A Comic-Con XP realmente trouxe a experiência de San-Diego ao Brasil?

A Comic-Con XP, ou CCXP como preferimos chamar, acabou ontem em grande estilo com uma première de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos e um painel com a Warner. O evento que foi organizado principalmente pelo site Omelete contou com 80 mil pessoas durante 4 dias de programação. A intenção do evento, como está no próprio nome, era trazer a experiência do tão falado evento San Diego Comic-Con para o Brasil, mas será que eles conseguiram?


Não há resposta fácil pra isso, a “experiência” da #SDCC pode variar bastante de pessoa pra pessoa, há pessoas que identifiquem a experiência de estar na San Diego Comic-Con como a experiência de estar em filas, nesse caso sim, a CCXP tem uma experiência idêntica, são filas intermináveis para qualquer coisa que você queira fazer e de fato se você não tiver comprometimento com a sua atração favorita, você não vai conseguir participar dela, o que significa também que você não vai conseguir fazer tudo o que está disponível no evento, o que de certa forma é uma coisa boa, afinal significa que tem muitas coisas a fazer, coisas para todos os variados gostos nerds.


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Entretanto, 80% dessas muitas coisas a fazer eram apenas comprar em lojas extremamente caras com produtos que você na maioria das vezes encontra pelo mesmo preço ou mais barato em suas respectivas lojas onlines, mas é claro que há uma vantagem em ver o produto pessoalmente e ver todos esses produtos ao mesmo tempo realmente estimula o seu lado consumista o que é bastante útil para um evento como esse, mas talvez não tão útil para suas economias, eu pessoalmente preferi tirar uma manhã e dar um passeio pelas galerias da Liberdade pra comprar minhas traquitanas nerds.


Na San-Diego Comic Con o seu lado consumista também é estimulado com uma infinidade de lojas por lá, mas as coisas costumam ficar mais baratas e não mais caras e também, o evento lá não é quase que inteiramente feitos de lojas como foi aqui, há muito mais o que ver e fazer além de gastar seu salário inteiro em livros, quadrinhos e action-figures, não que na CCXP não tenha mais coisas do que isso, mas como eu disse, a proporção está perto dos 80% de loja e 20% de atrações e muitas atrações eram bem bestas, como por exemplo uma do stand do Hotel Transilvânia 2, em que você podia tirar uma foto com um cartaz do filme no fundo... coisa que você pode fazer em qualquer cinema.


Parte da culpa disso é que como o pessoal do Jovem Nerd bem disse recentemente, a San Diego Comic-Con não acontece só no lugar onde rola o evento, acontece na cidade inteira, e infelizmente o lugar escolhido para o evento em São Paulo não podia ser pior, diferente da BGS, por exemplo, que é no Expo Center Norte, a CCXP foi realizada no Centro de Exposições Imigrantes, uns 20 minutos de distancia caminhando da estação do Metro Jabaquara, o caminho é basicamente um enorme vazio que impossibilita tanto a geração de conteúdo bônus, como também impossibilita até que os adornos da feira sejam visualizados à distancia, havia um Baymax gigante para todos verem por lá na entrada do evento, mas os personagens de A Hora da Aventura em um tamanho igualmente enorme que estavam enfeitando a lateral do local só podiam ser vistos de forma descontextualizada por quem passava por uma das pistas ao redor do centro de exposições.


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O Artist Alley era um dos lugares mais bacanas do evento e ao mesmo tempo um dos que eu menos passei tempo, porque de fato havia pouco espaço ali pra tanta gente legal. Por outro lado stands de editoras ou tinham filas para compras ou ficavam vazios, exceto quando algum escritor famoso aparecia por lá, como foi o caso do Affonso Solano no stand da Leya. As sessões de autógrafos e fotos pagas também estavam lotadas, exceto que estavam lotadas de forma desproporcional, já que Jason Momoa e Sean Austin tinham milhares de pessoas a espera da chance de pagar dinheiro em troca de uma foto e de uma assinatura enquanto Lino Facioli, o menino brasileiro que interpreta Robin Arryn em Game of Thrones teve que dar autógrafos e fotos de graça no stand do Omelete, por não ter chamado público o suficiente para pagar pelos mesmos. Eu nesse caso nem acredito que isso seja uma injustiça com as pessoas que pagaram, porque é improvável que mais de 10 pessoas pagaram pelo Meet & Greet dele.


Os painéis que representam basicamente quase tudo o que lemos sobre a San Diego Comic-Con também estiveram presentes na CCXP, novamente de forma problemática, a tradução simultânea era...bem, não simultânea, feita com legendas porcas em telas ao lado do palco que apagavam a cada 2 minutos, mais ou menos o tempo de atraso de uma pessoa dizer algo até esse algo aparecer traduzido lá e onde os caras que faziam as legendas, no melhor estilo Closed Caption, não sabia escrever Daenerys ou palavras do tipo. Além disso, problemas de microfone e de som, inabilidade de manter o ar condicionado numa temperatura ideal também foram constantes, sem falar na falta de equipamento, onde em um painel especifico onde 4 convidados eram internacionais, eles tiveram que revezar 3 pontos de tradução, que eram tudo o que eles tinham no momento.


O problema com a péssima tradução simultânea entretanto gerou uma situação bacana, onde a tradutora do evento sentou-se ao lado de Sean Austin para traduzir suas falas e acabou gerando situações engraçadas com o ator, que se mostrou o mais simpático a aparecer na CCXP.


O palco onde os painéis foram realizados também não era de um design muito inteligente, já que ele deveria ter uns 30 centímetros de altura e todas as mais de 2 mil cadeiras que estavam lá para servir de assento para quem iria assistir o que acontecia no painel eram da mesma altura entre si e do palco, ou seja, ninguém via nada exceto quem estava sentado na frente, já que as duas telas laterais, como eu mencionei acima, não funcionavam corretamente. Mas isso nos leva a outra questão, de frente ao palco haviam cadeiras reservadas para quem comprou o pacote de ingressos chamados de “Fan Experience”, convidados VIP (como os parentes do realizadores do evento), ou é claro, para a panelinha midiática da qual o Omelete faz parte, o que não é de fato um problema, o problema era que nem 10% dessas cadeiras estavam ocupadas na grande parte do tempo e não havia sinalizações nelas o que resultou em muita gente sentando em uma dessas cadeiras por engano e sendo expulsas posteriormente pelos voluntários do evento que estavam guardando o lugar para alguém que nunca chegou. De fato os voluntários estavam fazendo um bom trabalho nessa questão durante as primeiras horas, mas depois de um dia inteiro de trabalho repetindo a mesma coisa a qualquer incauto que resolvesse sentar-se em uma cadeira vazia e aparentemente comum, a falta de educação e a grosseria começou a prevalecer na atitude dos funcionários responsáveis por organizar o publico nos painéis.


A qualidade dos painéis foram bem variadas, os painéis com Sean Austin foram excepcionais, o primeiro painel com o Jason Momoa beirou o desrespeito, o que nos leva aquela questão, de o que caracteriza um pedreiro puxando uma mulher claramente sem graça com a situação para sentar-se no colo dele? Assédio Sexual? O que acontece quando quem faz isso é o Jason Momoa? Eu sinceramente não quero entrar muito afundo nesse assunto, mas acho que desrespeitoso é uma forma simples e rápida para descrever o painel e atitude do ator, felizmente ou infelizmente eu não vi o segundo painel que ele protagonizou. Já o painel da Marvel careceu de coisas novas para o publico, especialmente quando a gente compara com o que acontece anualmente na SDCC, a única coisa nova que vimos sobre Os Vingadores 2 foi Joss Whedon dizendo que não íamos ver nada de novo sobre Os Vingadores 2.


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Por outro lado, se o painel da Marvel decepcionou (e não confunda os gritos de empolgação com um antônimo de decepção, qualquer um se empolga simplesmente em ver Os Vingadores juntos numa telona, mas é uma decepção quando esperávamos uma “Experiência” parecida com a que acontece em San Diego, que afinal é a promessa desse evento). O painel da Paramount foi por outro lado extremamente interessante, mostrando o primeiro trailer do novo Exterminador do Futuro, que ficou inédito na CCXP por aproximadamente 120 segundos até ser lançado oficialmente na internet pelo estúdio, mas o mais legal que rolou no painel da Paramount não foi Exterminador do Futuro e sim Projeto Almanaque, um novo filme no estilo Found-Footage que parece genuinamente interessante. No painel foram exibidos 15 interessantes e inéditos minutos do filme que facilmente me fizeram correr para os cinemas assistir o filme, que infelizmente ainda não estreou.


O painel da Pixar foi um verdadeiro show, de longe o melhor de todo o evento e exatamente como seria um painel da Pixar feito em San Diego. O novo diretor da Pixar, Jim Morris, deu um show de carisma, ficou realmente impressionado e surpreendido com o carinho que os brasileiros tem com os seus filmes e ainda deu informações exclusivas e um preview de 7 minutos inéditos do filme, aparentemente brilhante, Divertida Mente.


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A propósito, eu não tive tempo de fazer um post sobre as novidades da Pixar, mas basicamente:


-Os Incríveis 2 estará em inicio de pré-produção nas próximas semanas e deve estrear em Julho de 2018.
-Toy Story 4 é um filme que só existe porque alguém teve uma ideia boa o suficiente para quebrar a promessa de que seria uma trilogia e será lançado em Julho de 2017.
-Procurando Dory, sequencia de Procurando Nemo, saí em julho de 2016.


Aconteceram algumas entrevistas na sala de imprensa também, que novamente foram cheias de problemas, a coletiva de imprensa de Marco Polo, por exemplo, foi feita sem microfone, que obrigou os atores a falar alto quase que gritando e ainda assim mal foram ouvidos por quem estava mais no fundo da sala, o calor da sala de imprensa também incomodava os atores, mas aparentemente ninguém sabia onde estava o controle do ar condicionado, mas ainda assim a Netflix deu um show de postura e os atores um show de simpatia, nada aquém do que esperamos de algo vindo da Netflix, que por um acaso também tinha um dos poucos stands legais e que não eram lojas no lugar, uma pena, porém que não tinha nada de House of Cards e o canal preferiu promover apenas Marco Polo, eu admito que ver, falar e quem sabe tirar uma foto não paga com Kevin Spacey teria feito o evento ter uma cor a mais pra mim.


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Mas eu tenho que ser justo, apesar de todos os INÚMEROS problemas, a CCXP foi uma experiência de fato divertida, o evento tem muito que melhorar e o próprio Erico Borgo admitiu que ele viu diversos defeitos que gostaria de consertar e que esse era principalmente um teste, não dá para argumentar também que não se pode cobrar por um teste, hoje em dia as pessoas pagam por coisas no KickStarter e as vezes não ganham nada em troca, nesse caso pelo menos todos ganhamos um evento bacana, ainda que problemático.


O fato é que definitivamente a Comic-Con XP não é a mesma experiência da San Diego Comic-Con, ainda falta muito pra chegar lá, mas se um dia nós vamos ter uma experiência do mesmo nível que a original aqui no Brasil, com certeza virá de uma 2° ou 3° sequencia desse evento. Para ilustrar de uma forma bem Nerd, imagine que o Martelo do Thor é a "Experiência San Diego", a CCXP é como o Capitão América no trailer de Os Vingadores 2 –A Era de Ultron, ainda não é digna, mas deu uma boa arranhada e eu posso dizer que mesmo criticando mais do que elogiando como eu fiz aqui nesse texto, já estou contando os dias para o dia 03 de Dezembro de 2015, com a segunda e provavelmente muito mais refinada edição da Comic-Con XP, quem sabe dessa vez o pessoal do Omelete não levanta o Martelo?

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