O Rei de Amarelo - Robert W. Chambers | Crítica

A série True Detective, hit instantâneo da HBO e uma das melhores obras televisivas dos últimos anos, trouxe para os fãs de ficção fantástica várias referências de clássicos do passado, sendo um prato cheio para aqueles ávidos por uma obra que mesclasse com primor roteiro, atuações e produção.

E uma das maiores referências da série é – até pouco tempo atrás inédito – O Rei de Amarelo, livro de Robert W. Chambers. A obra foi originalmente publicada no século XIX, mais precisamente em 1895, sendo referência para vários autores clássicos, como H.P. Lovecraft – outra referência presente em True Detective – e o aclamado Neil Gaiman.

Após o sucesso da série, o livro foi rapidamente publicado no Brasil, sendo lançado em Abril deste ano. As 256 páginas possuem um capricho extremo na edição, com várias notas e referências, além de uma excelente introdução de Carlos Orsi, explanando sobre influências, enredo geral e influenciados pela obra e o autor.

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O livro pode ser dividido em 3 partes distintas. No total, o livro possui 10 contos, alguns com 10 páginas e outros com mais de 40. Os primeiros 4 contos – os melhores do livro – possuem um tom fantástico que lembra muito Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft. As histórias possuem algumas conexões, inclusive explanadas nas notas de cada conto, e citam uma obra fictícia que seria a origem de uma série de eventos fantásticos macabros. Esta obra, conhecido como O Rei de Amarelo, é uma peça dividida em dois atos, sendo o segundo ato considerado macabro e indigno de qualquer comentário ou discussão entre as personagens do livro. Estas quatro primeiras histórias são espetaculares e revelam a capacidade do autor de criar fantasias e clímax em poucas páginas. Os contos A Máscara e No Pátio do Dragão são daqueles que o farão recordar da história para sempre, como os contos O Gato Preto ou O Coração Delator, de Poe.

A segunda parte do livro, considerada uma transição, mostra contos ainda fantásticos, mas em um tom mais realista e menos fantástico / macabro.

A terceira – e mais fraca – parte do livro é composta por quatro contos de cunho realista, lembrando inclusive histórias de autores brasileiros, como Machado de Assis, fugindo totalmente do tema abordado no início do livro, embora haja sutis referências que possam criar um universo relacionado com os eventos e a peça O Rei de Amarelo.

O livro se trata, portanto, de uma antologia de contos de um autor até então desconhecido do público brasileiro, acostumado a idolatrar outros autores de horror. Grata surpresa foi saber que vários deles, como os já citados Poe, Lovecraft e Gaiman, possuem como referência Robert W. Chambers.

Para quem gostou da série True Detective e é viciado em contos, o livro é uma boa pedida. Com poucas páginas, é possível devora-lo em poucos dias, buscando semelhanças com eventos vistos na série de TV e outros livros e contos de horror.
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