Batman: Arkham Knight | Crítica
A Rocksteady sempre soube trabalhar o Batman como ninguém soube trabalhar um herói nos videogames até hoje, por isso talvez que Batman: Arkham Origins foi um pouco decepcionante, ainda que use dos mesmos elementos que a Rocksteady criou em sua trilogia, falta a excelência do estúdio em contar a história e de fazer o gameplay se encaixar nela, que são duas coisas que sobram em qualidade nesse novo Batman: Arkham Knight.
De certa forma, Batman: Arkham Knight é o ápice de qualidade de produtos criados pela Rocksteady, o jogo tem uma história típica do Batman e semelhante a dos outros jogos, onde um ou mais vilões se uniram para tomar a cidade e o nosso herói tem que derrotá-los em uma longa noite, mas a qualidade técnica empenhada no game, somada a força da trama dessa última parte da trilogia elevam ele dos demais jogos da própria franquia e de outros bons games desse ano em diversos aspectos, mas certas coisas atrapalham esse jogo de ser tão incrível quanto poderia.
A mecânica ainda é a mesma de sempre que nós já conhecemos, o modo de luta do Batman ainda usa o counter como base, nós ainda podemos vagar pela cidade pulando pelos prédios ou planando entre eles com ajuda de nossos equipamentos. E talvez o melhor de tudo é que o Batman está ainda mais fluído e ainda melhor animado do que antes, controlá-lo é tão ou mais empolgante do que na primeira vez que o fizemos em Arkham Asylum.
O que não é tão empolgante assim é controlar o Batmóvel, que é o grande defeito do jogo. Não que correr por ele pela cidade e até perseguir inimigos não seja bacana, mas a Rocksteady, provavelmente afim de justificar a inclusão da novidade, exige e te obriga a usar o Batmóvel de diversas formas mais irritantes do que outras, você, por exemplo, tem que resolver puzzles (opcionais ou não) com o carro, você tem que batalhar com o carro onde você usa uma mecânica pavorosa de destruir outros veículos enquanto desvia de disparos cuja trajetória é mostrada na tela e se não fosse o bastante, você ainda tem, acreditem, missões stealth usando o veículo, tudo isso faz usar o Batmóvel algo que é a beira do insuportável e para piorar, o uso dele é obrigatório em quase 40% do jogo.
E já que eu comecei a falar dos defeitos do game, a falta de chefões como nos games anteriores é uma regressão, não que o game não tenha nenhum chefão, mas a quantidade foi reduzida drasticamente e muitos deles te obrigam a batalhar usando o Batmóvel, que como eu mencionei no paragrafo anterior, não é nada divertido, é excruciante.
Por sorte, os problemas do game se limitam a isso e mesmo o Batmóvel, por pior que seja, ainda tem uma boa utilidade que é a de dar variedade ao jogo, pode até ser ruim usá-lo constantemente, mas ele pelo menos faz com que seja especial todos os momentos em que você não está controlando-o... eu sei, esse é um elogio estranho de se fazer, mas você provavelmente vai perceber isso no jogo.
Agora voltando para um dos pontos mais alto do jogo, a sua história, vale notar que tanto o game quanto a trama em si se utilizam muito bem dos sidekicks do Batman, a Oráculo tem talvez o papel secundário mais importante da trama, o Robin ainda é importantíssimo em alguns momentos assim como o Comissário Gordon, Azrael e até mesmo o Asa Noturna (esse último que acaba recebendo menos espaço do que merecia) acabam ficando relegados a missões secundárias, mas ainda assim têm certa importância na trama do game que traz frequentemente a frase do Coringa “Isso é o que acontece quando você traz seus amigos para o nosso jogo” e que deixa o Batman cada vez mais relutante em aceitar ajuda e o faz querer enfrentar tudo sozinho, embora ele mesmo saiba que não consegue em alguns momentos.
Por isso a escolha dos vilões principais do game não poderia ser mais assertiva, o Arkham Knight, que eu não vou revelar sua identidade apesar dela ficar bem óbvia já na metade da trama, tem um problema pessoal com o Batman e com suas escolhas e ações, ou como entendemos mais tarde, com a falta de ação em certas escolhas, questionando o código do herói em não matar, fazendo parecer que isso é mais um capricho do que honra, já que o Homem Morcego não parece enfrentar qualquer crise de consciência em quebrar ossos e surrar criminosos da maneira mais bárbara pelas ruas de Gotham. Já o Espantalho, representa o medo que é uma constante no modus-operandi do Batman e também é uma constante que ele enfrenta no jogo inteiro, não por si próprio, mas pelos seus amigos e aliados e essas duas forças são muito bem apresentadas na história e permeiam toda a temática e a ambientação do game.
Infelizmente as batalhas finais contra esses dois vilões carecem de criatividade, mas por sorte o que esbanja a criatividade é na forma como o Coringa é usado na trama, o Coringa está morto e enterrado cremado de fato, não tem aquele velho esquema dos quadrinhos onde a morte é mais uma sugestão do que algo factual, porém, quem achou mesmo que o Coringa não ia ser usado de alguma forma em uma história tão grande do Batman quanto essa? E apesar de eu realmente não querer estragar a surpresa de como, eu preciso dizer apenas um nome pra vocês: Mark Hamill... voltando a dublar e a ser o Coringa com força e loucura total, mesmo depois de dizer que não faria mais o personagem.
Um dos pontos fortes da história de Arkham Knight é o fato de que ela se aproveita bastante de alguns dos momentos mais clássicos do Homem Morcego nos quadrinhos e até revivendo-os magistralmente em tela.
Continuando os elogios eu acho que eu preciso falar dos gráficos do jogo, mas talvez as screenshots do game que ilustram essa crítica falem por si só sobre a maravilha que eles são, apesar de eu não ter jogado na problemática versão para PC, a versão de Xbox One que eu joguei está simplesmente linda e provavelmente ela ainda deve perder na comparação para a versão de Playstation 4 para aqueles com aquelas habilidades oculares superiores que conseguem distinguir as versões dos dois consoles. E se você como eu notou que basicamente a nova geração foi feita para exibir efeitos de chuva, os efeitos de chuva do game mostram que essa geração funciona e muito bem.
Antes de terminar, o game já tem disponível uma DLC extra onde você controla a Harley Queen numa fase rápida que acontece antes da trama do game, a DLC é extremamente curta, você consegue termina-la em menos de 15 minutos, mas tem algumas ideias interessantes, como o fato da personagem ter um Psychotic View no lugar da Detective View comum do Batman, onde ela vê, além de pontos importantes de interação no cenário, frases aleatórias e insanas estampadas nas paredes enquanto caminha nesse modo, não sei se necessariamente essa DLC vale a pena por ser muito curta, mas ela oferece algo interessante, que é controlar a Harley... a, e ela tem uma batalha de chefão, que também não é muito criativa, mas já é alguma coisa.
Batman: Arkham Knight tem força o suficiente dentro dele para ser um forte candidato a melhor jogo do ano, infelizmente a obrigação de usar o sofrível Batmóvel das mais entediantes formas possíveis mata metade da diversão do jogo e toda a chance dele de fato ganhar um premio como esse, pra mim pelo menos, tirou também até o título de melhor jogo da exemplar “trilogia de quatro” que a Rocksteady criou, que na minha opinião ainda pertence a Batman: Arkham City.