The Good Wife – 6° Temporada | Crítica
É difícil escrever uma crítica concisa sobre uma temporada de The Good Wife, especialmente agora que eles resolveram serializar mais e ser menos processual com a trama da série, porque é difícil manter uma única história correndo num bom ritmo durante 22 episódios, por isso a escolha de dividir a temporada em 3 pedaços foi interessante, mas acabou funcionando mais na teoria do que na prática.
A primeira parte da temporada foi sobre Cary Agos sendo preso já no primeiro episódio por um motivo completamente arbitrário e que nós não tínhamos visto chegando por nada antes nas temporadas anteriores. A trama de Cary na prisão não fazia muito sentido e ela provavelmente terminou mais rápido do que o planejado graças a resposta do público quanto a ela, o que nos levou a trama que mais durou esse ano, a campanha de Alicia para o cargo de Promotora Estadual.
Eu não sei se vocês notaram, mas as 3 últimas temporadas da série terminam do mesmo modo, alguém faz uma pergunta bombástica para Alicia no último momento do episódio final e no primeiro episódio da temporada seguinte ela responde “Não, obrigado, vamos manter o status quo da série”. Aí alguns episódios depois ela resolve aceitar e a série muda completamente, só para seja lá o que aconteceu falhar e tudo voltar ao status quo no final. Foi assim com a “Florrick Agos” e foi assim com a candidatura de Alicia, que obviamente ela perdeu, o que era bizarramente previsível.
Eu tenho que ser honesto e dizer que essa trama especifica teve lá seus momentos nessa 6° temporada, especialmente o episódio do debate entre Alicia e Frank Prady, mas é muito difícil gostarmos da protagonista hoje em dia, porque a série tenta desmistificar o mito da “Santa Alicia” não fazendo dela humana ou “não santa” como nos primeiros anos, mas tornando ela uma completa babaca com as pessoas ao seu redor, coisa que eu desconfio que seja um espelho da vida real, já que é muito estranho todo o caso que aconteceu entre a Julianna Margulies e a Archie Panjabi, já que desde a metade da 4° temporada as duas não dividem uma cena juntas, exceto nesse último episódio dessa temporada o que também é questionável, já que a cena foi bem estranha e pareceu ser um daqueles casos de tela dividida. No penúltimo episódio elas também tem uma cena juntas, mas ali é um caso gritante e indiscutível de montagem, e uma péssima montagem no nível Chaves de qualidade.
Após uma quantidade menor que o normal de "casos da semana" e dessas duas tramas, chegamos ao terceiro grande momento da temporada que foi uma novamente uma estranha relação, dessa vez entre Kalinda e Lemond Bishop, os dois personagens que saíram da série esse ano. Os dois são grandes personagens que têm uma estranha química juntos, mas que no final não tinham tanto o que fazer em conjunto na trama, o que resultou numa inexplicável relação de baba e empregador... sim, Kalinda virou babá, ainda que do jeito dela, mas babá.
Quando anunciada a saída de Archie Panjabi da série e depois que Mike Colter foi contratado para viver o Luke Cage nas séries da Marvel com a Netflix, ficou bem óbvio que essa relação entre os dois ia levar ambos os personagens a saírem da série e embora tenha sido legal ver que nem Kalinda ou Lemond morreram, a forma como tudo aconteceu foi extremamente previsível. Qualquer um via isso chegar lá pro 5° ou 6° episódio dessa temporada.
Mas pelo menos isso levou a volta, mesmo que breve, de um interessante recurso de roteiro que é o Charles Lester, episódios anteriores mostraram Lester, um advogado que Bishop pediu para ajudar Alicia e Cary em um caso, e que era um velhinho simpático de sorriso no rosto, mas que por algum motivo amedrontava a todos mesmo sendo bastante educado. Apesar de nunca sabermos o que Lester fazia, a presença dele procurando Kalinda no último episódio foi o suficiente para se tornar um prenuncio de morte para Alicia e Cary.e isso realmente fez a tensão do episódio subir as alturas por um tempo... porque um velhinho simpático falou com dois personagens.
Infelizmente os personagens da série parecem ser conscientes da falta de consequência e da imunidade que os contratos da vida real deles fazem eles terem, afinal porque diabos Alicia queimaria a confissão de Kalinda mesmo depois da própria ter mandado ela entregar? Será que a Santa Alicia é imune a um tiro na cabeça? Ou pior, será que ela não sabe que Kalinda fugindo e sem provas de sua culpa isso pode significar a morte do capanga "inocente" de Bishop? Kalinda fugiu de qualquer forma e nunca mais vai voltar, ou seja, seria muito legal da parte dela abrir mão de parecer "Alicia, a Imbatível" para salvar uma vida, mas isto é mais uma vez a série tentando transformar a Santa Alicia em "Alicia, a Detestável".
A propósito, antes de voltar a falar da Alicia, em um momento Lester sugere a Kalinda os dois fugirem e montarem uma parceria, o que seria um spinoff que eu assistiria! Afinal, tem um spinoff da série "prometido" para quando ela acabar.
Os romances da protagonista esse ano também foram um tanto problemático, ela iniciou algo com seu assessor de campanha, um ator com quem Margulies tem tanta química em cena quanto uma cabra e um abacaxi, mas evitou um romance com Finn Polmar, interpretado pelo ótimo Ozymandias Matthew Goode cuja química com ela é vibrante, para depois então tentar algo quando ele estava tentando voltar para sua esposa. Isso não faz sentido para criação do roteiro, parece apenas um artifício barato para fazer as coisas darem errado pra personagem, mas talvez faça sentido na cruzada de NOVAMENTE transformar Alicia numa personagem terrível, eles estão conseguindo.
Mas nessa temporada não foi só Alicia quem acabou se transformando um pouco mais em alguém desprezível, o tão bacana Cary, que está quase sempre com um sorriso no rosto também se tornou um pouco mais desagradável esse ano. O amor fraternal que ele e a Alicia nutriram durante os últimos dois anos não parece significar muito pra ele quando isso significa pagar a ela o que é devido pela sua sociedade na empresa, mas o dinheiro de Alicia pareceu bem vindo quando ela quis penhorar a sua casa para pagar a fiança dele e o tirar da prisão episódios antes.
A relação de Cary, Alicia e Diane é muito estranha, tudo bem que a série talvez queira passar que eles são profissionais ao ponto de que negócios são negócios e amigos ficam a parte, mas o que parece as vezes é que secretamente os três se odeiam, o episódio sobre e-mails vazados é um exemplo disso, os comentários maldosos de Cary sobre Diane não são “profissionais” e a atitude de Cary para com Alicia sobre a sua saída da empresa ainda menos.
Mas já que eu falei em Diane, vale dizer que ela continua uma personagem excepcional, Christine Baranski a interpreta com uma elegância invejável e suas tramas durante a série, apesar de quase sempre pequenas, são um exemplo de como The Good Wife era e ainda pode ser boa, suas duas aventuras mais proeminentes esse ano, sobre um jantar com milionários da direita americana e sua defesa teste sobre o caso de homofobia vs liberdade religiosa foram incríveis. E apesar dela fazer parte desse ciclo de ódio injustificável e velado entre os três sócios da (finada) Florrick, Agos & Lockhart, ela é a única que se sai melhor ali, porque é sempre a mais razoável e elegante quando precisa ser dura com os outros e além do mais, ela nunca foi propriamente amiga deles, apenas amigável. Diane é a única verdadeira profissional ali, o que seria ok, caso a série não tentasse fazer parecer que os outros dois também são.
Embora The Good Wife tenha tido mais baixos do que altos esse ano, ao menos a série soube aproveitar bem bons personagens, com exceção talvez da Robyn Burdine de Jess Weixler que simplesmente sumiu depois do segundo episódio. Já fazia tempo que Robyn era uma personagem mais interessante que Kalinda como investigadora, mas talvez por ser o último ano de Archie Panjabi e por eles não quererem gastar dinheiro e tempo escrevendo para um segundo personagem redundante, afinal ela tem a mesma função na trama de uma personagem com mais destaque, eles simplesmente desapareceram com ela sem qualquer explicação. Com a saída de Kalinda, vamos esperar que ela volte ano que vem para a 7° (e talvez última) temporada que a CBS já confirmou.
Sobre os personagens, talvez os atores os ajudem bastante, Archie é uma atriz excepcional, e mesmo Julianna Margulies com sua personagem cada vez mais irritante, é uma atriz incrível que é a única coisa que impede que a série desmorone, já que apesar de tudo sua personagem é o pilar central ali. Mas não tem como não assumir que são os coadjuvantes, atores e personagens, que se destacam cada vez mais na série. Marisa, Eli (vivido pelo cada vez mais inspirado Alan Cumming), Elsbeth Tascioni, Colin Sweeney, David Lee e especialmente o Louis Canning, tiveram grande destaque esse ano, todos com a parte mais cômica da série, que acabou se tornando mais do que literalmente um “alivio cômico” para o “fardo dramático” que tivemos nessa temporada.
Eu sei que parece que eu odiei essa temporada de The Good Wife e de fato eu achei essa a pior de todas as temporadas da série desde a temporada sobre “o marido de Kalinda”, mas isso não quer dizer que eu não reconheça a grandiosidade do texto da série em diversos pontos, a capacidade de ainda criar casos litigiosos que pode nos entreter depois de 6 anos e mais de 120 episódios, de gerenciar grandes personagens e principalmente de dar liberdade para grandes atores brilharem.
Antes de terminar eu gostei especialmente de uma coisa esse ano, o fato de terem aproveitado mais do que nunca Louis Canning, o personagem de Michael J. Fox. E o final da série sugere que vamos ver Canning muito mais ano que vem. Talvez os próprios produtores tenham entendido o quanto o personagem, bem secundário, é mais interessante que todos os protagonistas juntos, afinal, ele é o único ali que admite ser o canalha desprezível que é, enquanto todos os outros ficam brincando de serem civilizados, bacanas e moralistas.
Quem sabe ano que vem, com um enfoque maior em Canning, a série não volte a atingir todo o seu potencial?
NOTA: 7,5