Arrow - 3ª Temporada | Crítica
O terceiro ano de Arrow segue as batalhas que o ‘Arqueiro’ e os seus aliados têm de travar com diversos vilões. Quando Sara (a ‘Canário’) é morta, eles têm de enfrentar o seu inimigo mais ameaçador até agora: Ra’s al Ghul, o líder da Liga de Assassinos.
O dramalhão segue o padrão do canal, que está entre os mais fracos da TV americana justamente por ter de atender aos gostos e interesses dos adolescentes que fazem parte da sua audiência. É difícil saber
qual o maior problema: se o fato dos adolescentes realmente sentirem atração por este tipo de coisa ou se a covardia da série em desafiar o seu público. Se Oliver Queen é aparentemente (lembrem-se das variações do parecer
) morto, ele deve aparecer
no próximo episódio para tranquilizar os telespectadores. “Calma, calma, ele não morreu de verdade.” Arrow, como todas as produções da CW, afunda em mil e uma intrigas amorosas (sempre envolvendo um triângulo), conflitos familiares, ignorância sobre o funcionamento de sistemas políticos (ou qualquer tipo de administração legal) e aquele velho e estúpido humor de colegial (ao estilo Coringa com ‘damaged’ tatuado na testa, porque você sabe, adolescentes amam ironia).
Os flashbacks são ruins e se conectam ao plot principal de uma forma, no mínimo, conveniente. E por falar nele, que plot? A morte de Sara não teve tanta importância quanto o triângulo amoroso entre Oliver, Felicity e Ray. Tudo quanto me lembro sobre a temporada (que acabou ontem) é que Ra's queria que Oliver fosse o seu herdeiro. Só que isso não faz sentido, pois como já vimos em Flash, Bruce Wayne existe neste universo televisivo. Por que Ra's iria procurar
o Arqueiro Verde para ser o seu sucessor ao invés do próprio Batman? Na verdade, porque não temos qualquer menção ao personagem? Porque o script estava acostumado mostrando 'Olicity', é o porquê.
O elenco continua medíocre. E estou sendo caridoso. As interpretações são tão limitadas e inexpressivas que fica difícil de se escrever sobre, porque logo
vem a imagem de alguma das inúmeras tentativas de Amell de demonstrar
talento. Mas não só ele, todos são igualmente fracos. Em alguns casos, como no de David Ramsey ou Matt Nable, simplesmente suportáveis. Mas Katie Cassidy está em outro nível: ela é capaz de, num único frame, nos fazer esquecer
que a arte da interpretação conta com bons artistas.
Entre tantos personagens – muitos, muitos –, se dois são bem desenvolvidos, já estamos no positivo. A Warner, assim como a Marvel nos cinemas, confunde construir personagens com rechear as suas linhas de diálogo com one-liners. E o melhor: a suposta ‘evolução’ dos personagens é embalada no mesmo casulo de sempre, o mesmo que já vimos ser aberto vezes sem conta. O fardo que é para Oliver ser o ‘Arqueiro’ (esqueçam o ‘Verde’) já foi o fio condutor dos dois primeiros anos, mas aqui nós o vemos diferente. Mas acalmem-se! parece
diferente e é o que importa. Afinal de contas, seria muito esperar
que o público infanto-juvenil que assiste a série notasse alguma redundância na sua conjuntura narrativa. Contanto que algumas caras dos quadrinhos apareçam e que várias flechas sejam lançadas, os roteiristas não terão de se preocupar
em realmente desenvolver
algum personagem.
De todos os personagens, os únicos que valem a pena serem mencionados são Ray Palmer, que só no fim da temporada começa a fazer experimentos com a habilidade de ‘encolher’ – porque, como sabemos, Arrow é ‘realista’ e não poderia ter no seu elenco um personagem que encolhe, não, isto devemos deixar para um spin-off – e Ra’s al Ghul, que novamente é interpretado por um artista caucasiano, mas que pelo menos parece
árabe (e em Arrow são as aparências que importam) e também está mais fiel à versão dos quadrinhos do que o interpretado por Neeson. O que não necessariamente quer dizer
que são bons. O primeiro é divertido, mas cheio de excessos, enquanto o segundo é um vilão eficiente, mas desperdiçado e que não deveria ser utilizado numa série que se vende como protagonizada pelo Arqueiro Verde.
Reside aí outro problema, aliás. Um que todos sabemos desde o primeiro episódio da série. Ou pelo menos os que leram os quadrinhos ou assistiram a ótima animação da Liga da Justiça e conhecem o espetacular personagem que o verdadeiro Arqueiro Verde é. O problema: Stephen Amell, nos 70 episódios em que interpretou o personagem – contando apenas os de Arrow –, não foi, nem uma única vez, o Arqueiro Verde. Nunca. Nem mesmo o herói d’ Os novos 52. Tornou-se uma espécie de piada universal, mas o fato é que sim, o personagem que ele interpreta é o Batman. Pior ainda: um Batman pós-Nolan.
E com o sucesso da trilogia do diretor, o canal mais pastelão dos Estados Unidos decide fazer uma série ‘sombria e realista’ (que não tem nada de nenhum dos dois, a menos que você ainda esteja descobrindo os seus primeiros pelos púbicos) e escolhe para ser o seu protagonista um dos personagens mais divertidos e simpáticos do universo DC Comics. Esqueçam o herói cômico, politicamente engajado e complexo, o Oliver Queen de Arrow é um bilionário amargurado, inexpressivo e que provavelmente não sabe quem é o presidente do seu país – o que combina, porque a audiência da série provavelmente também não sabe –. Este terceiro ano poderia ser a chance perfeita de nos apresentar um verdadeiro Oliver Queen, mas mais do que nunca, tivemos uma nova adaptação (malfeita) de Bruce Wayne, e como se não bastasse, agora com um dos seus principais vilões. Se querem conhecer o Arqueiro Verde como ele é, assistam alguns episódios de Smallville. Sim, a série era terrível, mas com ele ela acertou.
Mas já deveríamos estar acostumados. Desde o seu episódio inicial Arrow tem deturpado os personagens em que se inspira, então vamos apenas tirar alguns minutos de silêncio pelo Exterminador, que foi completamente arruinado na temporada passada... e rezar para que, quem quer que venha a ser o antagonista da próxima leva de episódios, não seja igualmente ridicularizado.
Arrow supervaloriza a parte ruim do público juvenil e menospreza os que, independente da idade, já estão se aventurando pelo que verdadeiramente vale a pena na televisão americana. Se importa com os jovens que não estão se perguntando como os persongens podem ir e vir de Nanda Parbat múltiplas vezes no mesmo dia. O problema é esse, não o fato da série ser direcionada a um público jovem. Buffy, a Caça-Vampiros era um drama adolescente e era divertidíssima. Mas Arrow não assume o que é e, pior, continua partindo do princípio de que The Big Bang Theory representa todos os jovens, enquanto muitos só querem saber da próxima temporada de Louie ou de Arrested Development. E de alguma forma, ela é recompensada por isso.
Superior ao primeiro ano e inferior ao segundo (que apesar do Exterminador de quinta categoria e algumas imbecilidades, ainda é ‘legal’), no seu terceiro ano, Arrow conseguiu se manter na mesma trilha de mediocridade que sempre percorreu. Ótimo para quem está tendo os seus primeiros contatos com a televisão, com os pobres entusiastas que conseguem apenas imaginar se existe algo de melhor ou com os eternos fãs xiitas da editora, que estão sempre de arsenal carregado de rótulos como ‘marvete’ para atirar contra quem vê Arrow pelo que ela é: uma série idiota tentando ser encarada como material da HBO e que três anos depois ainda não conseguiu nem mesmo fazer jus ao seu personagem-título.
Arrow é a materialização daquela fase da puberdade em que sabemos que ainda somos crianças, mas queremos ser tratados como adultos. E todos, eventualmente, sentimos vergonha dessa fase.