The Newsroom – 3° temporada | Crítica

Só 6 episódios foram necessários para Aaron Sorkin se redimir de sua 2° e quase que 100% desinteressante temporada, para criar dessa vez uma história impactante e até emocionante, para não dizer que como sempre, cheia de idealismo sobre a posição do jornalismo no mundo e até com um olhar pessimista sobre a função que a internet exerce sob a profissão atualmente.


Depois de ter a equipe do News Night investigando a interminável reportagem sobre o uso de Gás Sarin em Genoa no segundo ano, Sorkin resolveu se livrar de vez dessa linha de história um tanto desagradável e a usou apenas para fazer os personagens a lembrarem do peso que tinham em sua credibilidade naquele momento de suas vidas, o que foi uma ideia inteligente, avançar na história e não se prender a uma coisa que claramente não deu tão certo quanto esperavam.


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A trama desse ano foi por um caminho mais ousado, trazendo um protótipo de Edward Snowden enquanto transformava Neal em mártir do jornalismo exemplar, um cara que coloca uma notícia importante em frente a sua própria liberdade.


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A trama de Neal Sampat nessa temporada me faz mais uma vez questionar as posições das críticas duras que The Newsroom sofre nos EUA, a série é atacada de diversas formas, esse ano por exemplo, o seu penúltimo episódio foi vulgarmente atacado após tirarem o contexto de uma trama especifica para transformar a figura Democrata de Sorkin além de um cara machista, em alguém que é a favor do estupro, mas é sobre a fama de machista que eu quero falar por enquanto.


De alguma forma, nos EUA a mídia (mesmo a de entretenimento) com uma tendência mais republicana e menos liberal criou algumas formas de atacar The Newsroom a ponto de pessoalmente Sorkin começar a duvidar da qualidade de sua série, não é atoa que ele quis terminar ela tão cedo, mas a principal crítica a série é sobre ela ser machista e eu já escrevi algumas vezes sobre isso antes, até mesmo na crítica da 2° temporada, mas tenho que escrever novamente: Qualquer pessoa que já viu a série e ouviu a Mackenzie falar e não se apaixonou por ela, provavelmente tem algum problema. A Mac é a força motriz da série, e além disso ela é uma mulher que ganha bem, é a chefe em sua área, é um exemplo a ser seguido, é forte, discute e quase sempre ganha as discussões e é a inspiração de todos ao seu redor, no último episódio da série até a comparam com Michael Schumacher.


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Na trama sobre o Neal que mencionei dois parágrafos acima, ele precisa sacrificar parte da sua vida pela mera inspiração que Mackenzie causou nele, Will McAvoy, um milionário e líder em seu ramo e também protagonista da série tem cada uma de suas ações durante os 25 episódios da série, feitas apenas para tentar impressionar Mac. Se existe uma pessoa tão forte quando Mac na trama é Leona, e se você consegue interpretar nomes, deve saber que Leona é uma mulher. Ou seja, jogar com a ideia de que The Newsroom é uma série machista só porque na primeira temporada Maggie executa basicamente o papel de namoradinha de alguém, é jogar muito baixo, até porque em muitas obras por aí, personagens tem exatamente essa função e ninguém se dá ao trabalho de agredir essas outras obras.


Existe outra coisa na qual Aaron Sorkin é atacado todo o tempo e esse ano foi o prato cheio para isso, é quanto ao suposto ódio de Sorkin pela internet. Eu vivo de internet, sou muito mais otimista quanto a ela do que o escritor, certamente, mas vamos falar a verdade, dá pra dizer que ele não tem bons argumentos? Primeiro porque ele fala muito mais sobre o conteúdo do que a forma, a internet tão crítica pelo roteirista não é a internet técnica ou a internet teórica, são os subprodutos da internet que são o alvo, numa comparação com outra coisa, ele não estaria criticando o conceito de música, só as musicas que estão sendo feitas e ele está absolutamente certo.


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O personagem de Neal e de Hallie nessa temporada interpretam dois extremos interessantíssimos da internet, e embora a opinião final fique mais negativa, o discurso de Neal sobre o quanto ele lutou para provar que a internet pode ser digna do jornalismo profissional no último episódio é bem impactante, especialmente vindo de um personagem que sempre foi um pouco pequeno quando estava de frente a Mac, Will, Jim, Don e outros. Essa terceira temporada foi facilmente sobre crescimento para alguns personagens, Neal e Maggie especialmente cresceram tanto que quase dá orgulho de vê-los em tela, é como se um amigo crescesse profissionalmente e como pessoa.


Sobre crescimento, vale uma menção também a atriz Olivia Munn, nem Sloan nem Don, o casal mais divertido da série, tem tanto o que fazer nessa temporada, exceto é claro serem o estalo para a morte de certo personagem, mas Munn estava particularmente bem cuspindo uma quantidade absurdas de palavras em poucos segundos e é claro, “making nerds look good” como sempre. Acho que não seria demais pensar em um premio de atriz coadjuvante para ela em algumas dessas premiações importantes, a atriz apesar de ter pouca função nesses seis últimos episódios, se provou uma atriz interessante numa personagem que ficava claramente melhor a cada temporada. Ah, e a propósito, a Sloan é uma mulher e é descrita a todo o momento como a pessoa mais inteligente do prédio da ACN.


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A forma e estilo da série manteve-se constante, nenhum arroubo visual grandioso, e diversos momentos insinuaram reuso e reciclagem das ideias visuais dos roteiros de Sorkin, alguns movimentos de câmeras que são até interessantes para a cena em questão soa quase como que saído de uma esquete de parodia do estilo Sorkin, o que pior ainda mais quando você assistiu a parodia que Seth Meyers fez sobre o roteirista em seu programa. Mas é complicado falar sobre questões mais técnicas, visuais e artísticas sobre a série, quando claramente ela é uma obra puramente de um roteirista, geralmente nessas obras foca-se e mais forte justamente na mensagem, nos diálogos e nos personagens do que na composição visual e na direção da mise-en-scéne.


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E já que eu estabeleci que o foco é outro, os personagens continuam sensacionais, os diálogos como sempre são brilhantes e a mensagem é mais atual do que nunca, o que é realmente faz ser uma pena que The Newsroom tenha acabado, já que a série pode até não ter sido a melhor obra serializada na tv de 2014, mas de certa forma, foi a mais importante e vai deixar um enorme buraco na programação da HBO e da televisão em geral, afinal, como uma série sobre política, jornalismo, questões financeiras e corporativas consegue arrumar tanta polêmica e arrancar lágrimas em um episódio final e ainda assim não ser lembrada?


Seria muito pedir para Aaron Sorkin um dia nos mostrar um pouquinho mais de Will e Mac de novo? Eu realmente gostaria de saber se eles conseguiram tirar agua do seu barco midiático mais rápido do que ela entra e é claro, queria continuar assistindo o noticiário.

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