A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell | Crítica
Criado em 1989 por Masamune Shirow, o mangá Ghost in the
Shell passou a ser conhecido em todo o mundo graças à animação dirigida por Mamoru
Oshii e lançada em 1995. A obra se tornou referencia para aqueles que curtiam
historias baseadas no universo cyberpunk e serviu como base para obras famosas
da cultura pop que viriam a surgir no futuro.
Nesta quinta-feira estreio em todo no Brasil a adaptação
live action baseada na obra, e o diretor Rupert Sanders tinha nas mãos o peso
de trazer para a grande tela a filosofia e a estética do universo criado por Masamune
Shirow e popularizado por Mamoru Oshii.
Protagonizado pela atriz Scarlett Johansson (Luci, Capitão
América 3: Guerra Civil), o filme segue uma linha mostrando o inicio da jornada
da personagem Major, após ter sido salva pela empresa Hanka Robotic e ter tido
seu cérebro colocado em um corpo robótico. Agora integrando a Sessão 9, ela
deverá impedir um cybercriminoso de realizar crimes contra membros da empresa
que lhe salvou e assim descobri uma trama muito maior envolvendo o seu passado.
Depois do grande fracasso da adaptação live action do anime
Dragon Ball, todas as noticias relacionadas a filmes americanos, envolvendo
historias vindas de animes e mangás, passaram a ser vistos com receio pelo
publico. Automaticamente o mesmo ocorreu com o anuncio da adaptação de Ghost in
the Shell e o filme sempre sofreu a pressão de agradar o publico conhecedor da
obra e abrir caminho para aquele que não a conheciam.
Os roteiristas Jonathan Herman e Jamie Moss tinham a missão adaptar
um universo complexo em historia e filosofia para a tela, e ainda tinham que
ocidentalizar o filme sem sair do contexto Oriental. Já Rupert Sanders tinha a
missão mais difícil, guiar qual o caminho que o filme iria seguir e neste ponto
o diretor acertou ao decidir dar ritmo para o longa e colocar a parte filosófica
como algo mais sutil através das ações e das conversas da Major com os outros personagens.
Mesmo que não exista cenas contemplativas no filme, como era na animação, o
diretor foi pelo caminho que ainda respeita a obra.
Outra decisão bem acertada do roteiro foi o modo em que o
passado da Major foi colocado na historia, aonde o filme passa a se aproximar
bastante da obra original e ainda resolve as questões da polemica de whitewashing
em que o longa estava envolvido.
Com um ritmo mais acertado foi possível que o longa pudesse
ter a parte da investigação, envolvendo o cybercriminoso Kuze, bem desenvolvida
e mesclando com a busca da Major por seu passado. Os motivos para os crimes do
personagem levam a questões de até aonde uma empresa (ou alguém) tem direitos sobre
outra pessoa, algo parecido com que foi abordado no filme Logan, aonde a
empresa Alkali-Transigen trata as crianças mutantes como produtos com direitos
de produção e copyright pertencentes a empresa.
As cenas de ação e de efeitos visuais são muitos bem
produzidos para o longa, principalmente as diversas panorâmicas mostrando todo
o belo visual da cidade com suas gigantes propagandas holográficas. Na cena de
luta no espelho da água temos diversas tomadas em ângulo aberto e nisso podemos
ver um contraste interessante entre um lado colorido da cidade e um outro
completamente sombrio. Este lado sombrio é visto mais na parte interna da
cidade, e que referencia o filme Blade Runner.
A escolha da atriz Scarlett Johansson para interpretar Major
foi justificada neste filme, a personagem dela consegue ser mais humana que a
Major da animação, mas ao mesmo tempo ela consegue fazer movimentos duros como
uma maquina. O elenco de apoio também complementa bem o filme, com destaques
para Pilou Asbæk (como Batou) e Takeshi Kitano (como Daisuke Aramaki).
Porem Ghost in the Shell não é perfeito, o filme acaba jogando gratuitamente algumas cenas apenas para contextualizar com o
plot principal. Cito principalmente o inicio da cena que leva a luta do espelho
da água, aonde dois personagens são introduzidos do nada apenas para realizar
um atentado e no final descobrirmos sobre a possibilidade da implementação de
memorias falsas.
Outro ponto contra o filme é a cena do “mergulho” da Major
nas memorias da robô gueixa, nesta cena é inevitável fazer uma comparação com
Matrix (que teve a obra de Masamune Shirow como uma de suas inspirações).
Como adaptação, o diretor Rupert Sanders conseguiu guiar o
filme para algo novo e ainda respeitar a obra original. Os efeitos visuais do
filme são magníficos, principalmente nas cenas dos saltos da Major e na
ambientação da cidade. Já como historia, Ghost in the Shell acerta ao colocar a
parte de investigação em primeiro plano e deixar a parte filosófica como algo mais sutil dentro da trama.
O filme só errou ao jogar cenas para apenas contextualizar o
plot principal e (devido ter sido lançado em live action apenas agora) ao utilizar referencias visuais já existentes na cultura pop, Ghost in the Shell acabou não gerando nenhum impacto que possa ser utilizado, ou lembrado, futuramente.