Divertida Mente | Crítica
Eu não acho que a Pixar tenha lançado um filme original tão bom quanto Divertida Mente desde 2008, sete anos atrás com Wall-E. Não que o estúdio não tenha lançado filmes bons desde então, Toy Story 3 discutivelmente é o melhor deles é mais recente, mas é uma sequencia, já Divertida Mente, ou Inside Out no original é uma verdadeira explosão de criatividade e inventividade tanta na criação do mundo quanto na forma como o desenho trabalha suas ideias e é completamente novo, indo contra aquela falácia de que não há mais boas coisas originais no cinema e que tudo é sequencia.
De todos os filmes da Pixar que tem essa brilhante dupla facetagem de ser igualmente adulto e infantil, esse é provavelmente o que tem mais coisas para adultos escondidas no subtexto. Um exemplo disso é que já no inicio do filme nós vemos uma rápida explicação de como funciona a mente humana naquele universo, transformando conceitos psicológicos em formas visuais e desde desses primeiros minutos com o nascimento de Riley nós já conseguimos extrapolar como funciona aquele conceito para outras pessoas.
Como seria a mente de alguém com depressão? De alguém com esquizofrenia? De alguém com Alzheimer? São dúvidas que com um pouco de imaginação você consegue responder usando as ferramentas que o próprio filme te dá. Inclusive esse longa tem algumas breves, mas assustadoras passagens para quem está ligado nesses pequenos detalhes que quase insinua que aquela menina poderia ter uma ou mais dessas doenças se não fosse graças aos eventos do filme.
A ideia de que cada pessoa tem 5 sentimentos trabalhando para controlar suas ações é interessante, Alegria e Tristeza, as duas protagonistas acabam ganhando mais destaque do que Nojo, Medo e Raiva, apesar de que em certo momento esses três juntos têm até bastante coisa a fazer, mas não tanto individualmente.
Como era de se esperar numa criança, o sentimento líder é a Alegria e a vasta maioria das suas memórias são douradas, cor da felicidade, mas isso fica limitado a nossa protagonista, já que nos adultos ou eles aparentam não ter líder ou o líder é outro, como no caso da mãe de Riley, a líder é a Tristeza, embora ela nunca se demonstre triste, apenas ponderada. Mas justamente pela líder da mente de Riley ser a Alegria, o conflito do filme começa já que a Alegria quer evitar a Tristeza como se ela fosse algo completamente ruim, mas sem entender que esse sentimento também é parte da vida de qualquer pessoa madura e a Riley está justamente amadurecendo.
Alegria é interpretada muito bem no original por Amy Poehler, mas como você provavelmente não vai encontrar esse filme legendado por aqui, vale dizer que a personagem também ganhou uma dublagem interessante no Brasil por conta de Miá Mello, que talvez seja o único destaque da dublagem brazuca. Mas voltando a personagem, ela é o exemplo de personagem feminina forte que a Pixar vem tentando construir desde Valente, que particularmente eu acho um péssimo filme. A própria Riley, uma menina de 11 anos que já é independente e é uma jogadora de hóquei também não fica atrás nesse quesito, apesar de que qualquer humano no filme fique meio limitado a ser um robô controlado por suas emoções.
Pete Docter acertou mais uma vez em cheio ao criar sua nova obra da Pixar e dessa vez ele conseguiu dar um ritmo ainda melhor do que o de Up, sempre tendo algo agitado e ao mesmo tempo emocional acontecendo no meio daquela explosão de cores. As cenas que envolvem o ex-amigo imaginário de Riley mostram isso perfeitamente, desde quando ele aparece de forma agitada e hilária como todo o resto do filme, até a forma como ele sai da história para ela voltar ao seu estado normal numa cena empolgante e emocional. Sua direção ainda é delicada para mostrar certas coisas na vida e na mente da menina sem precisar explicitar isso com diálogos, as mudanças de maturidade dela são perceptíveis através do visual do filme, quando ela entra na adolescência, por exemplo, nós vemos que seu painel de controle aumentou e ganhou mais botões para os sentimentos trabalharem, inclusive ganhou um com “todos os palavrões disponíveis” o que deixa o Raiva particularmente empolgado e faz todos caírem na gargalhada.
Divertida Mente é um espetáculo visual e emocional que vai agradar qualquer criança e eu arrisco a dizer que qualquer adulto também e para quem é fã de testemunhar obras inventivas e criativas que conseguem criar mundos fictícios funcionais e bem feitos, esse filme é o filme que você estava procurando nos cinemas. E pensar que estamos na metade de 2015 e se não fosse unicamente por Mad Max: Estrada da Fúria, o melhor filme lançado no ano teria sido uma animação, o que me faz lembrar da época de ouro da Pixar, que esse filme facilmente trouxe de volta e com toda força.