Os jogos indie vão acabar?
Indie. Vocábulo absorvido no português que se tornou corriqueiro nos últimos anos à trabalhos artísticos feito por pessoas independentes, sem ligação com grandes corporações, livre de controle externos. (Será?)
E os jogos indie (ou indie games), uma das maiores vertentes dessa nova onda de trabalho indie, vão acabar. Pense por 1 minuto nessa frase. Verdade ou estou tentando apenas tumultuar?
Ok, talvez você ache que eu esteja apenas querendo tumultuar ou fazer uma daquelas matérias com um pensamento desafiador e contrario a ideia geral e normalmente errada que as revistas escrevem pra vender mais, afinal, veja o sucesso dos Indie Games. Cada jogo que ganha milhões no KickStarter, veja Super MeatBoy, veja The Banner Saga, veja até Goat Simulator... mas para cada indie de sucesso como esses, existem pelo menos 30 indies que você nunca ouviu falar disputando os espaços com esses mesmos games. Embora seja costume dizer que "na internet todos têm seu espaço" e que sempre existe "produto de nicho", as vezes essas frases soam otimistas e simplificadas demais, especialmente para uma indústria que demora um ano ou mais para desenvolver um produto. Será mesmo que todos sempre terão "seu espaço" se a coisa continuar crescendo dessa forma?
A maneira como os indie games eram produzidos, o que fazia rodar as engrenagens dessa produção artística mudou. Mas não para todos que pulam de cabeça nesse trabalho. Menos mal. Mas essa indústria de criatividade, suor, sangue e algumas vezes, raiva, está com um problema que cresce a passos largos. Imagine uma artéria entupida por gordura saturada. Assim que a via indie está tomando forma.
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Estratégias para abordar os jogadores devem ser revistas, já que muitas estão se tornando ineficientes. Aquele dinheiro que o sonhador desenvolvedor indie luta tanto para conseguir, agora está num nível Dark Souls. Ou Ninja Gaiden para os nostálgicos.
Há centenas de jogos indies sendo lançados. Isso é ruim? Não, e sim. Os pontos negativos são os vários jogos ruins, mal acabados, que foram mais visados no ganho de dinheiro, sem um background firme. Em resumo, jogos que não queremos.
Outro ponto negativo é a diminuição dos preços para se destacar num mercado saturado. Não que a diminuição de preços seja ruim, pra nós pelo menos não, mas há muitos jogos realmente bons que não recebem o devido valor, um valor justo e, inevitavelmente, esse pequeno grupo indie que desenvolveu aquele jogo que um dia te fez tacar o dinheiro na tela, daqui um tempo pode não aguentar pagar suas contas.
E apesar dos jogos indies estarem cada vez mais baratos, isso não significa que as pessoas os estão jogando. O Ars Technica fez uma pesquisa sobre o assunto e constatou que 36,9% dos jogos que foram comprados no Steam, jamais foram sequer testados pelos compradores, mais de um terço dos jogos que as pessoas compram jamais sequer são testados e sabe a semelhança entre esses jogos? Quase todos eles são jogos baratos e independentes.
Isso é falta de tempo, desinteresse ou compra impulsiva?
A história que infelizmente pode se repetir
Num passado não tão distante assim, a indústria dos games viveu uma cena parecida. O Crash de 1983 (e não estou falando do Bandicoot) foi um sério problema, levando à falência inúmeras empresas e que acabou com a segunda geração de consoles. Seu principal fator: Saturação tanto de jogos (muitos mal desenvolvidos) e consoles no mercado, além de certas limitações de hardware. (Limitações físicas também, pois não havia espaço para guardar tantos cartuchos.)
Isso também contribuiu a migração das pessoas para o PC, e mais pra frente a ascensão gigantesca da Nintendo, que chegou a controlar boa parte do mercado.
A explicação é simples, quando o mercado está saturado demais, o dinheiro está muito espalhado e quando ele está muito espalhado, ninguém está ganhando o que merece, nem o que precisa para continuar.
Mas já que eu mencionei a Nintendo, isso me leva a um segundo exemplo de tentativa de freio e controle na indústria. Dominando o mercado nos anos 80, a empresa nipônica, talvez tentando evitar que um novo crash acontecesse, restringia os desenvolvedores ao Nintendo, caso desenvolvessem para outra plataforma, sofriam cortes e suporte da empresa. Ainda assim devemos lembrar da fórmula: X dinheiro pra gastar, Y jogos para comprar e o Y, cresce muito mais rápido que o X.
O desenvolvedor indie, Jeff Vogel disse:
[su_quote]Esse não é um problema porque esses jogos vão impedir as pessoas de comprarem novos jogos, apesar de que seja possível... O problema é porque um negocio que se baseia em vender coisas que as pessoas não querem não é um negocio estável.[/su_quote]
A Valve com seu sistema Greenlight vem enfrentando problemas justamente com isso. A quantidade de jogos para manejo é enorme. O próprio Gabe Newell comentou sobre esse fato, querendo "abrir a porteira" de vez e tornar sua plataforma parecida com o iTunes e jogando o papel de curador de jogos à própria comunidade gamer.
O que fazer então? Qual o lado bom disso tudo? Fazer o que todo organismo vivo faz para sobreviver. Adaptar. Adaptação da indústria indie ao "novo" sistema. Os pequenos desenvolvedores terão que lutar de alguma forma para se sobressair dos demais e conseguir visibilidade. Mesmo que não tenham dinheiro para fazer o marketing do jogo, nós vivemos numa época que está muito mais fácil para ser visto e consequentemente, muito mais difícil chamar a atenção.
Como aprendi com meu pai, se eu quero/tenho que fazer algo e há alguma limitação, farei o melhor possível com as ferramentas à minha disposição. Desse modo, nós poderemos ver, espero eu, uma competitividade saudável com jogos melhores construídos, com jogos feitos por pessoas que realmente estão trabalhando duro em algo que acreditam, com bom storytelling, background, suporte e consiga fazer um link emocional com os jogadores (feedback cognitivo manda um abraço), fazendo as chances dele ser um sucesso aumentarem bastante.
Então meu amigo, se me perguntarem se os indie games vão morrer, é como se estivessem perguntando se a arte vai morrer. Um dos grandes contrastes que o indie têm contra as grandes desenvolvedoras é a possibilidade de poder arriscar mais. Poder se expressar mais, suas ideias, conceitos e convicções através dos jogos é uma forma de arte. E alguns dão sorte de sua obra ser atemporal, agradar a maioria e ter um lifespan invejável, mas quanto mais dessas obras aparecem por aí, mais difícil fica até para as melhores delas se destacar.