Little Nightmares | Crítica
Quando eu decidi jogar Little Nightmares para testar como o game seria, eu mal fazia ideia do que ele se tratava, sabia que era um jogo de plataforma com um estilo semelhante ao de Tim Burton, mas não imaginava que ele seria uma espécie de Limbo ainda mais dentro do gênero terror e o resultado após a jogatina? Uma grata surpresa.
Little Nightmares é quase um jogo de esconde esconde com puzzles, apesar de se encaixar facilmente no gênero terror, o jogo não se prende a velha técnica dos sustos fáceis e coisas escondidas ou ocultas para gerar tensão, pelo contrário, você é quem está sempre oculto e seus inimigos estão sempre a vista, mas por outro lado, você é um personagem pequenino e indefeso, enquanto seus predadores a espreita são implacáveis e mortais, por isso o jogo incentiva a você permanecer sempre escondido.
A maior qualidade de Little Nightmares está na ambientação e no clima do jogo, a forma não só como os cenários são criados, mas como os ângulos e abertura de câmeras mudam de tempos em tempos para mostrar a grandeza opressora de certos ambientes, até a forma como as sombras e luz são aplicadas nas mais diversas situações, mostram um design artístico extremamente bem pensado e bem executado.
O estilo dos monstros, pesadelos, seja lá como você queira chamar, também são um caso de excelência em termos de ambientação. Muitos dos inimigos do jogo aparecem apenas em silhuetas e imersos sob as trevas e ainda assim exalam uma personalidade bem própria e que dá contornos a estética do jogo. Eles não apenas parecem ameaçador para nosso diminuto personagem, mas eles constroem o estilo do mundo e ajudam a complementar a narrativa visual que o jogo tem.
O jogo é bem leve na narrativa, absolutamente nada é contado para você, ao menos não do jeito tradicional, tudo que você sabe você sabe através do que o visual te mostra, não apenas o visual, mas as ações, sons e todos os mínimos detalhes do cenário. Esse certamente é um estilo de narrativa semi-experimental que está ficando cada vez mais comum em certos jogos, é uma versão mais hardcore da brilhante forma como a narrativa de Dark Souls é contada, mas que só funciona bem em Little Nightmares porque a trama do game pouco importa e fica para traz quando comparada com o gameplay e a ambientação.
Por outro lado, a forma como a narrativa funciona acaba interferindo na forma como gameplay em si funciona em determinados momentos, a primeira meia hora do game é um pesadelo do ponto de vista técnico, visto que o jogo faz um péssimo trabalho para te explicar sequer como os controles funcionam, qual botão faz o que, quais coisas você pode interagir e quais não, com quais botões elas interagem e coisas básicas assim. Eu sei que muita gente chamaria isso de "não segurar a mão do jogador", mas explicar ao menos como os controles funcionam não é exatamente facilitar a vida de ninguém, até porque em determinado momento, o jogo decide te explicar o que cada botão faz... depois que você passou os últimos vinte minutos aprendendo sozinho.
Além de ter problema para te explicar como o jogo funciona (uma síndrome do mercado indie que muitas vezes mal consegue te explicar do que certo jogo se trata), o jogo ainda tem algumas questões técnicas um tanto irritantes, especialmente no controle de movimentação do personagem principal. O sistema de plataforma do jogo é 2.5D, onde você segue corredores para frente, mas pode se mover para cima e para baixo em diversas áreas desses corredores, mas fazer isso não é muito fácil. Os controles são imprecisos e isso fica muito óbvio com situações que exigem agilidade, ou pulos, ainda mais nos momentos em que temos que fazer o personagem andar “na corda bamba” por assim dizer e nesses casos é difícil fazer o personagem seguir uma linha reta, mesmo quando precisamos apenas empurrar a alavanca do controle para cima.
Ainda assim, esses problemas são questões menores comparados a qualidade geral de Little Nightmares. O design de jogo desse título é particularmente esperto e tem ótimas sacadas, enquanto o design artístico é simplesmente brilhante, a combinação de ambos, ainda que com problemas técnicos, vai te deixar querendo mais do que as curtas quatro ou cinco horas de duração que o jogo propõe.