Primeiras Impressões | Narcos


“¿Plata o Plomo?”



Confesso que foi difícil decidir qual quote usar para abrir este Primeiras Impressões. Afinal, depois de já ter nos apresentado Better Call Saul, Daredevil e Sense8, e no ano que ainda promete Jessica Jones, o Netflix chega com a estreia de mais uma produção autoral que promete ser um sucesso: Narcos. E desta vez, as coisas alcançaram um nível ainda maior de qualidade.


Narcos apresenta a ascensão do Cartel colombiano Medellín, chefiado por Pablo Escobar. Enquanto o Cartel domina o comércio de cocaína para Miami (e o resto da América), violência, ganância e sede de poder ameaçam gente dos dois lados. E é trazendo um combo que já se provou excelente nos cinemas que José Padilha escala seu fiel escudeiro Wagner Moura para estrelar esta produção, que traz um retrato dos anos 70-80, com marcas de uma realidade nada distante, onde perigo é a palavra de ordem.


O piloto, intitulado “Descenso”, começou com uma surpresa: A narração. Sendo aquela explicação em off que simplesmente completa aquilo que estamos vendo, a narração foi uma sacada brilhante. Você é levado a considerar as influências dos pontos de vista na subjetividade da história, já que o narrador é Steve Murphy (Boyd Holbrook), o “protagonista” da série. Como bônus, a narração imprime um tom de documentário à produção – que é mais um dos ingredientes de uma receita com a qual Padilha já marcou o cinema – que estende aquele efeito de “baseado em fatos reais” por todas as cenas.


A abertura é simplesmente fantástica. Combinando uma fotografia (que elogiarei por completo mais a frente) maravilhosa, um conjunto de cenas reais – tudo com respectivas referências bem amarradas ao melhor estilo Homeland – e “Tuyo”, a canção de abertura, interpretada por ninguém menos que Rodrigo Amarante. É assim que Padilha nos reassegura ali, nos primeiros cinco minutos, que o que assistiremos a seguir é uma verdadeira obra de arte.


E já que falei na abertura, não posso deixar de mencionar o massacre na boate, antecedendo a abertura, é uma cena espetacular, não só por ter toda a brutalidade característica dessa vibe anos 80, mas porque, quando somada ao humor deveras crítico dos comentários sobre Nixon que vem em seguida, formam um perfeito exemplo de como a série em si – sim, eu já terminei de ver, e estou revendo para escrever essas linhas – vai conduzir essa dualidade de imagens, mesclando as cenas com imagens reais, levando a verossimilhança do material para um outro nível. Quando a transição entre a narração e a cena que leva a execução dos traficantes é feita, o efeito de “real” continua com você, o que garante que a execução tire as palavras de nossas bocas.


A “fabrica” do Barata também foi outra das surpresas. O processo de fabricação da droga nos é explicado em segundos, como se fosse a coisa mais trivial do mundo, e mesmo assim entendemos exatamente o que precisamos.


A atuação de Wagner Moura dispensa qualquer comentário, porque nada do que eu possa escrever fará jus a incrível dinâmica dele como Pablo Escobar. Não só capturar a essência “histórica” do personagem, mas trazer todo esse clima de máfia old-school que consagrou Coppola, Brando e Al Paccino no Poderoso Chefão.


O personagem tem, ao longo da temporada, várias cenas espetaculares (que comentaremos ao longos das outras reviews), mas como Primeiras Impressões são o que conta por enquanto – não pude resistir... hahaha – é impossível não aplaudir quando ele dobra todos os oficiais na cena da ponte, com direito a um momento “b*tch, please” para completar:




Señores, les voy a decir quién soy. Yo soy Pablo Emilio Escobar Gaviria. Mis ojos están en todos lados.”



Todo o trabalho com dualidade narrativa que a série faz realmente impressiona. Gerar khatarsis por transição, estender o valor emocional de uma sequência para que ela forme uma comparação em nossas mentes enquanto somos imersos noutra cena demanda uma mão habilidosa, e posso dizer que Padilha mais uma vez provou do que é capaz.


Bom, por hora é isso. Nos veremos várias vezes nos próximos dias, nas reviews detalhas de cada episódio (sim, vamos passar um bom tempo juntos... hahaha), mas já me estendi demais para um Primeiras Impressões. A série combina uma trama muito boa e um roteiro excelente a uma direção e uma fotografia espetaculares (ambas brasileiras). O tráfico colombiano, a ascensão do Cartel Medellín, a complexidade do mundo do crime e a entrada definitiva da cocaína em Miami, tudo isso, mesmo sendo narrado e visto por Murphy, não deixa de ser permeado por Escobar. O fato é que, terei que esperar por Jessica Jones para poder ter certeza, mas Narcos já agarrou sua colocação entre as melhores – bem perto de ser a melhor – séries do ano. Então, não deixem de comentar e compartilhar o texto, e fiquem ligados para as próximas reviews. E, como a maioria das minhas despedidas não combina muito com a força do espanhol que a domina o tempo de cena da série, vou pegar emprestado do T-800 e dizer: Hasta la vista, baby.

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