O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos | Crítica

Como um fã de Peter Jackson e de toda a sua obra Tolkiniana é muito difícil eu ser prático e direto com um filme sobre a Terra-Média dirigido por Peter Jackson, mas tenho que dizer que O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos é o que eu mais me sinto compilado a relatar vários problemas, embora, apesar de todos os problemas que esse filme tem, ele ainda é uma conclusão não apenas satisfatória, mas linda para aquilo que começou anos atrás com a Festa do Bilbo e que culminou com Frodo e Sam em Mordor prestes a jogar o Um Anel nas chamas do vulcão.


Fato é que O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos é facilmente o pior dos 3, ou melhor, o pior dos 6 filmes de Peter Jackson  sobre a Terra Média, isso significa que ele é um filme ruim? Nem de longe, afinal os outros 5 filmes são grandes obras, mas não dá para deixar de notar diversas falhas nesse longa. A começar pelo fato de Jackson simplesmente ter descartado o seu formato, dando adeus para as 3 horas de duração e enveredando para a duração de um blockbuster comum de 2:15, além disso Jackson resolveu simplesmente não seguir seu formato padrão de Prologo > Filme > Epílogo.


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Se os 6 filmes da Terra Média fossem livros, esse último pareceria um livro feito por outra editora, menor, com papel e artes de capa diferente, o conteúdo de qualidade ainda está lá, mas fica bem feito de ver os 6 um do lado do outro.


THE HOBBIT: THE DESOLATION OF SMAUG


Um prólogo nesse longa faria toda a diferença, já que nós começamos o filme no meio do nada, com Smaug atacando a cidade do Lago e depois sofrendo o seu destino final sob a mira de uma Flecha Negra, tudo com Smaug se revolve em 10 minutos e o dragão tem não mais de 5 falas, transformando toda a sua ameaça no segundo filme em uma coisa bem boba, na verdade e esse é o primeiro indicio de que esse filme parece ser “as cenas que não deram tempo de colocar nos dois primeiros filmes”.


Faltam arcos bem definidos no terceiro Hobbit, basicamente temos cinco grandes sequencias no filme, Smaug, Conselho Branco, Calmaria, Guerra e Condado, tudo que acontece nesses cinco eventos, acontecem de formas desconexas e sem um contexto maior, tudo bem que todos os filmes da saga precisam de outros filmes para funcionar, mas geralmente Peter Jackson tem o cuidado de nos colocar nos trilhos sutilmente com os eventos anteriores de alguma forma, seja novamente através dos prólogos, que voltam um pouco atrás no passado de cada filme para nos colocar no ritmo daquela história, seja com diálogos bem construídos para nos colocar na situação, dessa vez os acontecimentos são jogados na tela e você acompanha se puder.


Entretanto, com exceção de Smaug, a maioria das cenas que permeiam essas sequencias são lindas como sempre são na obra de Jackson, com um destaque especial para a beleza da batalha do Conselho Branco em Dol Guldur. Cate Blanchet entra no seu modo de “Cores Invertidas” mais uma vez, o mesmo que ela mostra no primeiro Senhor dos Anéis, mas dessa vez ela mostra pra valer o quanto é poderosa, assim como Elrond finalmente largando os livros e puxando uma espada para combater os Nazgul, vale notar também que Saruman, O Branco, parece estar em ótima forma para um senhor de... que... 500 anos?


THE HOBBIT: THE BATTLE OF FIVE ARMIES


O problema com a cena do Conselho Branco é que de fato eu queria ver mais dela, ela acontece e acaba e só dá um gostinho do que poderíamos ver nela, eu queria ver mais dos Nazgul, mais de Elrond, mais de Galadriel e especialmente mais de Saruman, que merecia pelo menos uns 10 minutos de filme só seu para mostrar e dar um vislumbre de sua queda para o lado negro.


A Calmaria traz os poucos, mas significativos momentos de desenvolvimento de personagens, especialmente o de Thorin e de Bilbo. Ambos têm bastante destaque e embora a mudança de Thorin no meio do filme seja repentina demais, ela é significativa e bonita, enquanto o Bilbo realmente encontrou a coragem dentro dele para não apenas fazer o que é certo, mas fazer o que é difícil, o que o torna realmente um grande personagem, quando a gente percebe sua evolução desde o primeiro filme.


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Mas a Calmaria também traz muitos momentos da Cidade do Lago e a Cidade do Lago e seus personagens ainda são um peso para o filme, ao menos ela mostrou ter seu lugar na história, já que no segundo filme tudo que acontece lá parece um filler desnecessário, mas ainda assim, menos cidade do lado seria ideal, muita coisa extra boa poderia ser desenvolvida com o tempo gasto lá.


Mas quando a Guerra acontece Peter Jackson mostra porque é o cara que nós tanto amamos, o diretor consegue criar uma batalha de ação ininterrupta por mais de 1 hora e ainda assim não deixa-la maçante, Jackson dá uma verdadeira aula a diretores como Michael Bay sobre como fazer uma boa e longa cena de ação sem alienar o publico e fazê-lo desistir de sequer entender o que acontece.


THE HOBBIT: THE DESOLATION OF SMAUG


Parte disso se dá porque a batalha que dá nome ao filme, apesar de ser uma batalha épica, ela também é uma batalha bem pessoal. Há cenas sensacionais entre os protagonistas e o trabalho da direção de arte é mais uma vez primorosa em mostrar a arte da guerra dos anões, nós nunca vimos os anões em guerra antes apesar de sabermos que eles são um povo guerreiro, mas ver suas armaduras, seus escudos e suas montarias em um combate massivo realmente deixa qualquer fã de Tolkien com um sorriso no rosto. Mas como sempre são os elfos que roubam a cena, diferente dos anões com movimentos secos e angulosos, os elfos como sempre aparecem com leveza e habilidade, dando giros de espadas e saltando com perfeição e de forma letal no campo de batalha.


Alias, o Legolas como sempre está fazendo Legolisses e dá um show a parte roubando todas as cenas de ação em que aparece, mas seu pai, Thranduil, interpretado por Lee Pace continua sendo meu personagem extra favorito do filme, também com algumas cenas de ação bem interessantes, em especial uma em que ele decapita mais de 5 Orcs ao mesmo tempo com a ajuda de seu Cervo gigante.


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Entretanto duas coisinhas sobre Thranduil não fazem tanto sentido no roteiro, a primeira é que ele menciona o amor de Tauriel por Kili quando nós mesmos, que você sabe, vimos o filme... nem sabemos de verdade qual a natureza da relação dos dois. Thranduil não tem nenhuma forma de ter essa informação e ainda assim ele a menciona, o que me faz pensar que algo se perdeu no corte final do filme, ou cenas adicionais da Edição Estendida devem dar alguma luz sobre isso, sobre isso e talvez sobre a mãe de Legolas que de repente é citada como parte importante do background do personagem de Orlando Bloom, mas ela jamais havia sido citada antes.


Outra coisa que não faz tanto sentido sobre Thranduil, é a sua menção a certo personagem que conhecemos, na época da A Batalha dos Cinco Exércitos esse personagem deveria ter 20 anos ou menos, será mesmo que com menos 20 anos ele já era tão importante assim para Thranduil e para a Terra-Média?


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Após a batalha, nós podemos experimentar um pouquinho da tristeza dos personagens com o fim e com a morte de seus companheiros, mas é especialmente bonito voltar ao Condado com Bilbo, ver tudo ficando mais iluminado depois de tantos eventos sombrios e catastróficos acontecendo diante do personagem de Martin Freeman, que a propósito, arrasa novamente no papel do Hobbit.


O filme termina de forma basicamente esperada e até óbvia, mas realmente emocionante. Eu provavelmente teria me emocionado ainda mais se todos os defeitos que eu mencionei acima não existissem, o filme faz parecer que realmente alguma gordura do primeiro e do segundo filme poderiam ter sido enxugadas para que essas cenas jogadas nesse longa, coubessem em dois filmes apenas, que era o plano original de Peter Jackson. Mas é especialmente bonito saber que se não foi um fim perfeito, a saga mais bonita dos cinemas terminou com dignidade e emoção o suficientes para honrar O Senhor dos Anéis e porque não, os dois primeiros e grandes filmes do Hobbit, só não dá para evitar o gostinho de que podia ser ainda melhor.

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