A crise da Lionsgate e a sua formula para o fracasso


O diretor Alex Proyas recentemente entrou em modo fúria no Facebook para reclamar dos críticos de cinema, dizendo o quanto eles são “um bando de abutres doentes” por terem destruído seu filme mais recente; Deuses do Egito. Independente de eu concordar ou discordar de Proyas, e apesar de eu ser um crítico de cinema também, eu concordo com uma porcentagem assustadoramente alta de tudo o que ele disse, eu vou falar mais sobre isso outro dia, hoje eu quero falar sobre o fracasso em si de Deuses do Egito e o fracasso de tudo que a Lionsgate vem fazendo nós últimos meses, o que certamente não é culpa dos críticos.

Se existe uma formula do sucesso nos cinemas, sabemos que muitos buscam por ela, mas ninguém a descobriu (talvez o James Cameron), mas se existe uma formula do fracasso, talvez a Lionsgate a tenha patenteado.

O último filme do estúdio, exatamente o de Alex Proyas, custou 140 milhões para ser feito e no primeiro final de semana amargou uma abertura de 14 milhões. Mas se Deuses do Egito fosse o único problema os produtores da Lionsgate, eles ainda estariam sorrindo, mas infelizmente não é esse o caso. O estúdio deu adeus a Jogos Vorazes e a série Divergente já está acabando e eles não conseguiram emplacar nenhuma nova franquia.


Mesmo assim, o último capítulo de Jogos Vorazes foi o que rendeu menos dinheiro da franquia inteira, que é interessante avaliar, pois pesquisas diziam que o último Jogos Vorazes era o filme mais esperado de 2015, e performou bem, mas não mais do que isso, enquanto Star Wars: O Despertar da Força, que estava atrás da aventura final e Katniss nas pesquisas, fez o sucesso que fez.

Ah sim, antes de seguir com a matéria, o instituto que pesquisou isso foi  Piedmont Media Research, e na verdade ele não só disse que Jogos Vorazes era o filme mais esperado de 2015, mas o filme que atingiu o maior nível de antecipação já visto.  Piedmont Media Research, lembrem-se quando verem outra pesquisa deles, mas voltando ao assunto...

A franquia Divergente apesar de sempre lucrar, também não rende o que se espera hoje de uma franquia de ação com heroínas femininas e romances Y.A imersos em distopias bizarras.

E graças a isso Wallstreet não perdoou a companhia, de fato, desde o último Jogos Vorazes as ações da Liongate despencaram quase metade do seu valor, elas valiam 40 dólares na época antes do filme ser lançado e hoje (dia 02/03/2016) elas estão cotadas em 21,84 obamas.

Um analista do mercado, Jeff Bock disse:
A Lionsgate está em modo de crise... Nada do que eles lançaram no último ano funcionou. Eles tem o oposto do que é o Toque de Midas agora.

Mortdecai e O Último Caçador de Bruxas, de Johnny Depp e Vin Diesel, respectivamente, são amostras dos recentes fracassos do estúdio, mas na verdade nem tudo foi um fiasco, filmes recentes como John Wick, de Keannu Reeves e Truque de Mestre fizeram sucesso o suficiente para receberem sequencias, mas como nós falamos lá naquele post explicando Como Funciona a Bilheteria, o dinheiro arrecado por ingressos não é tudo, existe um mundo de merchandising fora dos filmes e em ambos os casos, Truque de Mestre e John Wick não são lá grandes nomes nessas áreas, você não deve ver produtos licenciados de nenhum dos dois por aí.

O fracasso de Deuses do Egito só não será desastroso e nem vai quebrar a Lionsgate, graças a um monte de acordos internacionais de impostos e taxas que eu não faço a mínima ideia de como funciona e provavelmente nem valeria apenas aprender, pois é desinteressante. Basta dizer que graças a diversos tratados de proteção financeira as ações do estúdio não caíram ainda mais.

O co-presidente de distribuição da Lionsgate, David Spitz, falou um pouco sobre isso recentemente:
“Nós construímos um forte modelo financeiro esperando criar uma franquia com pouco risco. O filme não se saiu como nós esperávamos, mas felizmente o lado ruim disso foi bem limitado”

Enquanto o modelo financeiro parece forte, a ideia de fazer franquias do estúdio não é das melhores, Deuses do Egito é uma clara tentativa de fazer um novo Fúria de Titãs, ação genérica cheia de CGI em uma nova mitologia, quando a clara tendência mostra que as pessoas não querem mais ver esse tipo de filme e me espanta até um dia as pessoas terem gostado desse tipo de longa. O sucesso mediano da sequência de 300, o semi-fracasso de Imortais e até o desinteresse por fechar a própria trilogia Fúria de Titãs deveria ter mostrado algo.

Além disso, o marketing de Deuses do Egito foi pavoroso, somado a isso a polêmica sobre só terem atores brancos interpretando egípcios e ao péssimo uso de CGI, e ao péssimo CGI em si, era impossível esperar outra coisa se não o fracasso do filme, que para terminar, ainda é bem ruim, embora Proyas não queira admitir.

Interessante notar que os dois maiores sucessos recentes do estúdio, Jogos Vorazes e até Crepúsculo (romances adolescentes e sobrenaturais não estavam em voga como estão hoje), eram bem menos óbvios em sua época, demonstrando que talvez falte coragem ao estúdio hoje, coragem de aprovar um filme de ação com uma protagonista feminina sobre crianças se matando.

As próximas apostas da Lionsgate são Power Rangers e um remake de A Odisseia. Novamente apostas fáceis, ambas são obras que o público tem conhecimento prévio, o que facilita o marketing. Mas eu sinceramente duvido que Power Rangers seja um sucesso e até mesmo A Odisseia se seguir o esmo estilo “Fúrias de Titãs”. A menos que o estúdio se arrisque com uma visão diferenciada para esses filmes, novos fracassos são esperados.

E até quando será que esse “modelo financeiro forte” vai aguentar antes de fazer o estúdio quebrar, fracasso após fracasso?
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