Mapas para as Estrelas | Crítica
Cronenberg se contorce por um túnel fétido. O longo caminho que percorre desemboca numa dimensão paralela, onde celebridades são anomalias sociais e os fármacos artigos em leilões. Talvez não tão paralela. Talvez o túnel não seja tão longo. Talvez Hollywood não seja tão glamourosa.
A jovem Agatha (Mia Wasikowska) retorna a Los Angeles após muito tempo e torna-se assistente de Havana Segrand (Julianne Moore), uma atriz cuja carreira está em decadência e que vê como sua salvação pessoal a possibilidade de conseguir o papel principal no remake de um longa protagonizado por sua mãe décadas antes. Enquanto isto, Benjie Weiss (Evan Bird), um astro mirim, enfrenta diversos problemas psicológicos que o assolam, como o seu histórico toxicodependente e o ego destrutivo dos seus problemáticos pais.
Mapas para as Estrelas é asqueroso. Repulsivo. Abertamente pútrido. É como cutucar com um dedo imundo uma ferida infeccionada. O seu roteiro é uma larva de lixo que engorda mais e mais a cada colóquio doentio, a cada facada que desfere contra o mundo do estrelato, a cada obscenidade incestuosa. Uma brilhante crítica ao império doentio da arte. Converte em novela o complexo da fama.
A articulação visual do filme é excessivamente requintada e moderna, com tons de cores que nós, a ralé, sequer conhecemos. Faz borbulhar o sentimento de inveja, ao menos até colocar novamente em tela os proprietários hediondos das belíssimas mansões e automóveis. Os efeitos especiais são horrendos, mas fica a impressão de que também foi proposital.
O cast não tem qualquer pudor. A ausência de música em quase todos os momentos deixa o espectador confortável, mas são as suas performances que forçam a garganta e o vômito. Moore e Wasikowska estão particularmente bem. Os atores e atrizes de Mapas desaparecem numa cortina de depravações, químicos, vaidade e sangue. Exatamente como o diretor pretendia, é impossível simpatizar com qualquer um deles.
Mapas para as Estrelas preza pela estranheza. Entope a tela com astros na pele de astros e toda a sorte de porqueira. Cronenberg vandaliza a indústria duma forma que Birdman jamais teria os colhões de fazer. Ótima sátira, sim, porém acaba se esfiapando num horror usual de Cronenberg. Não pela prosperidade da violência, mas pelo discurso descomedido. Mapas que acabam não indicando a lugar algum.