Game of Thrones – 5° Temporada | Crítica

Crítica com Spoilers


Todo ano assim que uma temporada de Game of Thrones termina vem aquele pensamento “essa foi a melhor temporada da série?”, certamente não dessa vez, mas com certeza essa quinta temporada foi a mais polêmica de todas; mudanças na história principal, vazamento dos primeiros episódios, personagens cortados, spoilers dos livros e principalmente estupros, essa temporada de GoT vai ficar para a história como a mais problemática da série, o que não quer dizer que ela não tenha sido muito boa ainda assim.


Três coisas se destacaram nessa temporada, a primeira delas foi o esperado encontro entre Tyrion e Daenerys que representa não só um evento marcante para a trama da série, mas representa também que Dan Weiss e David Benioff, os showrunners, não estão mais se limitando a seguir o que George R.R. Martin solidificou em seus enormes livros, já que na trama de A Dança dos Dragões tudo o que acontece com o Tyrion é uma longa caminhada, onde ele anda, navega, arruma uma namorada anã, se separa, anda mais e vive toda a sorte de coisas entediantes no caminho interminável até Mereen, na série não só algo acontece com ele, mas algo interessante acontece ele e isso já é um passo a frente da mera adaptação que vinha sendo feita até o último ano.


Além disso, a série esse ano foi além do básico e do padrão para cenas de ação feitas para TV que era o básico das três primeiras temporadas, digo isso porque o penúltimo episódio da 4° temporada teve a famosa batalha em 360° na Muralha que foi bem legal, mas nada em Game of Thrones e para ser honesto em toda a TV, se compara a batalha de Hardhome no 8° episódio esse ano, a expectativa para o que está por vir agora ficou altíssima e eu acredito que Dan e David precisam saber bem o que vão fazer para cumprir esse novo padrão de excelência que a série se auto impôs.


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Contudo, o terceiro ponto a se ressaltar é que mesmo com os produtores acelerando o passo e misturando pelo menos 80% dos dois últimos e enfadonhos livros de As Crônicas de Gelo e Fogo numa só temporada da série, isso ainda não impediu que os primeiros episódios desse ano fossem extremamente parados e com um péssimo ritmo, o que não significa necessariamente que foram episódios ruins, mas um pouco mais de ritmo neles não faria mal a ninguém.


Essa questão de ritmo talvez não seja um problema da história em si, mas sim que os diretores conduzindo os episódios muitas vezes não entendem que já passaram dos limites. Mesmo no último episódio onde Cersei é obrigada a caminha nua em sua expiação por toda Porto Real, obviamente o diretor quis mostrar a degradação psicológica de Cersei ali, mas a cena é extremamente longa e não nos deixa desconfortável pelo que a personagem está passando apenas, que era claramente a intenção da cena, mas nos deixa desconfortáveis por assistir durante 7 minutos... SIM, 7 minutos, uma mulher nua andando e com pessoas gritando “Shame! Shame!” atrás dela. Será que a mesma cena não poderia ter o mesmo efeito com metade da duração? Quem sabe até menos, dois minutos de cena não seriam o suficiente? Afinal, por mais emblemática que a cena seja para a trama, não tem tanta coisa nela acontecendo.


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Esse ano Game of Thrones pode não ter conseguido mesclar a gama de boas histórias da 4° (e melhor?) temporada da série, mas tanto o que foi criado por George R.R. Martin quanto o que foi criado para a TV especificamente foram a sua própria forma extremamente impactante.  Por mais que tenhamos torcido o nariz ao ver por onde a história da Sansa estava indo a principio e todo aquele caso do estupro dela ter sido, talvez, desnecessário, mas também inevitável afinal... ela casou com o Ramsay, não tem como não dizer que ver uma Stark de volta em Winterfell não seja bacana, até porque precisávamos ficar engajados com aquela história, Ramsay pode ser ainda um personagem importante e temos que ver o que ele está fazendo e Theon ser o nosso guia naquela trama não funcionava mais há algum tempo e Dan e David são inteligentes o suficiente para saber que focar uma trama pelos olhos de um vilão perturbado como o Ramsay seria um tiro no pé.


Mas o que verdadeiramente me impressionou de forma negativa foi a forma como a série lidou com Dorne, por mais que eu ache que os fãs dos livros valorizam o arco de Dorne mais do que ele merece, na série eles conseguiram piorar o que eu já não achava muito bom. Por um lado eles deram algo para Jamie Lannister fazer pós Tormenta de Espadas, o que é mais do que Martin fez, só que ainda assim toda a história sobre tentarem matar Myrcella pareceu subaproveitada e acabou terminando fácil demais... e sim, mesmo com aquela cena final entre Jamie e Mycerlla pareceu fácil demais na comparação com o que acontece com todo o resto da série, mas isso provavelmente vai dar ainda mais gás ao personagem de Jaime pro próximo ano e eu gostaria de ver o Regicida simplesmente arrasando e terraplanando toda aquela área. Foi um toque bem bacana ver ele finalmente se conectando com um dos seus filhos, por mais que isso tenha sido muito breve.


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Por falar em filhos... o que dizer da Shireen Baratheon que era a minha criança preferida na história e acabou levando o fim mais trágico do que eu jamais esperava. Eu realmente achei por um tempo que Shireen acabaria parando no Trono de Ferro ou pelo menos virando uma forte concorrente a ele, mas tudo o que aconteceu foi ela parar em uma das fogueiras de Melisandre da forma mais traumática possível e acabou revelando um ponto do Stannis que algumas pessoas não conseguiam perceber.


Eu ia escrever uma matéria inteira sobre Stannis Baratheon quando aquilo aconteceu, mas eu desisti porque cabia em dois parágrafos dessa crítica... Stannis Baratheon sempre foi um personagem patético e muitas pessoas o viam como um dos melhores personagens da trama. Alias, ele foi escrito para ser fraco, o tempo todo é dito nos livros “Robert era aço, Stannis é ferro”, porque “Stannis quebra”. Ele sempre foi o cara que segue fielmente uma religião em que nem acredita, ele se voltou contra seu próprio irmão não porque ele era realmente o Rei de Fato (que nesse caso ele até era), mas sim porque Melisandre o influenciou a fazê-lo, ele acreditou ser Azor Ahai sem ter qualquer prova apenas porque isso massageou seu ego.  Sua própria espada, a Luminífera, a espada lendária verdadeira ou a falsa, o agredia e o queimava e por último ele assassinou a única chance de paz de Westeros, Renly Baratheon, que veja só... também era do seu sangue assim como a nossa adorada Shireen e que também não era hostil a ele.


Renly Baratheon era o rei mais razoável da Guerra dos Cinco Reis, ele concordou em ceder o Norte a Robb Stark para governar como Rei do Norte pela aliança contra Joffrey e ofereceu a conversar e negociar com Stannis que preferiu simplesmente assassiná-lo da pior e mais covarde maneira possível. Sem contar que das batalhas que ele enfrentou ele só conseguiu vencer uma, contra os Selvagens que já estavam lutando em outro fronte, ele não foi páreo ao gênio militar de Tyrion e muito menos a fúria louca dos Boltons. Stannis ainda assassinou parentes mais distantes simplesmente por não adotarem o deus de Melisandre, deus esse que ele nem acreditava de verdade no inicio. Então matar a Shireen, por mais que seja traumático, pra mim foi a morte mais traumática da série, não é novidade para um cara que assassinou diversos parentes em nome de um deus estrangeiro, para o cara que matou inclusive seu próprio irmão.


E exatamente por isso, ver Brienne citar Renly como Rei de Westeros, ainda que seja apenas em sua cabeça apaixonada, foi um dos momentos mais épicos em Game of Thrones pra mim.


Basicamente as pessoas gostavam de Stannis porque ele sempre estava inserido contra um personagem ainda pior, seja contra Joffrey, ou contra os Selvagens que atacavam a muralha ou mesmo Ramsay, ele só pareceu o personagem patético e fraco que ele sempre foi quando ele fez algo que o colocou no mesmo nível que seus principais inimigos.


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Mas voltando aos momentos épicos da série, a batalha de Hardhome como eu já disse será difícil de superar, até porque no episódio seguinte a cena de Daenerys finalmente montando em Drogon foi muito legal, mas ainda ficou devendo especialmente no quesito técnico para a batalha do episódio anterior, na verdade, a maioria dos diretores de Game of Thrones ainda precisa descobrir como trabalhar melhor com a forma que os dragões se comportam e a forma como as câmeras se posicionam para a criação em CGI dos bichinhos.


Outro momento épico foi o fato de não termos nenhum episódio com o Bran nessa temporada foi um ponto a favor, o jovem aleijado vinha se tornando um ponto fraco da série por algum tempo com sua história enrolada e que não chegava a lugar nenhum, o personagem em si também era um pouco chato e por um instante eu imaginei que essa parte chata dos Stark iria cair sobre os ombros de Arya, que teve uma história sofrível até os últimos episódios desse ano, mas o seus últimos momentos foram excepcionais, ouvir ela dizendo “Eu sou Arya Stark” foi de arrepiar, não por ela em si, mas por ver finalmente um Stark em uma posição superior em qualquer situação desde a primeira temporada, escutar “Eu sou Arya Stark” é uma esperança para os fãs dos Starks de que essa casa ainda pode voltar a ser o raio que está no topo da roda, como diria Daenerys.


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Por acaso os diálogos entre Tyrion e Daenerys foram divertidos e bem escritos, a interação entre os dois personagens foi um pouco inferior ao que eu esperava, até porque faltou cenas entre os dois, mas no momento do monologo da roda de Daenerys eu só podia imaginar o Tyrion abrindo e fechando a mão dizendo que aquilo era muito papo e pouca ação vindo da Rainha dos Dragões, que literalmente não tem plano, exército ou sequer controle sobre seus dragões para cumprir o que estava falando.


Para terminar, Game of Thrones esse ano foi uma mistura de momentos mais fracos e de momentos extremamente épicos, tanto em narrativa quanto em visual, o que fez dessa não ser uma das melhores temporadas que já vimos, mas certamente mostrou que a HBO e a dupla Dan e David estão levando a série para um caminho que promete ser memorável, seja para o bem ou para o mal, mas se eu puder apostar, diria que esse caminho vai ser incrível a partir de agora.

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