Junket - A Busca
Durante a Junket do filme A Busca, com o elenco, diretor e roteirista do filme ficou claro uma coisa, o filme foi milimetricamente planejado e escrito para funcionar de certa forma. Todo o arco do personagem de Wagner Moura, ainda que com os muitos cortes, foi planejado para construir uma curva dramática, modificar um pouco de sua visão sobre o mundo e de sua personalidade e especialmente com o cuidado de não soar episódico, o que no final acaba soando.
A Busca é o drama de um pai procurando um filho que fugiu de casa, o filme é apresentado quase como um Thriller, mas não se engane, é um drama de personagens ainda que possa soar pouco hermético ele tenta dialogar com o publico, mesmo o título do filme foi modificado para tentar chamar mais atenção, do poético A Cadeira do Pai, para o genérico A Busca.
A Cadeira do Pai estreou em Sundance de dois anos atrás e teve um longo e financeiramente problemático caminho até sua estreia, de acordo com o diretor, Luciano Moura, apesar dos muitos problemas e da dificuldade em conseguir uma distribuição ampla no circuito nacional a produção foi calma e os custos foram bem dosados. Wagner Moura chegou a dizer que a O2 liberou tempo, consequentemente dinheiro, para ensaios do roteiro antes de realmente filma-lo, o que é uma regalia incomum, especialmente no cinema nacional.
A preocupação com o retorno financeiro do filme, entretanto, é real, parte da Junket foi focada em mencionar a importância que tinha a nossa opinião (como imprensa) no sucesso ou fracasso do filme, já que a divulgação em Marketing será micro. Como dito, o título do filme foi modificado justamente para facilitar isso, a divulgação em si funciona melhor para o Brasileiro médio se o filme se chamar A Busca, que implica em um thriller como ele é apresentado, A Cadeira do Pai poderia soar complexo demais para um brasileiro médio se interessar.
De fato a vontade de dialogar e fazer sentido para um grande público foi tanta, que até mesmo o roteiro era mais complexo e acabou simplificado e muitas subtramas foram cortadas para focar na essência da história. Nesse ponto podemos dizer que o corte foi preciso, pois ao menos o filme soa perfeitamente redondo, eu até tiraria todo um segmento na verdade.
Parte dos cortes funcionou pela profundidade de certas cenas, como a cena da cadeira quebrada, que todos sem exceção dizem ser A ou uma das favoritas. A roteirista, Elena Soares, escolheu a cena como a melhor do longa por que de acordo com ela essa cena resume varias apresentações de situações e personagens em apenas uma atitude. É valido, a cena representa isso muito bem, ainda que eu não ache que o publico médio que o filme tanto busca atingir, como se fosse um BlockBuster, entenda tão bem esses subtextos.
Relacionado: Um panorama do cinema nacional em 2013!
Outro fator discutido na Junket é o mesmo tema de uma matéria mais profunda que fiz na última semana, sobre o panorama do mercado de cinema nacional. Onde através de números identificamos um padrão problemático no que o nosso mercado tem a nos oferecer em 2013. A minha visão e a do Luciano Moura, diretor do filme, divergem um pouco, ainda que enxerguem o mesmo cenário. Para ele A Busca e O Palhaço, por exemplo, são precedentes de filmes de médio porte, que são filmes mais difíceis de se trabalhar, pois não são Blockbusters (comedias picantes) e não são de orçamento muito baixo, que se pagam mais facilmente, mas ele considera comedias boas para o mercado, porque adestram o publico com o cinema nacional, com nossos atores e nosso universo em uma telona, coisa que geralmente só é vista na telinha de casa. Não deixo de concordar, contudo mantenho a opinião de que isso não ajuda o mercado, só alivia um problema.
Após as conversas sobre o cinema nacional e sobre A Busca, sobrou tempo para falar sobre a carreira internacional de Wagner Moura. O ator disse que não vê seus trabalhos em Hollywood como uma possível carreira internacional, mas simplesmente um trabalho em um lugar diferente. De acordo com o ator ele escolhe seus papeis da mesma forma em qualquer lugar do mundo, se lhe parecer interessante ele pega o trabalho, como foi o caso de Elysium e Fellini, de Elysium por motivos contratuais ele não pode falar muito, mas Fellini recebeu um pouco mais de atenção na Junket, de acordo com Wagner Federico Fellini é seu cineasta preferido, portanto é um honra pra ele o papel no filme biográfico, contudo o filme está indefinidamente adiado.
[quote]“Lá eles tem tantos problemas de financiamentos para filmes pequenos quanto nós temos aqui!” – disse Wagner.[/quote]
O diretor Luciano Moura também já está dando suas saídas para terras Hollywoodianas, Moura contou que a recepção de A Cadeira do Pai (ou A Busca hoje em dia) foi tão positiva em Sundance, que imediatamente ele e a roteirista Elena Soarez, já receberam convites e já estão negociando direção e roteiro em filmes americanos, mas de acordo com ele, a maioria das propostas foram terrivelmente ruins, com roteiros de péssima qualidade, portanto ele está sendo proativo e adaptando um livro americano em parceria com Elena e vão tentar colocar o projeto em produção com um estúdio. Contudo nem o estúdio nem o livro em questão foram divulgados.
A Junket de A Busca foi uma bela conversa sobre os paralelos do cinema nacional e da migração de talento para o mercado americano e nos dá uma ideia melhor sobre a dificuldade de ser hermético, um mínimo que seja, em um mercado que vive de obras que mimetizam a televisão.
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A Junket de A Busca ocorreu no dia 06/03/13 aqui no Rio com a presença de Wagner Moura, Mariana Lima, Luciano Moura (diretor) e Elena Soarez (roteirista).