HBO: In Memoriam (Parte 2) – A Sete Palmos

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Avançando com o nosso in memoriam dedicado à HBO, iniciado neste texto, está na hora de desbravar A Sete Palmos (2001 – 2005). Não é compatível com Família Soprano no que atine à relevância para a indústria ou talvez até mesmo à qualidade, mas maior em significado passional.


O drama de Alan Ball (Beleza Americana, True Blood) segue a Funerária Fisher & Filhos, gerenciada por uma família cujo patriarca acabou de falecer e que continua incompleta mesmo com o retorno do filho mais velho. A série possui um ensemble cast composto por Peter Krause, Michael C. Hall, Lauren Ambrose, Frances Conroy, Freddy Rodriguez, Rachel Griffiths e Matthew St. Patrick.


Embora uma análise superficial possa indicar o contrário, A Sete Palmos não é sobre a morte. Alan Ball utiliza o irremissível final da experiência humana para discutir sobre família, homossexualidade, religião, toxicodependência, infidelidade, crime e, acima de tudo, a vida. O humor negro e o surrealismo são cartões de identidade da série.


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Todos os episódios se iniciam com a morte de uma pessoa cujos familiares, consequentemente, recorrem aos serviços da família Fisher, com a exceção de alguns episódios especiais, como o último, que poeticamente começa com um nascimento. Os clientes chegam à funerária mortos por ataques cardíacos, cortados ao meio ou até mesmo com cabeças esmagadas por blocos de gelo sanitário de avião. A sua comicidade mórbida pode ser até mesmo desconfortante.


O que também muda de caso para caso são as participações dos defuntos no episódio. Os personagens da série acabam por ter diálogos imaginários com os falecidos, muitas vezes para expor os seus próprios receios e desejos. Conversas filosófica e emocionalmente requintadas.


O piloto, junto de “That’s My Dog”, “All Alone” e “Everyone’s Waiting”, são os mais brilhantes episódios da série. Destrutivos, de difícil digestão, enternecedores. Reúnem o que há de melhor (ou pior, para quem equivocadamente espera uma série animadora) em A Sete Palmos e destacam-se dentro da comunidade de amantes do drama. O series finale é frequentemente elegido como o mais completo e poderoso da história da televisão.


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A Sete Palmos é estrelada por seres humanos, não por arquétipos mecânicos. O argumento constrói personagens que, ora cativantes, ora repulsivos, comportam-se como pessoas genuínas. Amam, erram, choram, riem, vivem e morrem. Sou um dos que nunca foi capaz de odiar por completo um personagem da série, por canalizarem tantos diferentes ângulos da psicologia humana.


Uma das ressalvas dos críticos em relação à série é a sua irregularidade. Algumas temporadas são satisfatórias, enquanto outras são extremamente superiores. Além disto, por vezes, os arcos narrativos perdem profundidade e a série se assimila à uma novela de alto orçamento. O próprio público sente antipatia por alguns personagens e episódios. Portanto, ainda que a série tenha sido indicada a (e vencido alguns) vários prêmios e que a recepção crítica, no geral, seja altíssima, a inconstância da qualidade da série ainda é considerada um problema.


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Um dos maiores enganos dos principiantes no mundo dos Fisher é o de esperar por uma jornada divertida. Que fique claro: A Sete Palmos NÃO é uma série divertida ou encorajadora. Ela é deprimente, cruel e desconcertante. Para fazer refletir, não para entreter.


Imprescindível para os apaixonados por séries, A Sete Palmos é um belíssimo trabalho artístico que, embora não tenha revolucionado drasticamente a televisão americana como Família Soprano, certamente o fez na vida dos seus espectadores. Não é um exemplo de poder pela razão, mas pela emoção.

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