O Exterminador do Futuro: Gênesis | Crítica

De acordo com o calendário chinês, 2015 é o ano do carneiro. Criatividade e apreciação das melhores coisas da vida são as características dele. No cinema, 2015 parece ser o ano dos remakes. Remakes que não são bem remakes e nem reboots, já que não reiniciam nem recontam estórias passadas, mas, sim, dão continuidade aos clássicos utilizando elementos deles para conquistar um novo público e agradar o antigo. A fórmula até agora parecia funcionar: Mad Max: Estrada da Fúria e Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros surpreenderam e foram elogiados por público e crítica. O mesmo não acontece em Exterminador do Futuro: Gênesis.

Antes de falar do filme em si, gostaria de dizer o quanto os trailers e o material de divulgação têm estragado os filmes. Se você já viu os trailers ou os cartazes de Exterminador do Futuro, sinto muito te dizer, mas já lhe foram mostradas todas as reviravoltas da trama e isso, querendo ou não, acabará prejudicando sua experiência ao vê-lo. O próprio diretor do filme, Alan Taylor (Thor: O Mundo Sombrio), afirmou que a campanha de marketing soltou mais do que devia e entregou elementos chaves. No entanto, isso não é exclusividade desse filme, já vem acontecendo com outros filmes como, por exemplo, Os Vingadores: A Era de Ultron, no qual as grandes cenas de ação já tinham sido vistas em comerciais para a televisão e trailers. Para aqueles que ainda não viram nada de Exterminador um recado de amigo: NÃO VEJA! Se fugirem desses materiais, com certeza o filme será muito melhor para você do que foi para mim, embora ele não seja lá grande coisa.

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Bom, vamos ao filme agora. Confesso que não fui com grandes expectativas para a sessão. Esperava ver um filme OK e nada mais que isso. Porém, nem essa minha expectativa mediana foi alcançada. O longa começa até que bem, agradou bastante e gostei do que estava vendo e ouvindo nos primeiros minutos: o off de Kyle Reese, a apresentação de John Connor e uma cena de ação inicial, paralelamente desenvolvida com um discurso do líder da resistência, são muito boas, bem feitas e foram além do que eu esperava. O fato da estória, nesse inicio, utilizar elementos e reproduzir cenas da produção original – lançado em 1984 – também foi bem legal e dá um certo ar de satisfação para quem já viu o primeiro filme, porque é interessante ver como roteiro e direção foram cuidadosos ao recria-las. Para minha infelicidade, as surpresas acabaram aí.

Não há nada que nos prenda e leve para dentro do filme, isso faz as cenas de ação ficarem desinteressantes. A própria falta de novidade nessas cenas também contribui e nos faz pensar 'Ei, eu lembro disso!'. A grande maioria delas – para não dizer todas porque eu não sei se são realmente todas – já foram vistas nos quatro longas anteriores. Apesar de tentarem nos ludibriar e dizer que aquilo é algo novo, percebe-se claramente as inspirações e semelhanças com momentos passados da franquia - um exemplo é a cena do ônibus, no segundo e no terceiro filme era um caminhão. Além disso, as tentativas de explicar as mudanças nessa nova linha temporal prejudicam e travam o ritmo e desenvolvimento da narrativa e fazem o roteiro ficar confuso e as ações da Skynet sem lógica alguma.

Emilia Clarke e Jai Courtney convencem bem como Sara Connor e Kyle Reese, respectivamente. O mesmo não se pode dizer de Jason Clarke, que dá vida a John Connor. O ator, muito elogiado por seu desempenho em Planetas dos Macacos: O Confronto, não desenvolve aqui o seu melhor. Para tirar um pouco do peso de suas costas, é bem verdade também que os problemas no roteiro prejudicam muito e minam a força de seu personagem. Toda a mística e força construída para John Connor nos outros quatro filmes – e também no começo desse  - é praticamente jogada fora. Não entrarei em detalhes de como e porque de isso acontecer para não dar spoilers, porém, é bem triste ver que com tantas opções e escolhas que poderiam ser feitas eles escolheram justamente a que compromete e enfraquece o personagem central da narrativa.

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Algo parecido acontece com o T-800 de Arnold Schwarzenegger. De vilão do primeiro filme a herói no segundo, nesse quinto ele é, obviamente, o principal astro e protagoniza a maioria das cenas de ação. Porém, a tentativa de dar ao personagem um carisma robótico exagerado acaba tirando a potência dos filmes anteriores. O grande erro é não saber parar: uma piada que funciona e faz rir na primeira vez é a mesma que irrita quando ouvida pela quinta. Outra coisa que parece ser obrigatório nos filmes com Schwarzenegger são as piadas com a sua idade. Acho que já deu, né? O elenco de Exterminador conta ainda com o ganhador do Oscar J.K Simmons e Matt Smith, o ex-Doctor Who. Eles, no entanto, são muito mal aproveitados e acabam sendo insignificantes. A narrativa poderia se desenvolver muito bem sem eles.

Para não dizer que o roteiro é de todo ruim, a ideia de a Skynet não ser algo que está presente no nosso cotidiano - no melhor estilo Apple e Microsoft - é ótima, porém, mais uma vez, faltou fazer o simples. Se eles pegassem essa ideia e trabalhassem só ela de maneira objetiva, seria fantástico. A intenção de fazer algo épico, complexo e grandioso coloca tudo a perder.

Embora 2015 pareça ser um bom ano para remakes que não são remakes e continuações que não são bem continuações, Exterminador do Futuro: Gênesis surge, até agora, como um ponto fora da curva. Apesar de uma cena pós-créditos – sim, tem cena pós-créditos – sugerir que haverá mais continuações, eu realmente torço para que fique apenas no papel ou então, se vier mesmo a acontecer, espero que os roteiristas viagem no tempo mais uma vez e tentem concertar o que fizeram. Para a franquia do Exterminador o ano do carneiro é apenas para apreciar as melhores coisas do primeiro e segundo filme, a criatividade não deu as caras por enquanto.
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