Watch Dogs | Crítica

Provavelmente Watch Dogs teria outro impacto sobre o mundo dos gamers se ele tivesse sido lançado antes de GTA 5, já que não foi temos que encarar Watch Dogs sobre uma nova ótica, ele é um grande jogo, mas não é tão bom quanto poderia ser e nem é tão bom quanto o que já foi apresentado até agora.


Mas é valido dizer que o jogo da Ubisoft se difere do jogo da Rockstar em uma coisa, Watch Dogs não é um jogo sobre bandidos em um mundo aberto, Watch Dogs é um jogo de super-herói em um mundo aberto e pensando por esse lado, esse é um dos melhores jogos de super-herói já criado, quase rivalizando com Batman: Arkham City.


Nosso herói, Aiden Pearce é conhecido em Chicago como O Vigilante, um Hacker que entre diversas coisas, ajuda a combater o crime do local usando suas impressionantes habilidades de manipular a cidade como bem entender, esse é seu superpoder. Aiden tem também seus sidekicks, alguns deles que até roubam a cena, como é o caso do hilário e potencialmente perigoso Jordi Chin, mas Clara Lille e T-Bone são outros grandes personagens que ajudam o Vigilante em sua jornada.


Pearce ainda usa uma mascara, então é mais um item da lista que o transforma em super-herói, ele tem um uniforme, existe uma loja de roupas no jogo, mas todas vendem variações de cores da roupa do personagem. Pearce ainda tem seu grande esconderijo, o Bunker, ou sua bat-caverna se preferir, além de outros esconderijos menores na cidade, ou seja, um uniforme, um esconderijo com os sidekicks, seu codinome e poderes só falta uma coisa na lista que todo bom super-herói tem que ter; vilões.


Existem ao menos 4 vilões em Watch Dogs, Iraq, um hacker que também é líder de uma gangue criminosa tipicamente americana, Damien Brenks, o vilão final que já foi amigo do herói, um arquétipo clássico do gênero, Lucky Quinn o grande mestre criminoso de Chicago que está envolvido em aparentemente tudo e o mais interessante de todos os vilões, Defalt, um DJ da boate Dot Connexion que é mais ou menos o equivalente ao Coringa no universo do Batman, só que na Chicago de Watch Dogs. Defalt é um vilão mascarado e estiloso que não faz parte da história principal, mas está lá pelo caos da coisa e o desfecho dele, ao menos para alguns gamers vai soar exatamente como o que acontece com vilões de quadrinhos.


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Eu acho que não preciso provar mais o meu ponto sobre o estilo do jogo, mas eu ainda tenho que dizer que nosso herói, apesar de já estar agindo antes como herói, está nessa por vingança pela morte de sua sobrinha, que foi encomendada por algum criminoso que se sentiu ameaçado por ele e seu trabalho como Vigilante, o clássico dilema de Homem Aranha onde sua vida como herói coloca sua família em risco e isso é um dos pontos mais recorrentes do jogo.


A trama é completamente baseada no poder da informação e na imunidade de quem a detém, é assim que os criminosos controlam Chicago e é com elas que Aiden os combate, graças ao ctOS, sistema implementado na cidade que gerencia toda a tecnologia do local, um sistema inovador e que aparentemente só existe em Chicago, mas que chegará ao restante do mundo em breve. O arco da história é perfeitamente bem escrito e com curvas dramáticas muito bem definidas e um terceiro ato extremamente épico, o que me parece que o jogo seria perfeitamente adaptado para um filme, se tivesse 30 horas a menos.


Se fosse pela trama, pelos personagens e pela ambientação, Watch Dogs seria um jogo perfeito, entretanto, a sua jogabilidade atrapalha a coisa um bocado.


Hackear no jogo não é tão dinâmico quanto os trailers aparentam, enquanto os trailers me faziam pensar que seria extremamente complexo e por isso até divertido controlar a cidade com tantas opções, na verdade só existe uma opção no jogo, apertar X (no Xbox) e mais nada. Qualquer aspecto da cidade é controlado apenas com um botão e dependendo da proximidade em que você está dele e se você está com a câmera virada para ele. Por mais que você tenha dezenas de coisas diferentes a serem controladas, elas se tornam repetitivas conforme você as usa sem parar apertando apenas um botão.


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Além disso, quando eu comparei o jogo com GTA é porque um aspecto completamente decepcionante de Watch Dogs é em questão a cidade, por mais que ela seja interativa e que você consiga ver um rápido Background de cada cidadão ali através do Perfilador, Chicago parece uma cidade morta comparada com Los Santos. Os Backgrounds são completamente aleatórios e por mais que impressionem no inicio, quando a gente começa a perceber que tem adolescentes com esclerose e senhorinhas que são criminosas (nada impossível, mas bem improvável), dá pra perceber o quanto tudo aquilo é obviamente aleatório e a graça se perde.


Eu não senti nenhuma vontade de destruir Chicago como senti com Los Santos, porque não parece haver consequências em Chicago, nós temos um medidor de reputação que só é útil para algumas vezes o jornal nos dizer o que a população acha do Vigilante e mais nada então não é por isso que a destruição seria impedida. O jogo só nos faz entrar no “mundinho” dele porque Aiden e sua história ajuda muito, caso contrario Chicago seria uma cidade bizarra de bots sem vida e sem graça.


Algumas mecânicas também atrapalham a imersão, no caso a principal delas é a de dirigir, dirigir em Watch Dogs é extremamente chato, por mais que às vezes seja divertido abrir semáforos ou levantar pontes para pulá-las, no geral dirigir é maçante, o mundo ao redor está acontecendo de forma monótona e a mecânica de direção é completamente travada e mal feita, para não falar que os carros que estamos pilotando parecem tanques de guerra indestrutíveis e quase que completamente presos ao chão, eu não sei como é no Canada onde a Ubisoft tem seu QG instalado, mas aqui no Brasil onde vemos acidentes o tempo todo, sabemos o quanto um carro pode ser frágil em uma batida, para você conseguir destruir um carro em Watch Dogs você tem que estar com muita vontade de destruí-lo e ainda assim o máximo que acontecerá é ele começar a soltar uma fumaça preta e depois pegar fogo. Por outro lado, carros não pilotados por você se quebram bem facilmente, em simples acidentes de transito causados por sua manipulação de semáforos. Outro contra, você não pode atirar de dentro de um carro e se não fosse só isso, nas missões de perseguição os carros inimigos são muitos mais rápidos que os seus, não importa se você está com uma Lamborghini genérica e eles estão com um mini-caminhão, se você quiser pegá-lo será obrigatoriamente hackeando o caminho dele.


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Ao menos Watch Dogs faz uma coisa melhor que GTA, que é o sistema de tiro, que é bem melhor e mais preciso do que o do jogo da Rockstar, com direito até ao agora clichê da câmera lenta, que está cada vez mais sendo usado em jogos. Além disso, a forma como a polícia funciona também é bem superior a forma como ela funciona em GTA 5, a policia é ao mesmo tempo mais inteligente e por outro lado menos sobrenatural, por exemplo, em GTA você pode dar um tiro do telhado de um arranha céu em uma rua deserta, a policia imediatamente saberá que foi você, em Watch Dogs, a policia só saberá do tiro se estiver por perto ou se algum cidadão ligar pra ela para avisar, esse cidadão pode ser impedido de várias maneiras, mas mesmo se ele conseguir, você consegue se esconder da policia, até mesmo dentro de um carro. Por outro lado, a forma como a polícia se organiza para te pegar é bem melhor e mais sensata... uma pena porém que você no Watch Dogs você não pode estar no topo de um arranha céu, já que falta meios para você chegar até lá.


Os puzzles de Watch Dogs também não são muito engajadores, os puzzles para invadir coisas são até decentes, a forma como você tem que conduzir a linha azul (energia, informação, dados?) entre as casas é bem intuitiva e ao mesmo tempo desafiadora quando há tempo para hackear, mas os puzzles de locais são extremamente chatos, por exemplo, para você conseguir hackear a cidade você tem que hackear antes as torres da ctOS de cada bairro, existe a principal que você tem que acessar para missões e outras menores que você só usa se quiser desbloquear esconderijos, novos mini-jogos e coisas do tipo, mas para fazer qualquer uma dessas você tem que quebrar a cabeça em algo simples como “como chegar na torre” e muitas vezes não há indicação alguma de como fazer e nem por onde começar, a torre parece apenas intransponível e como no jogo não há veículos aéreos,  sua opção é ficar rodeando um prédio até imaginar como subir o primeiro de muitos degraus que tem que ser alcançados, isso envolve hackear portas com câmeras para ver um ângulo que você não consegue normalmente e por mais que a Ubisoft tenha pensado que isso ia dar uma dificuldade a mais, não parece difícil, parece apenas irritante e desnecessário, especialmente porque acontece vezes demais no jogo.


Ao menos as missões em gerais são muito boas e variáveis, as side-missions não, elas são repetitivas e chatas, embora ajudem a manter o clima de super-herói já que elas envolvem impedir crimes e investigar criminosos e pessoas desaparecidas, mas as missões principais são ótimas em uma variação de um divertido Stealth com o Tiroteio clássico quase sempre dando a chance de você fazer um ou outro ou uma mescla dos dois. A dificuldade das missões também te incentiva a variar as formas, visto que Watch Dogs (eu joguei no Hard) é um jogo com uma dificuldade perfeita, nem impossível nem fácil demais, a missão final então é o cumulo disso, visto que aparentemente você não tem como conclui-la de tão complicada que é a situação, mas se você colocar sua concentração ao máximo e usar o pause algumas vezes pra pensar no que vai fazer e observar o mapa, você passa por ela sem sequer perder uma vez.


Os gráficos de Watch Dogs são sensacionais também, se formos considerar o Xbox 360 como a mais fraca das versões lançadas ainda assim o jogo pode ser considerado o jogo com o melhor gráfico do console, no PS3 o jogo tem um gráfico idêntico ao do Xbox 360 o que significa que é pelo menos do mesmo nível que The Last of Us. Na nova geração e no PC o jogo muda de cara e se transforma na experiência visual mais impressionante dos games até agora e não apenas pelos gráficos, mas pela “fotografia” do jogo, a forma como a câmera acompanha o personagem é scriptada e os movimentos do personagem são automáticos demais, mas isso deixa tudo instantaneamente cinematográfico e bonito. Entretanto para quem argumentar que é impossível deixar tão bonito sem ser tão automático, The Last of Us está aí para provar que isso não é um fato, mas mesmo assim Watch Dogs é lindo o suficiente para perdoarmos tantas coisas serem pré-prontas.


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Mas com tanta beleza e tanta diversificação há também muitos bugs e por pelo menos 3 vezes eu tive que reiniciar uma missão porque um bug travou completamente o jogo, em uma delas, a Clara não quis mais andar para seu carro, porque nem todos os inimigos tinham sido eliminados, acontece que um inimigo da fase travou e ficou a uma certa distancia, uma distancia que quando eu tentava alcançar para eliminá-lo, me fazia sair da área da missão e eu perdia. Outro bug fez Aiden cair no chão depois de um acidente de moto, mas ele não levantou mais e ficou grudado no chão, que por acaso era uma ponte que eu ergui para ver se o personagem escorregava e caia e não, ele ficou quase que na vertical preso ao chão... são muitos bugs para um jogo da Ubisoft, os Assassin’s Creed costumam ter bem menos, embora não sejam jogos tão bons e nem tão complexos assim.


Os minigames de Watch Dogs são muito interessantes, existem três tipos deles, os jogos normais como Xadrez, Poker e jogos de beber em geral, que são excepcionalmente divertidos, mas existem também os jogos de rua, que envolvem a criação de hologramas no local onde você esta e interage com eles, um sobre aliens invadindo Chicago é bem bacana, mas os mais impressionantes dentre os minigames são as viagens digitais, das 4 que eu joguei vale destacar o Alone, onde nós estamos em uma Chicago deserta e escura enfrentando assustadores robôs que podem te desintegrar e o Spider-Tank, onde nós assumimos o controle de um robô gigante em forma de aranha e temos vários objetivos de destruir coisas.


Enfim, para finalizar, Watch Dogs tem muitos defeitos que afastam ele da promessa de ser O Grande Jogo da Nova Geração, entretanto, ele está anos luz de ser ruim, na verdade é um ótimo jogo que apenas não consegue cumprir o seu Hype e nem ser tão bom quanto seu concorrente mais próximo, GTA 5, mas eu aconselho completamente a você jogar e experimentar a aventura de Aiden Pearce, até porque, conhecendo a Ubisoft como eu conheço, eu sei que um provável Watch Dogs 2 será algo impressionante e que deve corrigir todos os erros cometidos nesse.

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