Tomb Raider | Crítica
A Square Enix vem recebendo diversas críticas recentemente, está em uma crise financeira e criativa que cada vez piora, especialmente na parte criativa, mas acredito que ninguém mais vai falar que a Square não acerta em nada desde que lançou o pavoroso Final Fantasy 13, depois de jogar Tomb Raider.
Não que a Square mereça todos os créditos, na verdade a maior parte deles deve ir para a Crystal Dynamics, mas só em estar envolvida em um projeto assim já é alguma coisa.
A nova aventura de Lara Croft é facilmente um candidato ao melhor jogo do ano e se esse ano não tivéssemos Bioshock Infinite, Watchdogs, GTA 5 e Last of Us por vir eu diria que era certo a sua vitória.
A trama começa com o naufrágio do Endurance, um navio de exploradores onde se encontrava Croft e sua equipe, como o jogo é um reboot, Lara é apenas uma arqueóloga novata, com bons instintos, mas nada além disso. Com o naufrágio do Endurance, a tripulação vai parar em uma ilha, próxima ao Japão, que é digna de uma ilha de filmes de terror B.
Lara separada de todos tem que se virar para encontrar um modo de sair da ilha, no caminho ela encontra os companheiros do navio, alguns morrem e outros vivem, mas não ela, que de garotinha comum vira uma maquina de matar, é estranho perceber que a reação dela é absurdamente dramática ao matar a primeira pessoa, mas dois minutos depois temos que matar mais umas 10 pessoas e isso passa a não ter importância nenhuma para a personagem.
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Na verdade, Lara mata centenas de pessoas durante o jogo, que na teoria presa muito o realismo de tudo, mas fica difícil comprar esse realismo quando agente percebe que Lara tem o braço mais forte do universo, tem o corpo com a maior resistência a quedas já visto e só perde em mira para Legolas, não que seja ruim se sentir o Legolas.
Com o passar do tempo tanto à trama quanto a jogabilidade ficam mais complexas, nenhuma das duas melhora muito nesse ponto, jogabilidade mais complexa significa aqui mais Puzzles, alguns deles parecem gratuitos e forçados, como se só estivessem lá porque o “estilo Tomb Raider” precisa de Puzzles. Já a trama em si começa a envolver um lado mais místico, já que a história principal envolve o Padre Mathias sequestrando Sam, amiga de Lara, para usa-la como receptáculo para a Deusa Himiko. Não fica claro do porque a Sam é a escolhida, mas ela é de qualquer forma.
No quesito combate, que nunca foi o forte de Tomb Raider, finalmente acertaram. É extremamente divertido pilhar corpos no jogo, em parte porque a inteligência artificial dos inimigos não é idiota, na verdade os inimigos são ótimos, passa a impressão de que cada um deles é um inimigo a nossa altura, claro que não são, mas a impressão é o suficiente. A variedade de armas é de certa forma pequena, mas elas são evoluídas tão gradativamente que sempre temos uma novidade no combate, embora eu creio que a série pode aposentar a Pistola Dupla (ainda que o FanService no final tenha sido incrível) e canonizar o Arco e Flecha, que é de longe mais coerente com todo o tema de sobrevivência e é muito mais divertido.
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As habilidades que podemos evoluir em Lara são menos divertidas do que as armas, mas são uteis e elas claramente fazem diferença. Sabe aqueles jogos onde você compra evoluções com pontos de experiência e no final você não sente que nada mudou, aqui isso não acontece, mas no fim, essas evoluções não se tornam tão necessárias quanto as evoluções das armas para você prosseguir, por exemplo.
O “Instinto de Sobrevivência” que você aciona apertando apenas um botão faz com que Lara veja tudo que ela pode usar no ambiente, o que facilita o jogo, pode ser usado opcionalmente, nada de dicas na tela, se você quer jogar do jeito Hardcore você pode, basta deixar o botão quieto, ainda que se você errar muito uma coisa, Lara, comece a falar consigo mesma (no melhor estilo novela da Globo) se não seria melhor ela fazer tal coisa de tal jeito.
Camilla Luddington que interpreta Lara faz um ótimo trabalho, exceto como eu já disse, naqueles momentos que parece que o corpo de Lara é indestrutível, a personagem é perfeitamente verossímil, toda a expressão corporal e dublagem é realista. O texto também ajuda nessa parte, Lara é complexa, cheia de defeitos e qualidades.
Além disso, Tomb Raider é uma aula de narrativa para diretores de filmes épicos instantâneos, o ritmo do jogo é algo que deveria ser um template para obras como Transformers e outros do estilo, Lara diversas vezes entra em situações absurdamente épicas, como as que envolvem destruir um templo inteiro em um incêndio enquanto Samurais Oni Gigantes estão promovendo uma carnificina nele. Após isso no lugar de continuar com ação desenfreada é hora de se sentar e descansar, rever a trama e recalibrar a adrenalina, caso contrario aconteceria como em Transformers 3, que tem 2 horas ininterruptas de ação e que depois dos primeiros 40 minutos já desistimos de sequer olhar pra tela.
De muitos acertos e alguns errinhos, o único problema realmente irritante em Tomb Raider é que ele se torna repetitivo nas suas últimas horas. A trama do jogo é enrolada o máximo possível para fazer o jogo durar o suficiente e ao mesmo tempo é curta o suficiente para ser “crível” dentro dos limites realistas do jogo. Mas acontece que ainda assim, parece que a estrutura do jogo e suas mecânicas não são amplas o suficiente para durar tanto tempo sem se repetir. A escalada por exemplo é o pior, por mais que seja bem feita em termos de movimentação não da para acreditar que em todos os lugares tem o tipo de pedra escalável e que essas pedras ficam exatamente nos lugares necessários para Lara, isso deixa a maior parte dos caminhos lineares e isso acaba quebrando o clima do jogo.
Por sorte o último ato do jogo traz novos tipos de inimigos, uma tribo antiga na ilha, os Oni, são samurais com armaduras poderosas, apesar de lutarem com Katanas e Flechas contra Lara que tem Metralhadoras, Shotguns e Lança-Granadas, eles conseguem ser inimigos consideravelmente mais difíceis que os humanos normal que enfrentamos o jogo inteiro, talvez pela minha insistência em usar o Arco e Flecha, que é muito mais divertida.
No fim do game, você pode voltar à ilha e explora-la com mais calma, com menos inimigos e com liberdade total sem a trama te empurrando, mas na verdade isso acaba se tornando maçante de se fazer, pois querendo ou não, toda a emoção do jogo vem da trama dele combinada com a mecânica, a mecânica sozinha faz o jogo parecer um… Tomb Raider como qualquer outro, eu nunca fui fã de Tomb Raider, pelo menos não até agora.
Tomb Raider é um jogo obrigatório para fãs da franquia e para qualquer gamer que goste de jogar o que há de melhor no mercado, pois esse jogo é com certeza um dos melhores do mercado nessa geração.