Broadchurch – 2° Temporada | Crítica
Crítica contém pequenos spoilers
Quando eu soube que Broadchurch ganharia um remake para os Estados Unidos eu achei que essa era a ideia mais estúpida de todos os tempos. E se você achar que eu vou entrar no velho e pronto discurso que os americanos não têm criatividade você se enganou, na verdade eu achei isso um absurdo porque Broadchurch já é uma copia (intencional ou não) da série americana The Killing. Não acredita? Leia a sinopse abaixo:
Um policial de outra cidade precisa fazer parceria com um policial de uma cidade pacata para investigar o assassinato de uma criança de uma boa família. Entretanto a investigação acaba trazendo a tona segredos obscuro tanto dos familiares quanto de todos que os cercam. No final, a dupla tendo que lidar com suas personalidades conflitantes, descobrem que o assassino é alguém mais próximo da vítima e da família do que todos esperavam.
Ok, essa é a descrição do inicio de The Killing e do Inicio de Broadchurch. Eu imaginei que as coincidências parariam por aí, mas eu vou escrever abaixo uma sinopse das temporadas seguintes de ambas as séries:
Um antigo caso do policial mais experiente da dupla, vem a tona e e os dois policiais, que agora colocaram as diferenças de lado e são grandes parceiros, precisam investiga-lo enquanto ao mesmo tempo na trama, alguém preso tenta provar sua inocência.
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Sim, a mesma sinopse para as duas séries. A única diferença aí é que The Killing demora duas temporadas para concluir o que Broadchurch fez em uma, e a série inglesa tem sua segunda temporada mais semelhante com a 3° temporada da série americana... eu nem quero imaginar o que vão falar se a terceira e última temporada de Broadchurch for idêntica a quarta e última de The Killing.
Ainda comparando, as duas séries também têm mais uma coisa incomum entre elas. Por mais que as duas tenham grandes histórias e grandes personagens, a força de ambas está principalmente nos interpretes de seus protagonistas. Em The Killing temos Joel Kinnaman e Mireille Enos, dois grandes atores em dois grandes papeis, e em Broadchurch temos o eterno 10° Doutor, David Tennant e a sensacional, mas desconhecida do mainstream Olivia Colman.
Agora, porque eu estou comparando ambas? Porque por melhor e mais bonita visualmente que Broadchurch seja, a sua primeira temporada não me engajou em nada, exceto na qualidade de atuação que ela tinha. Nem o mistério nem a forma como ele foi conduzido e muito menos o drama familiar apresentado eram novidades para quem viu The Killing antes, na verdade, se não fosse especificamente pela minha simpatia e predisposição a tudo que o David Tennant faz, eu nem teria passado dos primeiros episódios da série inglesa.
Mas, uma vez que eu continuei, fiquei feliz por ter feito isso, porque a primeira temporada, ainda que seja excessivamente semelhante à outra obra recente e muito bem produzida, tem seus méritos próprios. Esses méritos, entretanto não eram o suficiente para me fazer compreender todo amor que a imprensa britânica nutriu pela série, por isso foi uma surpresa ainda maior ver que essa mesma imprensa britânica que tanto elogiou uma série que era "apenas boa", começou a odiá-la na segunda temporada.
Embora eu não esperasse na segunda temporada ser mais uma vez surpreendido com outra trama extremamente semelhante a da série americana citada acima, eu me interessei por um aspecto novo que normalmente não é mostrado nessas séries. Que é o que vem depois para a família? Em The Killing, o caso “da pessoa presa tentando se provar inocente” em sua terceira temporada era do criminoso do caso mais antigo da dupla, em Broadchurch, embora seja bem óbvio que Lee Ashworth possa ser esse paralelo, a principal pessoa tentando provar sua inocência (indefensável) é Joe Miller, o assassino do primeiro e mais impactante caso.
O fato de haver um julgamento e de como isso implica na família do assassinado é um conceito diferente para as séries policiais. Especialmente porque o roteiro aproveita muito bem para repassar quase todos os detalhes da investigação anterior que nós já vimos, mas sob um ângulo mais analítico e assertivo, menos emocional e mais cínico. Sob o ponto de vista do júri e com todos os fatos dispostos à mesa, ficaria extremamente difícil saber se Miller foi ou não culpado da morte da criança.
Nesse momento Broadchurch deixa de ser só uma série policial e vira uma série de tribunal, o que divide a narrativa e dilui um pouco a força da parte investigativa. Tanto que o tom de surpresa a cada vez que uma pergunta de Alec e Ellie ganhava resposta acabou. Até porque, sobre o novo caso há um suspeito no começo da história, depois mais dois suspeitos surgem e no final os três são mesmo os culpados. Difícil manter o clima de boa investigação assim, quando você tem três suspeito apenas e os três são culpados.
As partes mais tensas da história acabam sendo mesmo o sofrimento que a família Latimer passa por ter que reviver tudo e enfrentar ferozes advogadas tentando provar a inocência do homem que matou seu filho, e aí que se encontra a maior força da segunda temporada.
O problema de tudo é que para uma temporada cheia de ótimos cliffhangers, o último episódio é bem insatisfatório de todas as formas possíveis, a coisa mais esperada do ano acontece no primeiro minuto do episódio e o resultado disso acaba sendo desapontador. A resolução da segunda investigação acaba revelando o que já sabíamos, só que com todos os detalhes. Além disso, alguma falta de coerência percorre a série inteira, como: Mulheres que deram a luz de manhã estão no tribunal à tarde. Advogada consegue livrar um possível pedófilo de ser preso por matar um garoto, mas precisa de ajuda para tirar seu filho da cadeia. Advogada quase cega é a melhor opção da cidade, mas não faz absolutamente nada de diferente de um advogado comum e ainda perde o caso. Pai da vitima começa a ter um comportamento muito suspeito, desnecessário e bizarro que claramente seria usado contra ele depois... enfim, há muitas conveniências para servir que a trama siga um certo caminho e quando isso fica óbvio demais a narrativa perde a força.
Esse talvez tenha sido o motivo que fez a imprensa britânica “trair” Broadchurch dessa forma, mas eu tenho que admitir que mesmo com tantos problemas, assistir qualquer coisa com Alec Hardy e Ellie Miller com seus maravilhosos sotaques é sempre divertido, ainda que nem sempre coerente.
Eu ainda estou ansioso pelo terceiro e provavelmente último ano de Broadchurch e vamos esperar que na próxima temporada eles sigam por um caminho menos óbvio e mais coerente, mas com os mesmos personagens memoráveis, com a sua ótima estética visual e com a charmosa atmosfera de cidadezinha cheia de segredos do interior da Inglaterra.