Overwatch | O closed beta e o futuro do jogo como e-Sport
Overwatch é o novo titulo da Blizzard e a primeira aposta da desenvolvedora no mundo dos shooters desde Starcraft: Ghost, jogo que foi cancelado após vários anos em desenvolvimento. O game é um arena shooter, gênero popularizado nos últimos anos graças ao sucesso de Team Fortress 2, que trás diversos personagens jogáveis com características e habilidades únicas, criando uma espécie de sistema de classes e possibilitando que as equipes explorem um bom leque de opções estratégicas nas partidas.
O primeiro período do closed beta
do jogo teve início em Outubro do ano passado, porém durou apenas cerca de
cinco semanas. Nesse curto tempo online, os poucos sortudos que tiveram a
oportunidade de conhecer a novidade de perto não pouparam elogios, destacando a
fluidez da jogabilidade, a diversidade dos personagens, os gráficos e,
principalmente, o quão divertido o jogo consegue ser. Após quase dois meses de
espera, o beta finalmente retornou no último dia 9, liberando mais chaves de
acesso e trazendo várias novidades.
Porém, apesar de tantos pontos
positivos, alguns aspectos do jogo deixaram uma dúvida pairando em torno da
comunidade: afinal, Overwatch tem o que é
necessário para se consolidar como um e-Sport?
Desde o anúncio do game, a Blizzard deixou bem claro suas intenções
de explorar o mercado de esporte eletrônico com o novo título, atitude que vem
se tornando cada vez mais comum no mundo dos games. Enquanto grandes nomes como
Counter-Strike, League of Legends e Starcraft
desenvolveram seus cenários competitivos de forma gradual e quase natural,
alguns jogos atuais já chegam ao mercado sob a alcunha de “e-Sport”. Mas nem
sempre é assim tão fácil.
Team Fortress 2 |
Overwatch corre o risco de sofrer o mesmo problema. Apesar de o
jogo ser essencialmente um FPS, ele também possui características que alteram a
dinâmica de um shooter padrão, como habilidades e comando de ações únicos para
cada personagem jogável, o que inclui até ultimates.
Também podemos citar o uso de classes, que definem funções específicas dentro
da partida, como tank ou suporte, por exemplo.
Essas adições são, de fato, bem
interessantes e transformam Overwatch
em um game diferenciado, que não possui toda a imensa complexidade dos MOBAs,
mas que também não aposta na simplicidade dos FPS clássicos. Porém, talvez essa
fórmula possa acabar esbarrando em alguns pontos essenciais para o crescimento
de um jogo competitivo.
Precisa ser bom de assistir
Um dos pontos mais influentes em
um game competitivo é seu modo espectador. O jogo precisa ser transmitido de
forma compreensível e interessante para que as pessoas tenham vontade de passar
horas acompanhando os campeonatos, desvendando as estratégias e apreciando as
jogadas executadas nas partidas. E essa já é a primeira barreira que Overwatch
terá que superar.
Se pensarmos em um FPS normal,
todos os players possuem status e aparência bem semelhantes. Obviamente,
existem variações no tipo e modelo da arma escolhida pelos jogadores, porém a
essência é a mesma: dois times diferenciados por cores e uniformes, com
equipamentos semelhantes e habilidades iguais, que consistem em utilizar suas
armas para aniquilar seus oponentes. Quando o expectador é colocado para
acompanhar a ação em primeira pessoa, não existe tanta informação ou elementos
que precisam ser diferenciados e compreendidos. São apenas armas, miras e os
inimigos que precisam ser abatidos em um mapa específico.
Já nos MOBAs, a ação é assistida
de cima, com uma visão ampla e aberta de tudo que acontece no jogo. Apesar
desse gênero possuir milhares de habilidades diferentes, itens e elementos que
o expectador precisa acompanhar, existe um certo padrão que pode ser compreendido com certa facilidade.
Divulgação - Blizzard |
A Blizzard já implementou algumas mudanças interessantes no modo
espectador buscando amenizar esse problema. Claramente a ferramenta ainda está
em desenvolvimento e carece de uma série de informações, retoques e
funcionalidades básicas. A empresa já demonstrou seu comprometimento em
melhorar e, provavelmente, teremos algo muito mais organizado e funcional
quando o jogo for lançado.
Precisa exigir habilidade
Se existe algo que quase todos os
e-Sports possuem é a tal “skill curve”,
ou a exigência de habilidade. Ter uma mecânica apurada é fator essencial para
qualquer jogador conseguir se destacar ou superar seus adversários.
Infelizmente, a Blizzard ganhou uma
certa fama recente por transformar seus jogos em experiências muito casuais, como alguns players de World of Warcraft costumam sempre reclamar. Casos como Heroes
of the Storm, que não possui vários elementos que definem o nível de complexidade de outros MOBAs, ou até mesmo Hearthstone, que vive sendo tachado de "muito simples" quando comparado a outros card games mais tradicionais, são bons exemplos.
No caso de Overwatch, a carência dessa skill
curve já vem sendo criticada por parte dos players que estão desfrutando do
closed beta. Exemplos como o personagem Soldier
76, que possui uma ultimate que não necessita de mira nenhuma para ser
efetiva (um verdadeiro aimbot), ou a personagem Mercy, que
possui um kit que não exige muita
mecânica para ser utilizado, são casos relativamente preocupantes quanto ao
potencial do game jogado em um alto nível.
Divulgação - Blizzard |
Porém, executar o teamwork com maestria não pode ser o único desafio do jogo. É necessário existir uma janela para outplays individuais e jogadas épicas, como todo e qualquer e-Sport de sucesso. Seja na velocidade em que o combo de um personagem é utilizado ou naquele headshot épico, Overwatch ainda precisa de alguns ajustes e melhorias para que o game fique mais coeso e condizente com um alto nível
de jogo.
Precisa ser competitivo
Em 2015, os principais jogos
competitivos da Blizzard – Starcraft II, Hearthstone e Heroes of the
Storm – distribuiram mais de U$ 2 milhões em premiação cada um, figurando
entre os games mais bem pagos da indústria do esporte eletrônico no mundo. Para
Overwatch engrenar como um e-Sport
de sucesso, será estritamente necessário que a empresa implemente um tipo
de modelo de negócios semelhante ao que já adota em seus demais jogos.
A criação de um circuito de
torneios bem definido, com um calendário organizado e com boas premiações é a melhor alternativa
para a desenvolvedora conseguir solidificar o game no cenário competitivo. Além
disso, a participação de empresas como a ESL
na promoção de torneios tende a amplificar ainda mais o alcance e popularidade
do jogo.
Porém, o mais importante é a expansão
das fronteiras do game. Atualmente, é indiscutível o grande poder e influência
da Ásia no mundo do e-Sport e, caso Overwatch
consiga atrair a atenção da Coreia do Sul, da China e de outros países da
região, é quase garantido que o jogo irá crescer competitivamente.
No dia 16 de Fevereiro a desenvolvedora promoveu a inauguração dos servidores de teste na região, mas o sucesso do jogo ainda é incerto. A Coreia do Sul, por exemplo, possui o mercado de e-Sport mais estruturado do mundo, mas para um game crescer no país ele precisa, acima de tudo, conquistar o público e em uma cultura tão competitiva, games que não atendem jogadores hardcore costumam perder espaço no mercado.
Divulgação - Blizzard |
Ainda existem muitas perguntas em
aberto sobre o futuro do jogo no mundo do esporte eletrônico que só serão
respondidas após seu lançamento oficial. Ainda sim, algumas organizações
tradicionais, como a EnVyUs e a SK Gaming, já deram os primeiros passos
e anunciaram as contratações de equipes para a modalidade. Se todo esse hype fará jus ao jogo, ainda é
impossível dizer, porém pelo que foi possível ver até o momento, Overwatch mostrou ter um bom potencial como e-Sport de sucesso, mas ainda precisará acertar alguns detalhes se quiser se tornar um grande nome nesse mercado.