Jogos Vorazes: A Esperança – O Final | Crítica


Jogos Vorazes: A Esperança – O Final mostra Katniss exatamente do ponto em que parou a primeira parte do filme lançada em 2014, após descobrir que Petta foi submetido a uma espécie de hipnose, usando o veneno das famosas teleguiadas, que o faz pensar que ela é sua maior inimiga. Em conjunto com o transtorno momentâneo causado pela situação, a protagonista terá que mais uma vez jogar junto com a presidente Alma Coin, pois só assim será possível derrubar o império da capital.

O capítulo final da saga é marcado por cenas e diálogos que com certeza deixarão qualquer pessoa com lágrimas nos olhos, ou ao menos emocionado com isso. Isso é crédito em maior parte pelo fato de termos Josh Hutcherson como o protagonista com amnésia. Sim, a carga dramática do filme gira em maior parte torno de sua recuperação do ataque psicológico causado pela capital e muitas das cenas que mostram essa regeneração são de tirar o fôlego e com certeza atingem em especial quem acompanha a saga literária que deu origem a série.

O filme conta com duração de cerca 134 minutos, sendo que a ação propriamente dita só ocorre após um grande ato inicial para acalmar os ânimos dos tributos que ficaram aflitos com o final chocante do longa anterior. Lentidão que é perdoada, levando em consideração a rapidez e o modo como às cenas mais frenéticas são introduzidas na adaptação cinematográfica.


A direção de Francis Lawrence é mais uma vez satisfatória e submete ao mesmo padrão utilizado anteriormente, já que a primeira e segunda parte do filme foram rodadas em sequência Método muito comum em filmes que apresentam divisão no enredo. O diretor só nos decepciona na direção de cenas de ação, não é algo que compromete a qualidade do filme, mas que pode ser desagradável para pessoas mais desatentas. A rapidez na troca de câmeras é confusa e frenética até demais, mesmo para uma cena de ação. As cenas desse longa em sua maioria se passam em lugares escuros, mais um pequeno ‘erro’ se considerar a junção do problema da edição frenética com a fotografia desvanecida e acinzentada marcante da franquia.

O clima de guerra é um dos pontos que mais chamaram atenção quando os trailers foram liberados, tudo foi construído em cima de um clima morno e com cores apagadas e que realmente nos passa a imersão em um campo bélico, porém na tela do cinema isso foi algo que talvez tenha prejudicado o filme. O acinzentado ficou escuro demais, passando até mesmo a impressão de que alguns personagens eram simples silhuetas em algumas cenas.

Pontos que não dão abertura para questionamentos são os efeitos especiais – atenção concentrada para a cena que ocorre a enxurrada de uma espécie de piche – e  outro é a atuação de Josh Hutcherson como eu já mencionei, que nos deixa frente a frente com um alguém totalmente diferente do menino dócil e gentil dos outros filmes. Uma consciência que encontra-se imersa em torturas e lembranças falsas criadas pela capital, e que com passar do longa nos dá uma aula de como ir de psicótico a restaurado em apenas 134 minutos sem soar falso ou apressado.


É crível que essa seja uma faceta do ator que com certeza lhe renderá convites para outros papéis na mesma linha. Sua atuação não dá brechas para defeitos e imposições, pelo menos não neste capítulo. Decerto lembraremos por um bom tempo do sofrimento passado por Petta Mellark nas mãos do Presidente Snow.

Katniss Everdeen mostra nesse capítulo final que a sorte estava realmente a seu favor, se livrando de diversas armadilhas, ou casulos, como são chamados no filme. Até mesmo um atentado à sua vida ocorre, mas é óbvio que o tordo permanece firme perante todas essas ameaças da Capital.

O roteiro demonstra ser fiel a obra literária, ponto que pode agradar a fãs. Entretanto mostra em alguns momentos uma certa fragilidade para prender a atenção do restante do público. Ainda assim esse é o ponto que menos incomoda no longa.


Se ‘Em Chamas’ e ‘A Esperança – Parte 1’ foi totalmente de Jennifer Lawrence – claro que sem esquecer das memoráveis cenas de Johanna Mason (Jena Malone), o capítulo de desfecho é um caso a parte. Na linha de chegada Jennifer resolveu passar o trono para o parceiro Josh, e deixou a desejar um pouco na atuação.

Entendemos a situação psicológica em que se encontra Katniss. Seu amado tentou matá-la e certamente isso é um choque que deixa qualquer um paralisado. E esse é o problema, essa “paralisia” da personagem dura tempo demais. Lawrence manteve a mesma postura em mais de a metade do filme, o que passa uma impressão de sentimentalismo escasso, ou até inexistente da personagem e consequentemente da atriz.

O quadro muda um pouco de acordo com o desenvolvimento da trama e só aí vemos aquela antiga Katniss corajosa e ao mesmo tempo receosa dos outros filmes, tanto em atitudes quanto em sentimentos.


O filme poderia perfeitamente ser enquadrado em dois gêneros, drama ou ação. Ele trabalha bem nesses dois ambientes e consegue finalizar a distopia com maestria. As cores frias que remetem a melancolia e pobreza dos distrito desde o início da trilogia/quadrilogia, são finalmente substituídas, por cores mais vivas na cena final em um jogo fotográfico clichê, mas que trás um tom mais alegre e ao mesmo tempo de alívio para o espectador.

Apesar do final previsível, o longa consegue superar as expectativas de quem esperava ansiosamente por um fim digno para a história dos adolescentes apaixonados do distrito 12. Uma curiosidade é que Jennifer Lawrence encerra o filme contracenando com seus dois sobrinhos Theodore Lawrence e Bear, fato que muitos ainda desconhecem, mas que é motivo de orgulho para ela.

Certamente o fechamento do filme não é surpreendente, mas vale a pena a pipoca e o tempo gasto. A produção se mostrou competente ao encerrar uma das trilogias mais lucrativas dos últimos anos com um toque de quero mais. Seguramente ‘Jogos Vorazes’ irá deixar um legado para muitas outras distopias que virão, se tornando um padrão de qualidade e sucesso.


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