Andrew Garfield, o Amigão da Vizinhança
O cenário de adaptações cinematográficas das histórias em quadrinhos que hoje está em ascensão e a oportunidade de vivenciar tempos tão gratificantes para os amantes dos super-heróis só são possíveis graças a filmes pioneiros dentro desta proposta como Homem-Aranha, X-Men, Homem de Ferro, Blade, etc. Então, é genuíno o agradecimento que aqui faço a Sam Raimi, Tobey Maguire e todos creditados pela realização dos primeiros e ótimos filmes do Homem-Aranha.
Porém, é maior ainda o agradecimento que dedico a Andrew Garfield, que trouxe diretamente das revistas em quadrinhos que eu colecionava quando criança o verdadeiro espírito de um dos meus super-heróis prediletos.
Desde já, devo adiantar que este texto não trata dos filmes da série O Espetacular Homem-Aranha de Marc Webb ou da trilogia Homem-Aranha de Sam Raimi, mas da caracterização do personagem que dá nome a ambas as franquias.
Andrew Garfield é, como qualquer um de nós, apaixonado pelo Homem-Aranha. Garfield já esteve numa Comic Con vestido como o aranha e fez uma declaração de amor pelo personagem para promover o filme, voluntaria-se para filmar cenas arriscadas tradicionalmente feitas por dublês para poder sentir-se na pele do aranha e já assinou e divulgou petições para a união do aracnídeo com Os Vingadores nos cinemas. Os boatos de que Garfield está para ser demitido do papel não são uma surpresa tão chocante, pois Garfield tem cortado as suas relações com os executivos da Sony e inúmeras vezes já expressou a sua revolta contra as barreiras que o estúdio tem colocado diante da liberdade criativa de Webb e da equipe de roteiristas. Muitos atores, quando perdem suas identidades em virtude da consagração dos personagens que interpretaram, sentem arrependimento. Andrew Garfield abraça e sente alegria e orgulho em dizer que é o Homem-Aranha.
É comum vermos piadas sobre Peter ser um nerd galã nos quadrinhos
Tobey Maguire nunca interpretou Peter Parker. Se colocarmos sobre a mesa a concepção do um filho adotivo bondoso e tímido que mesmo debaixo do uniforme ainda sustenta uma absoluta inocência e cujo interesse romântico se apaixona pelo lado super-herói e não pelo civil, nós temos Clark Kent. Em Garfield, temos o jovem prodígio da ciência que é inseparável do seu alter-ego, que já possuía um forte sentido de justiça antes de ganhar os seus poderes e que leva a sua coragem e equiparável senso de humor para a sua vida pessoal. Em Garfield, nós temos o Peter Parker dos quadrinhos.
É preciso que as pessoas, de uma vez por todas, entendam que o Cabeça de Teia, diferente do Superman, não pode ser dividido em dois. Peter Parker é o Homem-Aranha e o Homem-Aranha é o Peter Parker. A noção de um Peter Parker frágil e indefeso foi abordada mínimas vezes na historiografia do personagem. O saudosismo exacerbado dos fãs da trilogia de Raimi muitas vezes camufla essa verdade: Peter continua sendo piadista, independente e forte mesmo quando está fora do seu uniforme e basta ler uma única revista do Homem-Aranha para ver isto. Garfield traz uma convergência entre os aracnídeos da Terra-616 e da Terra-1610 e consegue fundir perfeitamente o herói das duas diferentes linhas editoriais.
O mais comum é encontrar antigos fãs do personagem abusando do argumento de que “não se importam que o personagem seja adaptado para uma nova geração desde que a essência seja respeitada” numa tentativa de esconder o seu julgamento egoísta de que o personagem só pertence aos que assistiram os filmes de Raimi e que as crianças, adolescentes (ou adultos) que simpatizam com o Homem-Aranha de Garfield não merecem a sua própria perspectiva do personagem. É o clássico “não me importo que mudem, desde que respeitem a essência... e não mudem nada”. Lastimável.
Revolucionando a ciência a partir do quarto
Um dos mais esdrúxulos pontos levantados pelos que condenam a releitura de Peter na nova franquia da Sony é o da postura “descolada” do herói. Para estas pessoas, andar de skate faz de alguém que descobre e/ou é capaz de replicar fórmulas científicas complexas estudadas pelos maiores gênios do universo dos quadrinhos menos nerd.
É essa, infelizmente, a linha de pensamento perpetuada por programas de televisão como The Big Bang Theory. Enquanto na série de Chuck Lorre somos bombardeados com referências óbvias e muitas vezes pobres à obras da cultura pop e representações estereotipadas e anacrônicas de um grupo nerd, em Community, por exemplo, possuímos um argumento bem tecido e que homenageia os materiais que admira através de easter eggs e brincadeiras de fotografia/roteiro que passam despercebidas pelo grande público.
O Peter dos quadrinhos é extrovertido, cheio de si, galã e adora ser o Homem-Aranha! Tobey Maguire não é Peter Parker e ponto final.
É a lapidação de uma norma abstrata, variável e complexa num padrão geométrico óbvio. Em poucas palavras, não importa se você em alguns minutos resolve um enigma científico que um gênio há anos estuda, se você andar de skate e não se comportar como um fracassado melancólico que é reprimido por tudo e todos, você é um "descolado". Se você for somente inteligente o suficiente para ser elogiado pelo seu professor durante uma aula, mas se comportar como uma caricatura dos anos 60, você é o nerd da ciência que Peter Parker admite ser nos quadrinhos. Enquanto um mostra a sua genialidade, a do outro reduz-se a elogios de seus mentores.
Tobey Maguire se assimila em aparência ao Peter Parker de Steve Ditko, que simbolizava o estereótipo do nerd da década de 60, mas Maguire não é um gênio da ciência
No que toca à atuação, prefiro não me alongar muito. Andrew Garfield é um profissional de imenso talento. A sua carreira sempre teve como alicerce a sua capacidade de absorver por completo os roteiros que lê e transformá-los numa demonstração de interpretação crível, jovial e agradável. Uma capacidade que foi muito mais bem aproveitada em “A Rede Social” sob a direção de David Fincher, um diretor drasticamente superior a Raimi e Webb, onde o ator foi até cogitado a ser o protagonista do filme, mas foi superado em última hora pelo teste de Jesse Eisenberg. Garfield faz com excelência o papel que o acompanha desde que se vestiu de Homem-Aranha pela primeira vez aos 3 anos de idade.
Alguém apresentou aos consumidores de quadrinhos os conceitos de “direção” e “roteiro” e eles agora estão utilizando os dois como ferramenta de defesa de tudo que já vimos de errado nas adaptações cinematográficas de quadrinhos. De acordo com esse grupo de pessoas, Ben Affleck ou Ryan Reynolds não devem ser culpados pelas suas interpretações como Demolidor e Lanterna Verde! A direção e o roteiro são como que os grandes vilões da Disney e únicos responsáveis por um péssimo filme e a incompetência do elenco não deve ser acusada. Uma montagem firme e instabilidade nos interesses comerciais da película, que curiosamente são as componentes que prejudicam os filmes de Webb, são noções que ainda não foram mentalizadas pelos sábios cinéfilos criados por Raimi. Logo, as atuações caricatas de Tobey Maguire e Kirsten Dunst, por exemplo, ainda que fossem consideradas pontos fracos da trilogia original, não teriam relação alguma com os seus defeitos! E enquanto Maguire pode fazer uma personagem caricata, devemos crucificar Jamie Foxx por ter feito exatamente a mesma personagem! E não se esqueçam de que Andrew Garfield é a criatura maquiavélica que deve ser responsabilizada pelos longa metragens insossos de Webb... porque ele é bonito e engraçado!
A personalidade de Peter é tão marcante que o seu arqui-inimigo é capaz de distingui-lo de um impostor através de uma única piada
A verdade é que Tobey Maguire foi um péssimo Peter Parker numa boa franquia e Andrew Garfield um excelente Peter Parker numa má franquia. Vale destacar, mais uma vez, o fato de que estamos falando do Amigão da Vizinhança e não do Último Filho de Krypton, portanto não existe separação entre Peter Parker e Homem-Aranha. Mas se tentarmos encontrar o embasamento crítico que move a comunidade anti-Garfield e sintetizarmos as suas declarações, podemos concluir que eles encaram este tópico da seguinte forma: Tobey Maguire não era um piadista, não era um gênio da ciência, não se impunha, não era motivado por bondade ao invés de obrigação e sofrimento, não possuía um par romântico forte ou química com ele e não amava ser o Homem-Aranha... mas foi o melhor Peter Parker, porque os seus filmes vieram primeiro e marcaram a sua infância.
A aparência física de Peter Parker se alterou drasticamente ao longo dos seus mais de cinquenta anos. A figura carregada por Maguire assemelha-se ao protagonista das primeiras edições, enquanto Garfield é o Peter Parker contemporâneo e o mais representado pela comunidade de artistas. É irônico, de certo modo. O público que persegue Garfield com tochas e forquilhas pela sua beleza é o mesmo que quer ver o Homem-Aranha na Guerra Civil do Universo Cinematográfico da Marvel, quando o retrato que temos do personagem na saga é o de uma transposição do ator para os quadrinhos (veja a imagem de abertura desse post). Tragicamente irônico. O próprio Peter (e seus inimigos e aliados) diversas vezes já fez comentários sobre o seu rosto de galã nos quadrinhos. O mesmo Peter que já foi casado com Mary Jane, uma super-modelo, e já teve relacionamentos com outras muitas lindas mulheres.
Peter nunca foi uma vítima silenciosa. A sua bravura e capacidade de se impor precedem os seus poderes extraordinários e permaneceram ao seu lado depois deles. Não é o que o personagem de Maguire transmite e não é algo que alguma vez o de Garfield tenha deixado de transparecer. Este é um traço que é nutrido pela arrogância que o jovem Parker mostrou na sua primeira aparição e que causou a morte do seu tio. Das várias circunstâncias em que teve de ser parado por um professor quando estava prestes a bater em Flash Thompson e seus amigos, à vez em que espancou o Rei do Crime, este é um traço já consolidado nas entranhas da mitologia do personagem. Desde o seu nascimento um garoto azarado, mas nunca um fracassado.
Quando Maguire tentou interpretar uma faceta sombria do aracnídeo, ele usou uma franja e dançou tango
O Peter Parker (e custa muito para mim chamar por este nome um personagem que em quase tudo se distancia dele) de Tobey Maguire vive sob o constante sofrimento de ser o Homem-Aranha. É um sujeito deprimido, cansado e que vê o manto do herói como um fardo. O verdadeiro aracnídeo, porém, adora o que faz! Peter adora se balançar nas suas teias pelos prédios de Nova Iorque e proteger os inocentes! Digo mais: Peter, como uma vez já confessou, sente gosto até mesmo em bater nos marginais e utiliza a sua outra face como terapia. É deste prazer em ser o Homem-Aranha que se originam as suas piadas e comentários sarcásticos e depreciativos dos próprios inimigos. É um prazer que o personagem de Maguire jamais teve e que se torna claro na inexistência do seu senso de humor. Sofrimento nunca foi e nunca será o combustível do qual o Homem-Aranha se alimenta e Sam Raimi, quando trouxe um Peter tão emocionalmente exausto quanto o mais sombrio Bruce Wayne que já vimos nos cinemas, não sabia disso. É como se Raimi tivesse feito todos os seus três filmes sobre o luto de Peter pela morte do tio Ben.
O Peter Parker que ama ser o Homem-Aranha
Algo de igual relevância são as criações de Peter Parker. Eu poderia escrever um parágrafo inteiro sobre a beleza que existe por trás da iniciativa do personagem de costurar o seu próprio uniforme ou a sua importância na solução do algoritmo do Doutor Connors, mas ela seria ofuscada pela maior necessidade a que Marc Webb se atentou: o lançador de teias. A fibra e o projetor de teias estão entre os maiores inventos científico-tecnológicos das histórias em quadrinhos. Dentre as propriedades que melhor definem o escalador de paredes estão a sua inteligência e o seu humor. A criação do lançador de teias é essencial para a construção da primeira, e ainda que nos novos filmes Peter não seja o pioneiro neste campo, o sentido de genialidade perdura, pois estamos falando de um adolescente capaz de replicar no seu quarto a tecnologia revolucionária de uma das maiores corporações de investigação de engenharia bio-tecnológica do planeta.
O segundo filme de Webb mancha o lado científico de Peter (para enaltecer o da excepcional Gwen Stacy de Emma Stone), mas Garfield continua sendo mais ligado à ciência do que Maguire
Uma das poucas falhas na caracterização do Peter Parker de Garfield é a ausência das dificuldades cotidianas que vemos o herói enfrentar nos filmes de Raimi e nos quadrinhos. Na franquia de Webb, a preocupação com o pagamento do aluguel, por exemplo, cabe à Tia May. Ainda assim, é extremamente precipitado assumir que a vida de Peter não tem buracos ou é perfeita. Ele foi abandonado pelos seus pais, que morreram. Cresceu no seio de uma família não tradicional e sempre se sentiu um forasteiro em meio a outras crianças. O seu tio foi morto por consequente da sua arrogância. Ajudou a criar uma fórmula que revoluciona a ciência, mas que foi usada para o mal. O pai da sua amada também morreu pelas suas ações e ele é atormentado pela promessa de manter distância dela. Se formou e é obrigado a ver a sua tia se sacrificar para pagar pelos seus estudos. E no fim, tem a sua namorada assassinada pelo seu melhor amigo. Mas como o Peter que conhecemos bem, ele consegue erguer a sua cabeça e lutar mais um dia.
A obsessão nostálgica dos devotos de Raimi é incompreensível. Embora o personagem de Maguire não conte com as particularidades que o diferenciam de todos os outros super-heróis (a inteligência e o humor, como já mencionado), eles prendem-se à data de lançamento dos seus filmes, que precedem os de Garfield, e ao desenho caricato que Maguire faz de um nerd como argumentos absolutos. É difícil compreender como podem afirmar amar o Homem-Aranha e não se importarem com pontos tão substanciais da sua figura que estão mais presentes, por exemplo, em Miles Morales do Ultiverso ou no Harry Osborn de James Franco do que no personagem de Tobey Maguire.
O uniforme mais bonito já vestido pelo personagem nos cinemas
Não consigo não me lembrar dos fãs do Homem de Ferro, que amam o herói dos cinemas com todas as suas forças, mas não têm consciência do complexo/esférico personagem que o Tony Stark dos quadrinhos (com a sua ambiguidade moral e seus conflitos pessoais causados pelo alcoolismo) costumava ser antes da chegada de Robert Downey Jr. O mesmo para os amantes de Henry Cavill como um Kal-El negligente e assassino que não corresponde a preciosidades como All-Star Superman e falha em delinear o espírito do maior herói da DC Comics, mas que aparentemente compensa toda a sua estupidez e desrespeito pela fonte original com sequências de ação que parecem ter saído de um disaster movie.
Os órfãos de Raimi e Maguire são, de fato, essencialmente incoerentes quando atacam o plot do envolvimento dos pais de Peter na origem dos seus poderes, mas não parecem ter uma opinião tão ácida sobre o plano de fundo místico que o personagem ganhou nos quadrinhos nos últimos anos. Criticam a aparência de super-modelo de Andrew Garfield, e hoje defendem a escalação de atores como Dylan O’Brien para o papel (em minha defesa, eu sempre vi nele potencial para ser um bom aracnídeo, mas por razões mais sólidas do que o simples ódio pelo ator atual), como se a aparência de O’Brien fosse a do monstro de Frankeinstein. Querem enterrar os personagens da nova trilogia como se fossem todos falhos e mal escritos, mas defendem um Peter Parker que não é engraçado, corajoso ou inteligente, uma Mary Jane que não é Mary Jane e uma galeria de antagonistas bizarra onde todos os vilões têm a mesma motivação (uma voz/personalidade/figura secundária incitando ao mal). E para eles, por alguma razão (que com certeza não esbarra na questão do talento), Andrew Garfield é um péssimo ator pura e simplesmente por ser bonito (parecido com o caso DiCaprio) e Tobey Maguire é um gênio da representação que quando falecer descansará ao lado de Marlon Brando, James Gandolfini e Philip Seymour Hoffman.
O nerd com o físico de sonho que se impõe acima de tudo
Pessoalmente, não partilho da mesma empolgação que os outros fãs acerca da possível aparição do Homem-Aranha em Capitão América: Guerra Civil. A razão pela qual o personagem é importante no arco dos quadrinhos é pela personificação dos ideais e posições dos leitores dentro do enredo. A adaptação que a Marvel Studios está fazendo não tem os seus holofotes sobre a temática das identidades secretas (já que nos filmes da Marvel ninguém tem identidade secreta) e sim na supervisão e controle governamental sobre os super-humanos. Sequer na linha Ultimate, onde Os Supremos foram fundados pela S.H.I.E.L.D., o Homem-Aranha está envolvido num cenário político intenso o bastante para justificar a sua participação numa discussão deste teor, portanto, a sua presença não é mandatória. Além disto, o roteiro do longa já está finalizado e rumores dizem que o aracnídeo foi substituído pelo Pantera Negra, o que faz muito mais sentido, uma vez que estamos falando da autoridade máxima da nação de Wakanda.
De qualquer forma, eu não abdicaria de Andrew Garfield pelo Homem-Aranha no Universo Cinematográfico Marvel. É claro que gostaria de vê-lo junto d’Os Vingadores, mas o UCM está caminhando para o terceiro e último ato do universo que conhecemos e não há espaço para o Homem-Aranha, seja o de Garfield ou qualquer outro. Somente quando o UCM sofrer um reboot poderemos ter uma presença digna do escalador de paredes. Afinal de contas, qual é o sentido de inserir o maior ícone da editora e um dos personagens mais ativos e relevantes nos quadrinhos na reta final da franquia?
Uma dezena de rostos e nenhum deles se encaixa em Peter Parker (e não, Tobey Maguire não é o Daniel Day-Lewis dos filmes de super-herói somente por ter sido o primeiro Homem-Aranha)
Na verdade, não posso deixar de dizer que a Marvel Studios tem se mostrado quase desonesta na forma que estão tratando as franquias perdidas. Venderam os direitos de alguns dos seus maiores personagens para fugir da falência e hoje recorrem a decisões pouco ortodoxas para consegui-los de volta ou para punir quem os comprou, como o cancelamento da revista do Quarteto Fantástico e o retcon na família Maximoff. Acredito que a não-monopolização da Marvel sobre os seus personagens nos cinemas possibilite uma maior variedade de histórias e estúdios diferentes trabalhando são uma bela maneira de se renovar o mercado.
Isto não significa, entretanto, que ver o brilhante Homem-Aranha de Garfield ser a estrela de um dos excelentes filmes da Marvel Studios e lutar ao lado dos seus outros lendários heróis não seja um sonho.
A onipresência da arrogância e do sarcasmo
As produções de Marc Webb têm defeitos? Sim, muitos. Uma pluralidade de inconsistências e equívocos maior do que as dos filmes de Raimi. Furos de roteiro, excesso de personagens e sub-plots, péssimas decisões executivas e uma falta de orientação criativa singular. Mas quando eu assisti o último filme nos cinemas, eu não conseguia parar de sorrir. Eu estava assistindo um filme que medíocre, mas foi como se eu estivesse lendo um arco ruim do Amigão da Vizinhança nos quadrinhos: a história não era boa, mas ele estava lá. Isso é mais do que podemos dizer sobre aventuras de Tobey Maguire, que embora tenham contado boas histórias, foram protagonizadas por um estranho.
O meu sorriso me acompanhou ao longo do filme todo porque eu sabia que Peter Parker ama ser um super-herói e que Andrew Garfield ama ser Peter Parker. Na primeira gargalhada que o aracnídeo arrancou de mim com uma piada estúpida, eu percebi que estava testemunhando O Espetacular Homem-Aranha ganhar vida fora dos quadrinhos coloridos das minhas revistas e que aquilo só era possível porque Andrew Garfield estava vestindo a sua máscara.