Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo | Crítica

Em 1988, um crime chocou os Estados Unidos. Sempre banhados com a ideia de ganhar de todos e de serem os melhores do mundo em tudo, o povo do Tio Sam viu o que essa ambição pode proporcionar. Não falarei o que aconteceu porque estaria contanto o final do filme que, em minha opinião, é o ponto mais alto dele. O que posso dizer é que Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo tem atuação, ambientação e caracterização brilhantes, porém, fica bem abaixo do esperado e dos outros trabalhos do diretor Bennett Miller.

No centro da trama estão John du Pont (Steve Carrell), Mark Schultz (Channing Tatum) e David Schultz (Mark Ruffalo). Para quem – assim como eu – não conhece a história, é interessante porque é criado um mistério em torno da relação que envolve os três. Mark e David são atletas de luta greco-romana, medalhistas olímpicos e que nesse meio tempo dão algumas palestras. O problema é que Mark se sente a sombra de seu irmão, que sempre está em destaque e cercado de pessoas importantes.

Algumas coisas na trama ficam no ar. Não se nega e nem confirma nada. Por exemplo, durante todo o filme há o indicio de que du Pont e Mark têm uma relação homossexual e o milionário fez algo muito grave com ele. A sugestão de que Mark tenha se perdido apenas pela cobrança e por uso de cocaína não me convenceu. Isso é ainda reforçado quando David diz que só ficará na fazendo e continuará os treinamentos se seu irmão receber proteção. Por ser baseado em um livro escrito pelo próprio Mark e por envolver uma família ainda muito poderosa nos Estados Unidos, talvez fosse difícil trazer a tona tudo isso. Pode ser também que esse tenha sido a proposta de Miller.

A ambientação do filme é muito boa, porém, a própria produção se põe limitações e cria um ar de mistério e tensão para compensar isso. Como dito anteriormente, se você não sabe sobre esse acontecimento pode-se até criar certo ar de suspense, porém, isso não se deve muito à história, mas, sim, às interpretações. As cenas tornam-se interessantes somente pelos atores e não pela história. Bennett Miller é talentoso e acostumado a adaptar acontecimentos reais – Capote é apenas um dos exemplos. Infelizmente, dessa vez ele pegou um fato com o qual ele não podia ir muito além e isso prejudicou e limitou seus recursos.

FOXCATCHER


A interpretação de Mark Ruffalo como sempre é muito boa. O ator consegue mesclar bem o tom entre filmes pipocas e outros mais pesados. Seu David Schultz segue a mesma linha equilibrada e tem um tom sereno e ao mesmo tempo paterno. Já Steve Carrell parece seguir a linha de Michael Keaton: um ator de comédia que alcança seu grande momento em um drama. Já vimos algo assim também ano passado quando Matthew McConaughey levou a estatueta dourada pra casa.

Channing Tatum também está muito bem. É interessante vê-lo em um papel diferente e que exige mais de seu talento. Seu personagem é de poucas palavras, algo muito semelhante ao de Carrell, porém, o resultado é diferente para cada personagem. O silêncio de du Pont causa estranheza e medo, já o de Mark reflete seu desespero. O final do conflito entre essas três personalidades distintas é chocante.

Foxcatcher não cumpre tudo o que promete, mas ainda assim é um bom filme. Não é o melhor filme dessa leva de estreias e temporada de premiações. Não me agradou muito, no entanto, pode abrir novas e diferentes portas para os envolvidos no projeto devido à qualidade na direção e nas atuações. Prova disso é o prêmio recebido por Bennett Miller em Cannes (Melhor Direção) e a indicações de Mark Ruffalo e Steve Carrell ao Oscar 2015.
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