Star Wars: O Despertar da Força | Crítica
Há quanto tempo eu esperei para poder escrever uma crítica de um filme de Star Wars, desde 2005 que eu sei que dificilmente eu teria a chance, mas a Disney mudou isso há poucos anos atrás quando comprou a Lucasfilm e anunciou para 2015 o seu novo filme da franquia, o episódio 7; Star Wars: O Despertar da Força.
Embora eu esteja evitando spoilers nesse review, eu preciso mencionar a trama antes de começar e ela é muito parecida com a trama dos dois primeiros filmes lançados, Uma Nova Esperança e O Despertar da Força começam idênticos, com o Império / Primeira Ordem caçando um droid com informações confidenciais num planeta deserto, até que esse droid cai em mãos erradas até parar nas mãos do herói / heroína da trama.
Sobre a nossa heroína, Rey, ela é provavelmente a melhor coisa do filme ao lado de seu droid, BB-8, que rouba as cenas. Daisy Ridley foi um achado e interpreta uma das heroínas mais leves e bem escritas do cinemão de hoje, ela é um respiro para a tendência de heroínas duronas, dramáticas e danificadas dos Jogos Vorazes e Divergentes por aí. A nossa heroína é forte, tem problemas de toda a sorte e nem por isso se fecha em quartos escuros, poupa palavras e encara o vazio de tempos em tempos.
Fin também não fica para trás, embora ele tenha menos importância do que Rey, a sua parte na trama e sua origem não podiam ser mais interessantes. Ele de certa forma humaniza os Stormtroopers como nunca antes e faz com que esses se tornem uma ameaça diferente, pois quando o enfrentam, um desertor e traidor da Primeira Ordem, tudo parece mais pessoal e violento, certamente um bônus para o que o personagem trás ao filme.
Entretanto Kylo Ren, que embora nem de longe seja o protagonista, é o personagem mais importante do filme e possivelmente de toda a trilogia também, se Rey é o equivalente ao Luke Skywalker (só que muuuuuito mais carismática), Kylo Ren é o equivalente a Darth Vader. Eu não estaria me arriscando muito se dissesse que Ren tem o potencial de ser também o mais complexo da saga. O problema de falar sobre Ren é que falar sobre ele é entregar os plot-twist do filme
Entretanto apesar do filme ter ótimos novos personagens, incluindo aí o Poe Dameron que eu não mencionei, mas é bem legal, o General Hux que é o novo Tarkin e a Capitã Phasma que é a nova Boba Fett (personagem legal, mas que não faz nada), os antigos personagens da trilogia original também estão de volta com Leia, Han Solo, C3PO, Almirante Ackbar e outros e por incrível que pareça esse é o único momento em que o filme perde um pouco a qualidade.
O primeiro ato de Star Wars: O Despertar da Força é todo entre Rey, Fin, Poe Dameron, Kylo Ren e BB8. Coincidentemente ou não é disparado o melhor momento do filme, quando Han Solo entra na história, por mais que Han Solo seja Han Solo, ele derruba o ritmo do filme com uma aventura paralela colocada lá apenas porque J.J. Abrams é fã do personagem como todos nós, e quis mostrar que mesmo depois de 30 anos Han ainda é o mesmo Han que nós conhecíamos, infelizmente não funciona bem.
Após conhecer os heróis Han Solo ainda os leva até Maz Kanata, personagem interpretada através de mo-cap por Lupita Nyong’o, que serve como a Yoda do novo filme, e aí o ritmo despenca. É como se o filme quisesse explicar tudo que nós não precisamos saber, e obviamente inserir um elemento importante arbitrariamente na trama, enquanto por outro lado muitas coisas jamais são explicadas.
O passado de Rey e sua família são propositalmente mistérios deixados em aberto para o restante da trilogia, entretanto a própria natureza da segunda ordem, um background mais explicativo sobre Kylo Ren, quem é o Líder Supremo Snoke, como a Nova República age na galáxia e coisas desse tipo se perdem no meio a aventura ininterrupta que é o filme.
Digam o que quiser das prequel, que elas são mal atuadas, com péssimos diálogos e que as tramas são desconjuntadas, mas uma coisa os episódios 1, 2 e 3 fazem melhor do que os outros 4 episódios, que é mesclar a mitologia da saga dentro da narrativa, o episódio 4 Uma Nova Esperança também fez isso muito bem, mas nesse filme J.J. Abrams parece que gostou tanto do suspense em torno da história e da nova mitologia nesses 30 anos à frente antes do filme estrear, que ele esqueceu que ele tinha que explicar isso tudo no filme.
Mas J.J. Abrams não errou em uma coisa. No estilo visual e de direção que aplicou ao longa. Ainda que a trama seja extremamente derivada dos Episódios 4 e 5, quase um remake para ser honesto, não dá para dizer que ele não revolucionou a franquia a sua forma, inserindo um realismo visual e de texto sem igual antes.
A batalha de sabre de luz entre Kylo Ren e Rey pode até não ser tão visualmente empolgante quanto a de Obi Wan contra Darth Maul, ou nem tão emocionante quanto a de Luke contra Darth Vader, mas é certamente a mais real e brutal de todas essas, sem firulas, e ao mesmo tempo sem limitações tecnológicas, são duas pessoas atacando umas às outras com as armas mais letais da galáxia.
O restante da ação também é imediatamente icônico, desde as manobras que Rey é capaz de fazer na ponte de comando da Millenium Falcon, ou a fuga de Poe e Fin do Star Destroyer, mesmo os acessos de raiva de Kylo Ren, tudo é lindo no filme como Star Wars jamais foi, exceto em nossas mentes nostálgicas.
A trilha sonora, ainda que seja basicamente a mesma de sempre com algumas novas inserções, acho que nem podia ser diferente, é espetacular e dá o tom para embalar a jornada de Rey, Fin e BB8, três personagens que tem uma química excepcional e prometem ser os rostos memoráveis para uma nova geração de fãs da franquia Star Wars
Apesar de ter algumas falhas, Star Wars; O Despertar da Força é um filme espetacular e que se permite ser autoindulgente, pois ele é mais do que um filme, ele é um evento aguardado há décadas. Ainda assim, eu acho que não seria pedir muito para que o Episódio 8, dirigido por um diretor que eu considero bem superior, seja o seu próprio filme e não uma homenagem a trilogia anterior disfarçada de uma bela aventura como esse foi. Já temos os heróis certos e os vilões certos para uma nova saga épica, vamos então esperar algo novo.
NOTA9.0