A descaracterização do herói americano em Spec Ops: The Line


Vivemos numa época onde shooters em terceira pessoa sobre guerras são um clichê declarado, visto que os mesmos sempre tentam mostrar a convenção do herói americano e os inimigos da pátria. Alguns tentam mostrar os horrores por trás da guerra, tanto no psicológico ou o impacto sobre os civis daquele lugar. Spec Ops: The Line porém bagunça esses conceitos e te coloca como estopim de um conflito que você tenta impedir.

Já se fazem 5 anos desde o lançamento de Spec Ops: The Line em 2015, e é necessário dizer antes de mais nada que este jogo é uma carta de ódio aos seus investidores, entregue em forma de um buquê de flores. Para isso vamos discuti-lo desde o príncipio. Spec Ops é uma franquia já desconhecida que possui uma quantidade considerável de jogos. Certo dia, a 2K resolve que é hora de desenvolver um novo jogo para franquia com tudo do que se tem direito como explosões, multiplayer e todos outros aspectos que um blockbuster pode ter. Digamos que a Yager development, desenvolvedora do jogo, não ficou nem um pouco contente com isso criou uma auto sátira sobre o roteiro do jogo e todo o estilo de shooters militares no geral.

No jogo você é Martin Walker, capitão do seu pelotão e está em busca de um outro pelotão enviado a Dubai, liderado pelo veterano, John Konrad. Nesse mundo, Dubai foi aterrada por uma tempestade de areia e vive uma situação política instável e com recursos escassos.

O ponto que quero discutir neste artigo não é sobre a história do jogo que digasse de passagem é incrível, mas sim sobre como ela propõe o papel de vilão e herói durante o jogo. Então resumirei enormemente a história do jogo, porém recomendo que independente do gameplay fraco recomendo que o mesmo seja jogado. O texto foi inspirado em um artigo do Waypoint.

Em princípio os inimigos do jogo são rebeldes que querem os militares americanos fora de Dubai, mas depois de um certo evento, você começa a enfrentar outras equipes americanas, até o ponto de você cortar o abastecimento de água de toda Dubai para enfraquecer as forças inimigas com o efeito colateral de que todos os sobreviventes ficarão sem água, claro que até o momento você e o protagonista não sabiam de isso afetaria inocentes, mas o orquestrante do evento sabia e ele era um agente do FBI.

Durante eventos do jogo, seu esquadrão começa a lhe questionar sobre se o que tinham feito até ali não estava apenas prejudicando o lugar, mas o protagonista compelido em ser herói diz que devem continuar. Durante o ponto mais impactante do jogo, o fósforo branco. Nesse momento o jogador se vê cercado de inimigos e a única forma de passar é disparar morteiros de fósforo branco nos inimigos. Fósforo branco é um material usado em guerras considerado totalmente desumano já que o mesmo no momento que entra em contato com a pele começa a queima-la e torna o ambiente tóxico. Nesse momento quem dispara isso contra o inimigo é você, o herói do jogo enquanto vê seus inimigos na tela como pequenos pontos serem dizimados um a um como formigas.  

Em muitos jogos militares, vemos os inimigos apenas como obstáculos pré-programados a serem eliminados e simplesmente ignoramos o massacre que fazemos, já que muitas vezes são russos pró guerra, nazistas ou qualquer outro grupo militar. Após o evento do fósforo branco nós vamos ver o resultado do massacre que fazemos, e vemos inimigos rastejando, agonizando de dor, horrível com certeza, mas o pior vem depois. Ver que esses tais inimigos que eram nada, estavam na verdade protegendo civis na área, no qual você  acabou de disparar fósforo branco e o jogo faz questão de mostrar detalhadamente a destruição que você causou e quantos inocentes você tirou a vida, sendo o herói. Após isso a situação apenas piora e culmina na morte de muitos e eventual fim de Dubai.

Do you feel like a hero yet?

A destruição de toda uma região foi causada pelo bom moço nos videogames. Durante todo o gameplay você consegue ver a destruição causada por você jogador. Se não bastasse o mesmo mostra frases durante o loading, no qual questiona suas ações como “Ainda se sente um herói?”. Muitos jogos mascaram a violência da guerra em diversão pré scriptada, Spec Ops: The Line por outro lado, mostra os horrores da mesma e como até mesmo o famigerado herói americano da mídia causa destruição por ordem de seu governo já que matar pelo seu país é heróico, matar por você mesmo é assassinado e matar por entretenimento é inofensivo.
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