Pitching | Como vender seu roteiro para tv? – Parte 2


Essa é a segunda e última parte do especial sobre Pitching de roteiros para cinema e especialmente TV que nós começamos aqui no EdenPop, na primeira parte nós falamos sobre O que é Pitching, sobre algumas sessões de Pitching que eu já assisti e sobre Casos Famosos de Pitching que já aconteceram, dentre eles alguns recentes bem interessantes como Breaking Bad e True Detective.
E agora nessa segunda parte, para finalizar o assunto, vamos te dar uma ideia de como preparar o seu Pitching, dando dicas e conceitos e não firmando uma base a se seguir. Também vamos dar um exemplo de Pitching pronto, que eu escrevi de forma completamente original e nada copiada (¬¬) e por fim, algumas dicas sobre o que fazer, agora que você tem seu Pitching planejado, quem procurar e como conseguir contatos nos EUA e principalmente no Brasil.

Então vamos começar?

E lembrando que você pode ler a parte 1 da matéria no link abaixo:

Pitching | Como vender seu roteiro para RV? - Parte 1

Como preparar seu Pitching

10 minutos ou menos, essa é a principal regra para começar a preparar seu Pitching, o caminho até uma conversa com uma TV é longo e difícil e mesmo se você conseguir conversar com alguma, saiba do seguinte, você não é especial, há milhares que estão tentando, centenas que conseguiram (só nesse mês) e o tempo deles é valioso, portanto, você não terá mesmo mais do que 10 minutos, mesmo no Rio Content Market, onde as sessões de Pitching era para uma plateia em conjunto com as emissoras de TV, quase um show a parte, era apenas 15 minutos de tempo, portanto se prepare para falar pouco, mas falar bem.

Uma logline, tipo aquela de Gilmore Girls que eu mencionei na outra parte da matéria “Uma série sobre mãe e filha que são tipo melhores amigas”, é uma das coisas mais importantes possíveis em um Pitching, pois é como você pode iniciar seus discurso e desde já, prender ou não a atenção dos ouvintes, de fato, se você prender a atenção de alguém na primeira frase, você está com meio caminho andado.

Geralmente um bom formato para uma logline é:
“Esse é um (gênero aqui: drama) sobre um/uma (descreva o protagonista: professor com câncer) que quer/precisa (o que ele precisa aqui: vender Metanfetamina) para (conflito: deixar dinheiro para a família, antes de morrer)”
 Claro que você não precisa seguir esse formato exatamente, mas tá aí um bom exemplo de como funciona e que já te dá algumas ideias para criar a partir de então.

Uma outra coisa que muita gente usa é “isso encontra aquilo”, por exemplo, eu estou supostamente escrevendo uma série sobre bandidos, mas que em um determinado momento acaba virando uma ficção científica super elaborada. Eu poderia dizer em uma apresentação que “A série é como Pulp Fiction encontra A Origem” e na minha cabeça está bem claro o que eu quero dizer, mas em 10 minutos eu não tenho bem como explicar isso e nos ouvidos de alguém isso pode soar como “Uma série sobre varias narrativas com uma cidade dobrando no meio” ou pior “é um filme de dança, droga e onde vai aparecer o Leonardo DiCaprio explicando coisas pra Ellen Page o tempo todo”. Nunca se sabe.

Apesar dessa técnica ter sido bem sucedida com o caso de Alien, que eu disse lá em cima “Tubarão no Espaço”, é uma coisa perigosa que pode acabar com sua apresentação se não for milimetricamente bem pensada.

Se você procurar por aí, em inglês especialmente, você vai achar diversos sites dizendo “As 10 principais regras ao fazer um Pitching” ou prometendo “7 segredos milagrosos que vão fazer seu Pitching virar série” e todo mundo fala a mesma coisa com outras palavras, eu não vou fazer isso e vou dizer apenas o básico.

-Você tem 10 minutos, isso ficou claro.
-Faça uma boa Logline.
-Defina quem é ou quem são seus protagonistas e o que eles querem.
-Defina o conflito que eles têm. (Um cachorro atravessando a rua é uma cena onde pode ter um conflito ou não, basta a rua estar vazia ou movimentada)
-Defina como a história se desenvolverá a partir daí, não conte a história inteira, você só tem 10 minutos e seu tempo já deve estar acabando, mas dê uma ideia de até onde ela pode chegar.
-Escreva seu Pitching, mas não o leia, nem o memorize, apenas use o que escreveu como guia e fale apaixonadamente sobre o projeto, é quase certo que só é produzido quem tem paixão pelo que esta apresentando, não precisa ficar igual a um doido falando sobre o assunto, só mostre que você realmente gosta da sua ideia.
-É bom também colocar um trecho de roteiro, um dialogo impactante ou algo assim, especialmente se for uma comédia, uma das piadas do roteiro, porque isso dá uma ideia rápida de como você escreve.
Pronto acho que é isso, existem outros lugares que você pode dar uma olhada para se preparar mais para uma reunião de Pitching, mas isso aqui é para você ter uma ideia boa do que fazer e fique ciente que o melhor que você pode conseguir no Pitching é ser chamado para uma reunião posterior e mais longa, onde aí sim, você vai poder falar de tudo o que você precisar sobre sua série/filme.

Agora para não deixar essa explicação muito solta, eu vou dar abaixo um exemplo de Pitching onde eu uso tudo isso que eu mencionei acima, então vocês vão conseguir fazer uma ligação entre a explicação e a prática.

Exemplo de Pitching

Vamos imaginar que eu esteja escrevendo uma série sobre, bem, um traficante de Metanfetamina que decide que vai virar professor de química e largar sua vida de crimes… tipo isso. Então deixe-me tentar escrever um Pitching que use os elementos que eu citei acima.

Antes, vale aqui um link com a transcrição em inglês da apresentação de um Pitching para um filme, chamado de Destiny, que não foi aprovado, mas que ficou bem próximo de ser e passou por algumas fases de produção antes de ser descartado:

Agora, vamos ao Pitch:

Breaking Good
Gênero: Comédia (30 minutos)
Autor: Jefferson Navarim

Logline: “Um traficante de Metanfetamina após pegar AIDS, decide que vai mudar sua vida e se transformar em um Professor de Química e em uma boa pessoa.”

Como é: “É como Breaking Bad, só que ao contrário”

O Pitch: O tiozão Walter Black, que é conhecido no mundo do crime como o Cozinheiro, passou a vida nos piores e nos mais perigosos tipos situações, metido na vida do crime desde cedo, aprendeu muito em suas aulas de química da faculdade e daí tirou proveito do único conhecimento real que a química pode te prover, cozinhar metanfetamina!

E ele faz isso para o dono de uma rede de fast food de fachada, que vende comida italiana no frio norte dos EUA. Até o momento em que ele se descobre com AIDS e decide mudar de vida, usando seu conhecimento aplicado de química em algo mais nobre, ensinar! E assim começa sua jornada para o bem, onde ele tem que esconder de seus amigos e de sua gangue o seu novo eu, bondoso e calmo, fingindo ainda ser um criminoso mal e perigoso, assim como seu parceiro, Jesse Blueman, que vira seu estagiário nas aulas.

O tema completamente emocional, edgy, de ponta e groundbreaking da trama dessa série, com certeza chamaria a atenção por todos os motivos (errados), alguns poderiam acusar uma certa semelhança com Breaking Bad, mas não estariam vendo todo o contexto inovador e vertical (?) que essa narrativa pode trazer.

Há material infinito de histórias para se contar com essa premissa e já existe material pronto para as 56 primeiras temporadas.

Trecho:

Jesse Blueman: “Você está no negocio de se redimir ou está no negocio de ensinar crianças?”
Walter Black: “Estou no negocio de ser canonizado!”

E agora?

Entretanto, agora que você sabe tudo sobre Pitching, a parte de como chegar a falar com alguma TV é a parte difícil, é claro que nos EUA, é tudo mais fácil, você contrata um agente, ele tem os contatos, se o agente for bom ele pode conseguir uma reunião pra você, se não, você vai pagá-lo atoa. Sistema ruim, mas simples!

No Brasil muitos canais fazem concursos e editais extremamente burocráticos para você sequer conseguir falar com eles esses 10 preciosos minutos, naturalmente no Brasil o excesso de burocracia dificulta tudo, nos EUA, essa é uma indústria que precisa funcionar e que é levada a sério, portanto, se você é brasileiro e quer escrever algo pra TV nacional se prepare para um bom trabalho burocrático ou um bom “quem indique”, entretanto é também aconselhável que antes de procurar uma TV, você procure ou monte uma Companhia de Produção, procurar uma é tão fácil quanto o resto, ou seja, nada fácil. Montar uma pode ser prático em determinados pontos, mas isso se você tiver dinheiro porque tem impostos a pagar, você tem que contratar os profissionais certos e custa uma baita grana e tem uma burocracia ainda mais absurda, mas é uma opção para quem pode.

A vantagem de estar com uma Produtora, é que você terá profissionais especializados que vão dar ao canal certas informações que você não teria, como as informações quanto a custo de produção e orçamento para locações, coisa que você e eu aqui de casa não conseguiríamos calcular sem um contato prévio com esse mercado.

No Brasil, as coisas são bem difíceis mesmo, mas considerando que você conseguiu se afiliar a uma produtora que já tem projetos em prioridade caminhando, ou que você é cheio da grana (me liga) e montou a sua própria, ou mesmo se você decidiu ir sozinho, com a cara, o roteiro e a coragem falar com os canais de tv, ainda há um novo contraponto a se enfrentar, aqui no Brasil a indústria se autoglorifica ao ponto de não permitir que você fale com ela, você tem que, na grande maioria das vezes, se cadastrar através de editais ridiculamente burocráticos, aos quais eu já mencionei acima.

Seguem aqui dois exemplos de editais, esse da Cartoon Network em busca de uma nova animação: http://forumbrasiltv.com.br/programa/pitchingcartoonnetwork/ e aqui uma inscrição de Pitching para uma TV do Paraná: http://redeglobo.globo.com/platb/rpctv-revistarpc/2013/02/18/prepare-seus-projetos-e-participe-do-pitching-rpc-tv-2013/ ambas as inscrições estão fechadas, mas é só você ficar de olho na internet que sempre está rolando algo do tipo.

Outra dica valiosa é a que eu dei no inicio da 1° parte, o Festival do Rio e o Rio Content Market, que são grandes eventos que podem com certeza ajudar a abrir portas, ainda que você não consiga se cadastrar em uma das disputadas sessões de Pitching aberta, talvez você nem queira isso, você consegue contato com diversos profissionais da área com quem você pode conversar e marcar uma reunião. O próprio http://forumbrasiltv.com.br/ é um bom lugar pra isso, mas não é o único, o segredo é você saber procurar bem, alias, se vocês souberem de outros, por favor, deixem nos comentários para complementar o post.

Agora, vamos de vez tirar o elefante branco da sala? E Hollywood? Claro que quem quer ser um roteirista de TV ou cinema é porque gosta de TV e Cinema e geralmente quem gosta desses dois foi e muito inspirado por Hollywood e outros mercados que vão além do Brasil, que basicamente tem como TV as Novelas e por muito tempo teve nos cinemas somente Pornochanchada, hoje, depois de uma tentativa de renascimento do cinema nacional, nós só temos comédias picantes e sem graças (como vemos AQUI num outro estudo que fizemos sobre o cinema nacional em 2013). Por isso é claro que o sonho de qualquer um é fazer disso, ser roteirista, o que já é difícil, ser internacionalmente difícil, é um outro nível de glamour e eu só tenho uma realidade para você, se é isso o que você quer.

A verdade sobre quem quer escrever para Hollywood é apenas uma, ou você desiste, ou você realmente aposta nisso. Lembra do caso do Pitching de True Detective que eu mencionei na Parte 1 dessa matéria? Pois bem, Nic Pizzollatto largou tudo e foi morar em Los Angeles, largou emprego, casa e tudo mais e foi correr atrás de seu sonho apenas com 6 roteiros escritos e com a confiança de que eles eram bons o suficiente para realizar esse sonho.

Bem, não estou te aconselhando a largar tudo e ir para Los Angeles agora, na verdade eu meio que estou, mas você pode ser mais cauteloso, só um pouco também, não exagere na cautela, e apenas ir dar uma passada por lá. Antes de mais nada, se você está lendo esse paragrafo aqui, você está interessado nisso e se você está interessado nisso você sabe falar inglês, já que você sabe falar inglês, eu aconselho esse texto: http://johnaugust.com/2011/no-hollywood-for-him de Bradley Jackson, um roteirista de 26 anos que mora em Austin, longe de Los Angeles. E embora seja ainda nos USA, bem, é quase tão longe quanto o Brasil pro povo de Hollywood.

Nesse texto acima, Bradley dá varias dicas de como ser um escritor sem morar em L.A. que pode ser uma boa pra você que pode dar uma viajada para lá de vez em quando, é bom também, além disso, dar uma lida sobre visto de trabalho nos EUA, porque depois que você apresentar seu Pitching e deixar o cara da Warner chorando e assinando um cheque, você vai dizer, “mas oh, meu sotaque é estranho assim porque eu sou brasileiro, mas a forma de trabalho pode ser essa, desse jeito, assinando tal papel e com tal burocracia” eles não vão querer fazer negócios com você se você não tiver certeza se sequer pode fazer negócios com eles.

Antes de terminar, existe uma coisa que eu percebo muito na internet entre os supostos escritórios e roteiristas que nunca publicaram nada, que é o medo de ser plagiado, sempre que existe um concurso ou algum tipo de divulgação esse medo é constante entre as pessoas, mandar um texto para uma editora então é um absurdo de paranoias, então se você tem medo de expor suas ideias para que elas não sejam copiadas, você está na indústria errada, ainda se as suas ideias de um Pitching forem copiadas, bem, é a vida, porque você está apresentando apenas um conceito no Pitching e de acordo com as leis de Copyright, um conceito não está sobre proteção de Copyright, apenas uma obra completa. E outra, mudando um pouco de assunto, porque uma editora ia receber seu livro, pronto, você um autor desconhecido e ia gostar tanto de sua ideia, tanto mesmo a ponto de pedir para uma outra pessoa reescrever aquilo tudo correndo o risco de ser processada depois, enquanto ela poderia te explorar com um contrato pavoroso que você vai aceitar porque é sua grande chance? O mesmo vale para Pitching? Mas de qualquer forma, faça tudo por escrito que pode te ajudar em alguns casos onde você possa precisar ser ajudado.



Enfim, eu acho que isso é tudo, uma matéria sobre uma coisa que dura 10 minutos ganhou mais de 15 páginas A4, um post em duas partes, muitos links externos e ainda assim eu considero só arranhar a superfície do que é o Pitching e isso é só um pedaço pequeno, mas importante de sua trajetória como roteirista, bem, realmente esse emprego não é pra qualquer um, mas se você ainda insiste nele, parabéns, você está no caminho certo, boa sorte com os Pitching.
Patreon de O Vértice