Drácula | O homem que originou a lenda

O que vem a sua cabeça quando ouve a palavra Drácula? Muitos talvez imaginem um vampiro sedento por sangue morando em um castelo. Essa imagem muito se deve provavelmente ao entretenimento (filmes, jogos, series e livros) que a construiu com o passar do tempo. Mas o nome Drácula é muito mais antigo do que você talvez imagine, e a pessoa que o usou praticou atos que a tornaram merecedora de tal alcunha. Que tal conhecer um pouco da história dele? Mas primeiro você precisa saber mais sobre a época em que ele viveu.




[caption id="attachment_65356" align="alignright" width="150"]Insígnia da Ordem do Dragão. Insígnia da Ordem do Dragão.[/caption]

Era o século 15 e uma época muito turbulenta. O Império Otomano começava a avançar sobre a Europa. O país de origem de Drácula, a atual Romênia, dividia-se em três estados: Transilvânia, Valáquia e Moldávia. Seu pai, Vlad II o então príncipe da Valáquia, enfrentava os turcos otomanos, já que seu pequeno principado era a porta virtual dos orientais para os países europeus. Em 1431 Vlad II junta-se a Ordem do Dragão, cujo um dos objetivos era o combate aos turcos. No mesmo ano nasce na Transilvânia seu segundo filho, Vlad III. Após entrar para a Ordem do Dragão Vlad II adota o apelido “Dracul” (o Dragão). Com o tempo, porém, Vlad Dracul se alia aos turcos e envia seus dois filhos, Vlad III e Radu, como reféns do sultão. Em 1447 Vlad II Dracul e seu filho mais velho Mircea II são assassinados e em 1448 Vlad III retorna para a Valáquia e assume o trono com apoio turco.




[caption id="attachment_65355" align="aligncenter" width="750"]A Transilvânia e seus distritos (verde), a Moldávia e seus distritos (vermelho) e a Valáquia e seus distritos (azul). Divisão administrativa da Romênia no século XIV A Transilvânia e seus distritos (verde), a Moldávia e seus distritos (vermelho) e a Valáquia e seus distritos (azul). Divisão administrativa da Romênia no século XIV[/caption]

Em três momentos Vlad III governou a Valáquia. Seu primeiro reinado como voivoda (título máximo na Romênia medieval) em 1448 durou apenas dois meses. João Corvino, governante da Hungria que fora inimigo de seu pai, força Vlad III a fugir e o substitui por seu próprio candidato. Porém o fantoche de Corvino institui uma política pró-otomana e Vlad III e João Corvino formam uma aliança, com Vlad permanecendo sob sua proteção até 1456 quando surge o momento de atacar. Nesse mesmo ano Corvino invade a Sérvia e Vlad a Valáquia, onde o último obtém sucesso na reconquista do seu trono mas o primeiro morre. Após a morte de João Corvino, Vlad apoia os turcos até fortalecer sua posição, seu segundo reinado foi de 1456 até 1462 sendo nesse período que sua fama se espalha.




[caption id="attachment_65357" align="aligncenter" width="725"]Retrato de Vlad III Draculea. Ele também foi chamado de Vlad Tepes (Empalador) e Kazikli Bey (“Príncipe Empalador” em turco). Retrato de Vlad III Draculea. Ele também foi chamado de Vlad Tepes (Empalador) e Kazikli Bey (“Príncipe Empalador” em turco).[/caption]

Ele também adota o nome Draculea (filho do Dragão), ou Drácula, havendo várias histórias e lendas sobres seus atos de crueldade. Conta-se que certa vez Drácula convidou os boiardos (membros da aristocracia) insatisfeitos com seu governo para que se expressassem durante um grande jantar. Após eles falarem, o príncipe os questiona sobre a quantidade de governantes que entraram e saíram, em seguida os culpando por tal situação. Ordena então aos seus guardas que empalam todos os convidados fora dos muros do palácio.


Um manuscrito romeno do século XV relata que numa manhã de Páscoa, soldados retiraram 300 boiardos e suas famílias da missa para que trabalhassem como escravos na construção de um castelo para o voivoda. Homens, mulheres e crianças foram acorrentados e forçados a trabalhar, muitos sucumbiram e morreram.


A principal forma de execução empregada por Drácula era o empalamento. Segundo relatos, ‘um cavalo era ligado em cada perna da vítima e uma estaca não muito afiada era forçada dentro do seu corpo. Normalmente era embebida em óleo e não podia ser muito afiada para a vítima não morrer rapidamente de choque’. Em geral eram introduzidas pelo ânus ou vagina e saia pela boca. Bebes também eram pregadas no peito das próprias mães. Relata-se que era costume de Drácula saborear comida e vinho numa mesa só para si enquanto as vítimas agonizavam nas estacas.




[caption id="attachment_65358" align="aligncenter" width="398"]Ilustração alemã do fim do século XV mostrando Drácula almoçando em meio as vítimas empaladas . Ilustração alemã do fim do século XV mostrando Drácula almoçando em meio as vítimas empaladas .[/caption]

Com o tempo Drácula expandiu suas atrocidades para além da Valáquia, indo para a Transilvânia, sobre o pretexto de desencorajar rivais políticos. Seu ataque mais brutal foi na cidade de Brasov, nas Montanhas dos Cárpatos. Incendiou a cidade e os que não foram empalados tiveram os corpos picados, um pedaço por vez. Enquanto esse show de horror acontecia ele estava jantando na sua mesa como de costume. A tradição oral romena costuma enfatizar o duro tratamento do príncipe aos criminosos. Tamanho era o sucesso de sua política que ele erigiu um pedestal na sua capital com uma peça de ouro que nunca foi roubada durante todo o seu reinado.




[caption id="attachment_65359" align="aligncenter" width="550"]Bonecos empalados no Castelo de Bran, antiga residência de Drácula, dão uma ideia de como ficavam as vítimas do Príncipe Empalador. Bonecos empalados no Castelo de Bran, antiga residência de Drácula, dão uma ideia de como ficavam as vítimas do Príncipe Empalador.[/caption]

Mas Vlad Drácula não era apenas um assassino em massa também era um habilidoso estrategista. Em 1458 o sultão manda emissários cobrar o tributo já atrasado a 3 anos. Drácula devolve os corpos dos mesmos com os chapéus pregados em seus crânios porque não os tiraram diante da sua presença. Enfurecido o sultão o chama a uma cidade próxima ao rio Danúbio planejando embosca-lo no caminho. Drácula não caiu na armadilha e escreve concordando com o encontro mas dias antes da data marcada sai com um pequeno exército e avista uma vanguarda turca. Mesmo em desvantagem consegue embosca-los e derrota-los. Quando enfim o sultão chega ao Danúbio avista ao longo da margem do rio suas tropas empaladas, diante disso o sultão recua e volta para Constantinopla.


Mesmo assim era questão de tempo até os otomanos retornarem. Vlad mesmo se esforçando em montar um exército não consegue fazer frente a gigantesca tropa otomana que invade seu território e marcha direto para sua capital, Tirgoviste. Drácula passa a destruir vilas e pontes, envenenar poços e derrubar árvores para dificultar o seu caminho. Usando táticas de guerrilha ele até chega a causar danos mas é na guerra psicológica que ele obtém sua maior vitória. Durante anos foram capturados soldados e espiões turcos que foram mantidos vivos caso precisassem, cerca de 20 mil deles. Quando o exército turco chegou em Tirgoviste lá estava: 20 mil dos seus conterrâneos empalados cercando os muros da cidade! Chocados com tamanha atrocidade e apavorados o exército otomano recua para bem longe da capital.


Mesmo lutado com coragem e inteligência isso não impediu que os turcos o obrigassem a fugir da Valáquia. Ele busca refúgio com Mathias Corvino, Rei da Hungria. Mas o rei o prende numa torre por 12 anos. Porém gradualmente ele ganha a confiança da corte húngara e casa-se com um membro da família real. Com o tempo Mathias Corvino e o rei Estevão da Moldávia resolvem apoiar a volta de Drácula ao poder e mais uma vez ele consegue o trono em 1476. Mas seu terceiro e último reinado duraria pouquíssimo tempo. Quase todas as tropas dos reis Mathias e Estevão retornaram, ficando apenas um fraquíssimo contingente. Além disso o reinado de terror de Drácula ainda era fresco na memória dos valaquianos que estavam agora cansados. Quando o sultão Maomé se recupera das derrotas e retorna, Drácula está quase sem exército e abandonado pelo próprio povo. Numa batalha perto de Bucareste em dezembro de 1476 Vlad III Drácula é morto, decapitado e a cabeça levada a Constantinopla onde o sultão a manteve exposta numa estaca. Seu corpo foi enterrado em Snagov.




[caption id="attachment_65360" align="aligncenter" width="725"]A casa em que Vlad Drácula nasceu em Sighisoara, Transilvânia, hoje é um restaurante. A casa em que Vlad Drácula nasceu em Sighisoara, Transilvânia, hoje é um restaurante.[/caption]

A cultura pop já bebeu muito do cálice de Drácula, a começar pelo livro de Bram Stoker, Drácula, de 1897. Drácula – A História Nunca Contada, de 2014, foi o último filme mostrando Vlad se tornando uma criatura das trevas para salvar o filho. E em 2010 o jogo Castlevania Lords of Shadow contou o surgimento do Conde Drácula e sua ligação com os Belmont.


Com base no que você leu aqui Drácula era um herói ou vilão? Para os turcos ele foi um tirano cruel e desumano mas para os romenos ele é hoje um herói nacional, homenageado de diversas formas na Romênia. Para muitos romenos ele foi alguém que defendeu seu pequeno principado de um império poderoso e que não foi o pior líder de seu tempo. E o que você acha?








Bibliografia
A Verdadeira História de Drácula – O Aprendiz Verde
A História Real de Vlad Tepes – Assombrado
Drácula: Filho do Dragão – Guia do Estudante
Vlad, o Empalador - Wikipedia

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