Life is Strange: Episódio 1 – Chrysalis | Crítica

Eu não sou especialmente fã de fazer críticas de jogos episódicos porque você diz tudo o que tem que dizer sobre o sistema e a jogabilidade dele em uma crítica e a partir daí vira só um comentário sobre a trama nos episódios seguintes, mas achei que dessa vez valia a pena falar de Life is Strange que acabou de lançar seu Episódio 1 – Chrysalis e que assim como o seu título, é estranhamente um dos melhores games que a Square-Enix lança em anos, claro que vale lembrar que aqui ela é só distribuidora e não a desenvolvedora de fato, seria pedir demais da nossa velha companhia japonesa.


O pessoal da DontNod, desenvolvedora do jogo, entrou na grade onda de adventure games episódicos e guiados por escolhas que a Telltale Game reinventou nos últimos anos. Eles lançaram um jogo que de certa forma supera os da companhia criadora de The Wolf Among Us e por outro lado ainda falta pedigree pra competir com sua concorrente.


A maior qualidade de Life is Strange está em sua história, nela você é Max Caufield, uma garota que nasceu no Oregon em Arcadia, mas foi morar em Seattle após se mudar com os pais abandonando sua melhor amiga, porém anos depois escolheu fazer sua faculdade de fotografia no lugar onde nasceu e passou sua infância. Em sua faculdade ela é uma menina comum, que não parece ser especialmente nada, nem Nerd, nem popular, nem descolada, nem tímida, ela não chama atenção de qualquer forma especifica e a única coisa que acontece de anormal em seu dia a dia foi o desaparecimento de Rachel, uma garota da sua escola, até o dia em que ela descobre ter o poder de voltar no tempo e graças a esse poder, acontecimentos a levam a encontrar Chloe novamente, sua melhor amiga do passado que ela descobre ter se transformado na melhor amiga de Rachel, a garota que desapareceu.


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A trama em geral eleva o nível dos jogos de videogame a um nível semelhante a boa literatura jovem e moderna atual, uma pena que os diálogos do jogo não sigam o ritmo da trama e soem bem falsos em determinados momentos. Essa é facilmente uma superioridade dos jogos da Telltale Games, que são infinitamente mais bem escritos, ainda que usem histórias adaptadas de outras obras já prontas e aclamadas, o que não é o caso dessa história bem original que a DontNod criou.


Os personagens do jogo, tantos os centras quanto os secundários são tão bem desenvolvidos quanto adolescentes podem ser na visão de outra adolescente, já que vemos tudo através da mente de Max, essa sim é extremamente bem desenvolvida, aqueles que a cercam são pouco mais do que sombras de estereótipos que ela própria parece não ter vontade de conhecer mais a fundo.


Uma cena impactante para mostrar isso é a primeira vez que caminhamos pelo colégio dela, assim que acaba sua aula ela caminha pelos corredores e vê o típico filme colegial americano a sua volta, as garotas populares sendo estúpidas, as hipsters descoladas, a gordinha que quer ser popular, o gordinho sofrendo bullying dos jogadores de futebol e coisas do tipo, ainda que não seja nada diferente do que já vimos dezenas de vezes em outras obras, geralmente ruins, é muito interessante vermos um cenário com tantos personagens diferentes uns dos outros em um jogo de videogame. É uma profusão de cores e estilos que a TV e o Cinema sempre implementaram muito bem, mas que os games sempre falharam ainda que por falta de tentativa, até agora.


Uma das coisas interessantes do game no sentido dele ser guiados por “escolhas vitais para trama” é que nós podemos voltar atrás com essas escolhas até certo ponto, usando os poderes de Max, entretanto ela, como uma adolescente normal jamais está segura se escolheu corretamente não importa a escolha que a gente faça, há sempre a possibilidade de estarmos fazendo a escolha errada e isso é uma aflição especial quando percebemos que o episódio 1 acabou e nenhuma dessas escolhas ainda foi colocada a prova, aparentemente tudo que fizemos ainda vai gerar um resultado no futuro e isso é um problema para quem está acostumado a prever onde suas escolhas vão levar e mesmo sentir o peso delas imediatamente, aparentemente só saberemos em Março ou mesmo depois o que vai acontecer por termos jogado um balde de tinta na cabeça da menina mais imbecil e rica da escola, por termos dedurado o garoto mais rico da escola ou por dizer que fumamos maconha para proteger uma amiga.


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Agora se Life is Strange tem uma vantagem óbvia comparando com a concorrência da Telltale Games, é a qualidade técnica, enquanto The Walking Dead, The Wolf Among Us e mesmo o novo Game of Thrones: Iron from Ice tem terríveis problemas técnicos, incluindo aí problemas de framerate, travamentos e bugs em geral (em todas as plataformas) que parecem ainda não terem sido consertados por preguiça, Life is Strange roda perfeitamente sem qualquer tipo de problema e se formos pensar, ele ainda é um jogo muito mais livre do que qualquer outro da Telltale, você anda e controla os movimentos da sua personagem muito mais abertamente do que você faz nos outros jogos do tipo.


Uma das coisas que me cativou em Life is Strange, além da trama, da protagonista e até do design geral do jogo que eu não mencionei, mas é muito bom, é a estrutura que a narrativa desse episódio segue, que é idêntica a estrutura narrativa das melhores séries de TV atual, incluindo todos os subterfúgios que usam para deixar o piloto de uma série de mistério intrigante, a forma como os personagens são apresentados e o cliffhanger no final, que por um acaso é extremamente empolgante e que certamente já me deixou ansioso pelo próximo episódio... assim como uma boa série de TV faz.


Na verdade, Life is Strange seria, com um roteiro melhor, mas com o mesmo argumento, uma grande série de TV capaz de competir com as melhores que temos hoje, mas estou feliz por ver algo assim nos Games, ainda que não seja uma experiência perfeita, é boa e diferente o suficiente para chamar a atenção de qualquer gamer querendo tentar algo novo, o que é uma qualidade que reflete na tentativa da DontNod de criar uma experiência nova na mídia, ainda que usando uma técnica relativamente nova e já consagrada.

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