Child of Light | Crítica

Child, Tuck yourself in bed,
And let me tell a story
of Lemuria, a long lost kingdom
and a girl born for glory


Dizer que Child of Light é uma poesia jogável seria um bom jeito de resumir completamente essa crítica, então vamos lá, Child of Light é uma poesia jogável! Bem, a intenção dos criadores do jogo claramente é essa e acredito que não tem como eles ficarem mais felizes com o resultado de sua experiência.


A experiência que a Ubisoft (mais especificamente o braço independente dela) quis criar para Child of Light não podia ser mais assertiva, uma história de ninar jogável, um conto de fadas comum, mas contado de uma forma inovadora e se você me pergunta se eu deixaria um (potencial) filho (a) meu jogar Child of Light antes de dormir, é claro, eu não só deixaria, mas estou anotando isso em meu caderno de tudo o que meu filho/filha tem que fazer em sua infância, jogar Child of Light esta logo ao lado de ler Desventuras em Série.


Alias, a experiência foi tão bem pensada nesse sentido, que não há necessidade de você deixa-lo jogar, afinal, o conservador em você diria que a leitura de uma história infantil implica em um vinculo com a criança, deixa-la jogar é o contrário, mas o game foi pensado como um co-op assimétrico, em que você poderia controlar a Aurora guiando a sua criança que controlaria o Igniculus, o elemental que acompanha a Princesa por sua jornada em Lemuria, Igniculus vê menos ação do que Aurora, mas tem um papel importantíssimo nas batalhas e no gameplay geral do game, curando os aliados ou atrasando inimigo, ou apenas coletando Wishes que o fortalece e enche o HP e MP de Aurora e companhia.


in Austria was a crown land ruled by a duke
Aurora was his daughter
Child of a duches mysterious
Beloved by her father


He raised the girl alone,
They were rarely apart
‘till the duke felt lonely,
And misplaced his heart


Mas é claro, se você está se questionando se o jogo vale a pena apenas como uma história de ninar e uma parceria entre pais e filhos, bem, eu te respondo, claramente Child of Light foi feito com essa intenção e ele é muito bem sucedido, contudo, você pode aproveitá-lo também apenas como Gamer, mas te aviso se você procura por jogos desafiadores ou se você é um típico jogador de shooters, jogos de ação e até RPG hardcores, talvez Child of Light não te agrade tanto, embora ele tenha algumas ideias brilhantes em seu Gameplay, especialmente em seu sistema de batalha, Child of Light tem mais valor como arte pela arte, do que como um game em si.


O sistema de batalha de Child of Light é brilhante, um dos melhores dos RPGs de turno recentes que eu já vi, alias, vou ser sincero, é um dos melhores que eu já vi e ponto, não apenas dos recentes, não tem em que Final Fantasy 7, por exemplo, ganhe de Child of Light, que tem um sistema muito mais bem pensado, muito mais fluido e muito mais dinâmico que a maioria dos RPGs de turno já criados. Alias, sabe os buffs, que quase sempre são desnecessários em Final Fantasy e outros do gênero, são apenas algumas opções a mais para fingir que está te dando novas estratégias de combate, então, em Child of Light eles realmente são úteis e necessários nas batalhas, alias, todas as habilidades dos personagens são de extrema utilidade quando usadas no momento certo.


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Assim como os Oculis, que são pedras preciosas que você pode fabricar e adicionar no Ataque, Defesa ou em uma Habilidade Especial do personagem, por exemplo, um comum Ruby pequeno, te dá no ataque +5% de dano de fogo, na defesa ele dá +5% de proteção contra fogo, no Especial ele dá +5 de HP e por aí vai. Se você misturar 3 Rubys pequenos você ganha um Ruby médio, três médios e você ganha um grande, três grandes você ganha o maior. Você mistura um Ruby com uma Safira e você ganha uma Esmeralda que dá habilidades completamente diferentes, ou seja, é um sistema muito complexo e extremamente divertido de se trabalhar, especialmente na descoberta de misturas onde conseguimos até criar Diamantes e Onixs, misturando várias pedras diferentes.


It was the great Friday,
Before Easter, 1985
Players performed fot the duke
His new bride at his side


That night Aurora went to sleep
The Fire burned down low,
She caught a chill that spread,
Her skin was cold as Snow


Ou seja, um sistema de batalha dinâmico e bem pensado e um sistema de criação de pedras complexo e divertido fazem esse um grande RPG, certo? Mais ou menos, não estou tirando o mérito do jogo em entregar uma experiência RPG decente, ele entrega, mas como eu disse, a experiência principal do game não é essa, porque por mais que o sistema de batalha seja ótimo, eu JAMAIS perdi uma vez sequer no jogo, eu nem sei como é a tela de game over e nem sei se para perder é necessário que a party inteira morra ou só os dois que estão batalhando. E não pensem que isso é porque eu sou excelente, você nem imagina quantas vezes eu morri em Dark Souls 2, eu não sou excelente, sou um jogador que fica entre o bom e o mediano e ainda assim não fui derrotado e nem cheguei perto de ser, nem pelos chefões finais.


Alias, jogar o jogo flutuando com a Aurora é quase mais perigoso do que as batalhas, afinal, os espinhos, lava e armadilhas do jogo também tiram muito HP e no game normal não temos as magias de cura de Rubella.


Esse aí um novo problema do jogo. São 7 personagens extras para sua Party (isso sem o DLC já lançado), mas nas batalhas você só usa 2, claro, o jogo já é fácil o suficiente com 2, se tivesse mais 1 seria ridículo, mas ainda assim, dar tantas opções de uso e não te dar oportunidade de usá-las é um problema do jogo em si e não só das batalhas.


Antes que você diga, eu sei que é possível trocar um membro da party no meio do jogo, mas isso só te atrapalha e não te permite criar uma estratégia de batalha mais coordenada, no meu grupo eu basicamente só usava 3 personagens, Aurora e Finn para o ataque, os dois são poderosíssimos quando evoluídos, especialmente Finn. O terceiro personagem é Rubella para cura e reviver, sempre que um dos dois estava próximo da morte, eu substituía um e colocava as magias de cura de Rubella em ação.


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Enquanto os Buffs de Norah são ótimos para trabalhar ao lado de Aurora, com o tempo, o poder de devastação de Aurora e Finn ficam tão altos que os Buffs começam a perder sentido e daí o game fica fácil demais, uma solução para isso seria elevar ao extremo a dificuldade do game, como é nas primeiras (duas) horas e dar mais um membro para a equipe de batalha, mas isso com certeza tiraria o outro lado da experiência, se é para ser uma canção de ninar ela tem que ser empolgante, mas não pode ser complexa nem difícil, muito menos frustrante, o que um bom game pode ser. É uma linha tênue pela qual Child of Light passa.


[pullquote align="right"]Child of Light é o RPG mais bonito e fascinante desde Final Fantasy 9.[/pullquote]Por outro lado, enquanto essa divisão de estilos é compreensível, o fato de Child of Light te apresentar tanto e te deixar explorar tão pouco é quase decepcionante. Lemuria, o mundo do jogo é lindo, mas absurdamente limitado, por exemplo, cada cidade (todas as 3) são limitadas à apenas uma tela e a interação com ela acaba sendo ínfima. Isso tudo combina com o gameplay, mas é tudo tão fascinante que não dá para deixar de se frustrar em saber que não podemos interagir mais e mais com aquele mundo.


Agora deixando um pouco de lado o “lado game” do jogo, o mundo de Child of Light é simplesmente incrível, Child of Light é o RPG mais bonito e fascinante que eu joguei desde Final Fantasy 9. As várias criaturas, raças, personalidades e os cenários épicos do game te dão uma ambientação perfeita do que é estar na pele de Aurora, que por acaso é uma personagem extremamente amável, cuja personalidade se transforma de ser a garotinha aborrecida e mimada para uma grande líder num piscar de olhos e não existe “o ponto de mudança”, ainda que ocorra diversas mudanças físicas nela durante o game, tudo acontece naturalmente em sua personalidade.


Outros personagens são igualmente fantásticos, com um destaque para Rubella e Igniculus, esse último, um elemental, confundido por um vagalume, que é o fiel escudeiro de Aurora e é uma criatura extremamente inocente ao ponto de ser realmente emocionante em alguns trechos, até mesmo em sua frase inicial, quando ele pergunta em rima sobre a natureza das lágrimas: “Would Someone please explain, how water falls with no rain?”.


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Por falar em rima, parte do charme de Rubella é o fato dela ser a única personagem que não fala em rima, mas há sempre quem mude a frase dela para tentar rimar com a frase anterior, o que sempre é um bom motivo para risadas. Além disso, ela é a segunda companhia do jogo e tem um rosto convidativo e é diferente da maioria dos arquétipos de histórias infantis e de RPG.


A trilha sonora do jogo também é linda, coordenada principalmente por flauta e piano, ela parece quase que algumas faixas mais experimentais de bandas indies com uma pegada mais épica e apesar das músicas serem razoavelmente limitadas, na trilha oficial são 18 músicas para 10 horas de jogo, elas casam e, porque não, rimam perfeitamente com o que está acontecendo em cada momento do jogo, eu destacaria entre elas a música que Aurora toca em sua flauta e também a música “Metal Gleamed in the Twilight” que é a música que toca nas batalhas contra os chefões que realmente te coloca no clima da batalha.


At dawn they found her
Vacant, Aurora’s light gone out
Her father wept and pleaded
But there could be no doubt


For all the intents and purposes
Aurora was dead
And yet… Once upon a time,
She awake in a strange land instead


Agora se você não entendeu o que eu estou falando sobre as rimas nos parágrafos acima, saiba o jogo inteiro é rimado, como uma poesia (jogável), portanto é muito melhor aproveitado por quem fala inglês, nesse caso eu duvido que um dia ele seja traduzido para português, mas eu adoraria ver a tentativa. [Atualizado] Eu não preciso esperar ele um dia ser traduzido para português, como o leitor HKs comentou, o jogo foi lançado sim em português e não só legendado, mas também dublado, uma bela iniciativa da Ubisoft, que eu confesso que subestimei não só ela, mas também o valor do mercado nacional, afinal, traduzir um jogo consideravelmente pequeno e trabalhoso poderia acabar sendo mais do que valeria a pena, considerando o tamanho do nosso mercado, mesmo assim para quem não sabe inglês e quer aproveitar a experiência inteira, é uma boa essa dublagem. [Fim da Atualização]


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Eu li algumas críticas muito duras quanto à rima do jogo pela internet, dizendo que ela era forçada e desnecessária, forçada talvez, desnecessária nunca, o jogo jamais ia ser o mesmo sem as rimas e essa é parte da graça. Agora se é forçada ou não, cabe dizer que é um jogo cujo conteúdo completo demanda mais de 10 horas para ser explorado, embora um apressado consiga termina-lo em 5, escrever um roteiro desse tamanho 100% rimado com certeza traz uma certa dificuldade, mas como o próprio game brinca com a rima ser forçada quando a Rubella está falando, não vejo isso como um problema, mesmo porque há momentos épicos completamente baseados na rima, como um que eu me lembrei agora, quando Aurora abre uma caixa com um monstro dentro e Igniculus pergunta “What is inside?” e ela responde “Homicide!”, isso não é forçado, isso é poesia e é uma muito engraçada.


Eu gostaria de terminar a crítica com alguma rima, mas sempre fui ruim em poesia, a falta de ritmo é uma sina e seu tentasse você riria. Mas Child of Light é, apesar dos pesares, uma obra prima. (:D)

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