveis em suas convicções, em seus argumentos e em seus diálogos, mostrando realmente dois amigos em um embate ideológico tentando resolve-lo da melhor forma possível, até que esse embate ideológico passa para o lado pessoal e a briga começa.
Vale dizer que todo o filme é muito mais sobre o Soldado Invernal do que sobre a dita “Guerra Civil” e isso estranhamente funciona, mas não me faz deixar de pensar que talvez o tema tenha sido desperdiçado. Mas o Soldado Invernal é um baita personagem e dá para ver o prazer dos Russos em dirigi-lo, as suas cenas de ação são espetaculares e até alguns detalhes, como a forma como ele pega carona em uma moto em certo momento, é de tirar o fôlego.

O filme tem um vilão que influencia pouco, mas de forma vital na história, o Barão Zemo, ou melhor Coronel Zemo aqui, é uma espécie de Lex Luthor em Batman v Superman, mas que funciona. Seu plano não é lá muito brilhante, mas ao menos não é patético como o do vilão da DC e o pouco que ele faz acaba contando. No final das contas, ele até mesmo é um vilão simpático e um pouco mais sério que a maioria dos vilões do estúdio, que talvez não entre no rol de grandes vilões da Marvel (que não são muitos) simplesmente porque tem pouco tempo em tela.

Se os elementos da trama são perfeitamente colocados, o ritmo por outro lado sofre com essa trama, pois os Russos têm o ingrato trabalho de explicar camadas complexas de acontecimentos, introduzir uma nova base emocional e ideológica e mesmo explicar como cada personagem se encaixa nessa enorme trama e não tem como o ritmo não ser prejudicado por isso, boa parte da primeira hora e meia de filme é com personagens sentados e conversando sem parar, entrecortada por algumas poucas cenas de ação, umas incríveis e outras repetitivas, como as que o Capitão América soca, chuta e pula com os dois pés no peito de pessoas, você sabe, como ele sempre faz.
A hora final do filme é quase inteira de ação, englobando aí a hypada cena do aeroporto e a cena final de pancadaria e não tem como não se empolgar com elas, o filme de fato brilha nesses momentos, ainda que eu ache que você deva ter menos hype quanto a essa cena do aeroporto em especial, chama-la de “melhor cena de ação de todos os tempos” é bem exagerado e eu tenho ouvido falar isso por aí.

Nessa cena nós finalmente temos todos os heróis reunidos e incluindo aí o Homem Aranha, finalmente no MCU. Tom Holland tem seu carisma e o Homem Aranha é exatamente o que você espera dele, por outro lado ele tem pouco tempo em tela para afirmarmos que “esse é o melhor Homem Aranha de todos”, ele definitivamente tem potencial para passar Andrew Garfield, mas com 5 minutos de trama e 20 de porradaria não dá para saber em definitivo ainda. Especialmente porque ele, assim como nos quadrinhos, é uma metralhadora de piadas enquanto luta, mas não sei se é graças ao roteiro ou graças a direção mais robusta e dramática dos irmãos Russos, algumas piadas acabam sendo incríveis e fazendo o cabeça de teia roubar a cena, mas outras simplesmente soam sem timing e forçadas.
A batalha final entre o Capitão, o Soldado Invernal e o Homem de Ferro por outro lado acerta em cheio a sua dramaticidade e peso e é um símbolo para todo o peso do filme, que é certamente o mais sombrio e dramático da Marvel, o Pantera Negra (outro ótimo personagem) em paralelo ao final aproveita para dar o tom heroico que o filme precisa para não se perder num mar de sombras, decepções, traições, vingança e violência.

Com dois filmes incríveis e um mediano, a trilogia Capitão América como um todo é a melhor trilogia de super-heróis até o momento, empatada com a trilogia Batman do Nolan, e embora eu não me decida se Guerra Civil é melhor ou não que Soldado Invernal, de fato o filme é uma bela opera conduzida por mão seguras, mas que pecam em encaixar alguns elementos conflitantes como o uso de humor exacerbado aqui e ali, e camadas e camadas de roteiros mais complexas sem perder o ritmo frenético que o filme claramente tenta ter, defeitos perdoáveis, especialmente depois de assistirmos algumas das melhores interações entre super-heróis já feitas no cinema.


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