Nós erramos, em uma semana a promissora WESA já começou a ruir

Não deve fazer nem uma semana que nós escrevemos um artigo sobre a WESA, uma promissora organização que ia dar um jeito de consertar diversos problemas no mundo dos eSports, melhorando a vida dos jogadores, regulamentando conflitos, melhorando os torneios, limitando a quantidade deles, deixando-os mais profissionais e coisas desse tipo, caso você queira ler o que falamos lá é só clicar AQUI!

Contudo já na sua primeira entrevista coletiva, a WESA começou o vacilar com alguns detalhes que abrem margem para fraudes que parece que não foram pensados por eles de antemão, já que eles não conseguiram responder as perguntas que foram feitas.

Antes de passar para a primeira questão preocupante sobre a WESA nesse post, eu queria relembrar aqui que cada eSport tem as suas própria regras, divergências entre campeonatos e coisas do tipo, em Smite por exemplo nós temos uma liga de 5 v 5 jogadores com um conjunto de regras e outra bem menor de 3 v 3 jogadores com um conjunto de regras parecido, mas não idêntico Em CS:GO existem certas regras e além disso divergências de mapas que podem entrar em um torneio. 
Por outro lado, diferente da forma como a WESA se anunciou na última semana, ela é exclusivista, além dela cobrar uma taxa aos membros participantes, não são todos os times que podem participar dela e influenciar nas suas decisões e o problema que isso gera fica evidenciado na entrevista abaixo. Um jornalista do Gamespot chamado Rob Crossley perguntou a Ralf Reichert, um executivo da ESL, “dona” da WESA o seguinte:
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Crossley: Então o que exatamente a WESA vai sancionar?

Reichert: Ela sancionará regulações de transferências, arbitragem, formatos de torneio...

Crossley: Certo, então decidir o formato de um torneio pode ter influência na partida. Hearthstone, por exemplo, tem o Last Hero Stading e Conquest como formatos, ambos se beneficiam de um certo estilo de jogo e um certo tipo de deck. Então os membros do conselho da WESA poderão escolher o que eles preferem?

Reichert: Sim, mas há oito times que são membros e os votos são divididos entre eles.

Crossley: E há bem mais que oito times que jogam na liga profissional. E a maioria deles não terá nenhuma opinião sobre formato e regras, mas os oito times membros da WESA terão.

Reichert: Na realidade não. Na realidade apenas esses oito times e talvez um pouco mais terão uma palavra em como as coisas funcionarão. Porque eles têm a experiência e uma relação formal com os organizadores. Nós queremos que os times da WESA sigam nessa direção.

Crossley: Então é aí que está o problema. E ele é sobre o que nós começamos a falar, é sobre legitimidade. Obviamente nós não queremos desencorajar times fora da WESA. Mas os times atuais da WESA precisam evitar fazer coisas que façam parecer que eles estão tomando vantagem.

Talvez o problema não tenha ficado tão claro para quem não está muito por dentro dos eSports, mas existe uma forma simples de explicar.

Digamos que o campeonato de CS:GO vá ter 4 mapas jogáveis dos vários mapas que a VALVE criou e desses oito times, seis por exemplo, tem uma taxa de vitória de 75% em quatro mapas específicos enquanto os outros dois times e os times que estão de fora da WESA tem uma taxa de vitória menor nesses mapas, mas tem uma taxa maior em outros 4 mapas diferentes. Quem vota nas regras, certamente pode e provavelmente vai votar no que o beneficia. Seria como na Formula 1 os pilotos da Ferrari e da McLaren decidissem só porque correm melhor com certo tipo pneu, que todas as outras equipes só podem usar esses pneus durante o campeonato. Ou que num jogo do Campeonato Brasileiro o Palmeiras, o Flamengo e o Vitoria decidissem que porque eles jogam melhor na chuva, os jogos só podem acontecer em dias que estejam chovendo.

Agora por que apenas oito times de CS:GO fazem parte do conselho da WESA, por que não todos os times? Simples, porque os outros times não cumprem o critério mínimo requerido pela organização, e quando perguntado qual o critério para participar do conselho da WESA a resposta foi simplesmente “Tem haver com estabilidade e sucesso”. Entretanto ainda que o grupo esteja sendo planejado a mais de um ano, ainda não há um critério mais especifico do que "estabilidade e sucesso". Estabilidade é um time existir há mais de dois anos? Três anos? Quatro anos? E como se mede o sucesso? Ter ganhado mais de cinco ou de dez campeonatos profissionais? E se um time ganhou nove, mas ficou em vice no décimo, isso não é sucesso?

Para dar um exemplo, nenhum dos times da WESA atualmente são norte-americanos e os EUA são um dos maiores nomes dos eSports. Nenhum organizador de eventos faz parte da WESA exceto a ESL, que é uma espécie de dona da organização.

O time EnVyUs, um nome excessivamente sugestivo e quase irônico nesse caso, ressaltou um dos motivos pelo qual se filiou a WESA e em resumo tem haver com a oportunidade financeira de poder ter uma palavra sobre o dinheiro que eles podem ganhar com venda de ingresso, merchandising, patrocínios e contrato de direito de exibição das marcas.
Mas o problema nem para por aí, depois disso você imagina que quem está na WESA não vai querer sair já que a organização oferece tantas vantagens exclusivistas. Mas não é bem assim, pois o jornalista Kevin Knocke do IGN conseguiu um furo sobre o time FaZe Clan que já está se preparando para abandonar o barco na próxima semana e isso vai custar caro a eles.

O time FaZe Clan vai ter que 50 mil dólares em multa por abandonar a WESA e apesar do valor e das vantagens eles vão abandonar a recente fundada World Esports Association graças a uma cláusula de exclusividade de representação que a ESL demanda dos times filiados.

A fonte dentro do FaZe Clan que contou isso ao IGN alegou que a WESA e a ESL estão pressionando os times a abandonarem seu agenciamento atual e deixarem a WESA cuidar disso por eles, mas o FaZe Clan quer manter seus agentes e aparentemente eles não podem. E isso tudo vai contra a ideia original de que a ESL não queria exercer controle profissional sobre os times filiados e contra a ideia de que a organização deveria ser de jogadores para jogadores. Se fosse o caso, por que um time não conseguiria ter algo tão simples como escolher manter seu próprio agente?

É bem estranho ver uma promissora organização de um dos seguimentos da indústria que cresce mais rapidamente hoje ruindo uma semana após o seu início. Vamos esperar que a ESL e a WESA revejam alguns desses problemas antes que eles se tornem apenas uma vírgula na história do surgimento, profissionalização e crescimento dos eSports.
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