Dark Souls 2 | Crítica
Há anos que eu não tenho vontade de jogar e explorar cada canto de um jogo como eu senti em Dark Souls 2, o que explica a demora dessa crítica sair. Ok, talvez isso tenha acontecido com GTA 5, Bioshock Infinite e com The Last of Us recentemente, mas eles são um outro tipo de experiência, GTA 5 exige que você explore a cidade quer queira quer não, Bioshock Infinite é lindo, tão lindo e bem engenhado que você quer explorar só pra ver mais e ter a companhia de Elizabeth ajuda o passeio e The Last of Us, além de lindo, usa a sua necessidade para a exploração, você precisa de itens e eles estão escondidos por aí, vá acha-los, já em Dark Souls 2, você precisa de desafios, eles estão escondidos por aí, vá acha-los.
O desfio de Dark Souls 2 é realmente alto, mas isso você já deve saber, desde o primeiro jogo da franquia Demon’s Souls, que é apenas parte honorária da trilogia Dark Souls, que esses jogos têm a fama de serem absurdamente difíceis. E tenho que admitir que Dark Souls 2 foi o primeiro jogo da franquia que eu joguei e eu imaginei que toda essa dificuldade me afastaria do game rapidamente, mas a forma como a From Software, que pasmem, é um estúdio japonês, dosa a dificuldade com os ganhos que temos por superá-la é espetacular.
Quando eu digo que é de se espantar que Dark Souls 2 tenha um desenvolvedor japonês, é que a maioria, para não dizer todos menos Dark Souls, dos RPGs japoneses seguem um certo ritmo, um certo estilo um pouco oriental demais e que certamente só agrada uma parcela do público, os JRPGs já me agradaram mais no passado enquanto hoje eu prefiro ficar com os RPGs orientais, e acho que ainda posso dizer isso, visto que Dark Souls 2 nada tem de JRPG, muito pelo contrário até.
Parte do que claramente faz com que Dark Souls seja único é a simplicidade e ao mesmo tempo profundidade de sua história e da sua ambientação; você tem uma maldição que o transformou em um morto-vivo, em breve essa maldição vai consumir sua mente e você se tornará algo que é chamado de Hollow, um ser que não tem memorias ou vontades, apenas vaga pelo mundo. E Drangleic, o reino onde o jogo se passa está cheio de Hollows, visto que é o lugar onde existe a promessa da cura para essa maldição, para isso, você tem que procurar o Rei Vendrick... só isso, simples não é? Um lugar, um problema, uma forma de resolver.
Os personagens da série mal interferem na narrativa também, mas funcionam muito bem na ambientação da trama, por exemplo, a Emerald Herald, a personagem NPC mais importante do jogo, que a partir de um determinado momento passa a ser sua guia te chama sempre de Bearer of the Curse, o que é muito poético, e diz que estará com você até que sua esperança esteja totalmente acabada, ou o Saulden, The Crestfallen Warrior, um homem que fica perto do Obelisco de Majula, uma pequena cidade rural na costa que é o único porto seguro do jogo. Saulden fala com uma voz deprimente e triste como se tudo já estivesse perdido e não houvesse motivos para nossa jornada. Enquanto Sweet Shalquoir, um gato que também fica em Majula, tem uma voz estranhamente semelhante a de Scarlett Johansson em Ela. Pensando bem, um gato falante com a voz da Scarlett Johansson me parece mesmo a um jogo japonês.
Entretanto, talvez a história do game seja tão simples e contida e interfere tão pouco na jogabilidade que as vezes parece que estamos soltos demais, especialmente porque o jogo é enorme e não linear, é fácil esquecer o porque estamos fazendo o que quer que estejamos fazendo, talvez isso faz parte da ambientação, porque o personagem quanto mais tempo passa, menos ele lembra do que é, do que faz e porque faz, mas é um risco muito alto para aqueles que gostam de jogo com uma boa história, porque por mais que Dark Souls tenha uma boa história, ele só tem uma boa história em alguns momentos, isso pode fazer alguns jogadores perderem o interesse.
Mas se a quantidade de história não é tão bem pensada, os vilões do game são incrivelmente bem planejados, alias, o design inteiro do game é sensacional, embora os gráficos fiquem um pouco aquém do que poderiam, no Xbox 360 e no PS3 pelo menos, já que no PC o jogo está quase uma obra prima e ele não foi e nem será lançado para Playstation 4 e Xbox ONE.
O visual das armaduras, dos chefões de fase e dos lugares são brilhantes, até mesmo nas coisas mais simples. Eu por exemplo, tive dois personagens, um mago e uma guerreira, a última com a qual eu consegui terminar o jogo, ela, a ruiva que você vê abaixo está com o espetacular Blossom Kite Shield, a Sun Sword e o set de armadura Throne Watcher, exceto o elmo, que eu substitui com a coroa de Vendrick, por fins totalmente estéticos.
Nos lugares, vale se ressaltar Dragon Aerie, um lugar de tirar o fôlego de tão espetacular que ele é, isso porque eu joguei no Xbox 360, eu mal posso esperar para ver um possível Dark Souls 3 no PS4 ou no Xbox ONE e quem sabe poder revisitar o Dragon Aerie com um visual ainda melhor, devida a forma como a From Software lida com a criação de seus jogos, é improvável que vejamos esse lugar novamente, mas seria fantástico.
Mas o que realmente chama a atenção no jogo é a sua jogabilidade e a forma como ele te pune por desatenção e a forma como ele te premia por sua habilidade. Primeiro eu posso dizer que tudo em Dark Souls 2 pode te matar, e cada morte é dolorosa, pois você perde um pouco da sua humanidade, que é útil para jogar em multiplayer co-op, e perde suas Almas acumuladas, que é útil para passar de level e para comprar coisas.
Um bom exemplo sobre como a falta de atenção pode te matar, é quando você se atreve a caminhar pelo Huntsman’s Corpse, e descobre o caminho para a Undead Crypt, lá existe um número considerável de inimigos perigosos, e eles são perigosos independente de seu level, depois que eu finalmente consegui eliminar todos num ápice de destreza e habilidade que eu só consegui adquirir depois de perder na mesma área mais de 10 vezes, eu rumei até a Undead Crypt correndo pela ponte de madeira que leva até ela, obviamente, em minha pressa para achar uma fogueira no novo local, eu não percebi que havia inúmeros buracos na ponte de madeira e eu caí por um. A euforia de uma vitória jamais pode tirar sua atenção do game.
Os chefões, alguns deles são extremamente difíceis, mas na maioria das vezes, apenas porque você está insistindo em não se adaptar a uma nova forma de batalha para ele, ou por você estar sendo ansioso, querer dar mais de um golpe por vez, a ganancia de derrotar alguém pode ser sua derrota em Dark Souls, mesmo com minha extremamente veloz Sun Sword eu perdi várias vezes contra o Rei Vendrick, por que no lugar de dar apenas 2 golpes e fugir de seu golpe mortífero, eu pensava “dessa vez eu posso dar um 3° golpe, que vai dar tempo”. Dark Souls é um jogo difícil, principalmente para quem não é disciplinado.
Outro chefão quase impossível, mas opcional, é o Royal Rat Authority, um rato gigante hyper veloz que te mata com um ou dois ataques, o ser é capaz de pular de um lado ao outro do cenário dando um golpe de cabeçada alá Pokemon, devido a ele ser enorme, é difícil de fugir do golpe rolando e nem mesmo meu Blossom Kite Shield melhorado ao máximo, era capaz de defender a investida, por isso, sabendo que ratos são fracos contra fogos, eu elevei a Piromancia de minha personagem ao máximo que pude, +10, e o enfrentei novamente provido de uma devastadora magia Forbidden Sun e de dois fortíssimos, mas lentos, Firestorms, como a Forbidden Sun é uma magia rápida e a distancia, foi fácil infringir o primeiro golpe que levou 1/3 do HP do inimigo, a primeira Firestorm também é fácil, pois por mais que ela seja lenta, você vai ser atingido, mas o inimigo também, contudo a segunda Firestorm, tem que ser feita em um preciso momento após o desvio da investida do inimigo e antes dele se distanciar novamente, pois um segundo golpe dele é fatal, depois de algumas tentativas, consegui manejar o timing perfeito para isso e você não sabe o quão boa é a sensação de derrotar um desafio tão grande desses, com suas próprias estratégias, obvio, que esse não é a única forma de vencer o Royal Rat Authority, mas foi a MINHA maneira, você pode vencê-lo na espada, se for muito rápido e preciso, você pode vencê-lo de várias formas e acredite em mim, todas elas serão formas saborosas de vencer.
Enfim, a maior qualidade de Dark Souls 2 é te dar um desafio absurdo e te dar as ferramentas para superá-lo, mas não a habilidade para tal. A recompensa de você passar de qualquer desafio também é gratificante, um exemplo é a difícil luta contra o penúltimo chefão final, que são dois seres poderosíssimos ao mesmo tempo e que tem que ser derrotados juntos, ou em um timing próximo, pois um cura o outro, o Throne Watcher e o Throne Defender. Vencê-los é extraordinariamente difícil, sem o co-op principalmente, mas depois que eu venci essa batalha quase impossível, eu tive a minha disposição as almas de ambos e a armadura dos dois pra comprar, como a Throne Watcher tem uma armadura legal e rápida, eu comprei ela para minha personagem e essa é agora sua roupa oficial, como a alma da Thone Watcher permite recriar ou a espada ou o escudo dela, eu decidi recriar o escudo, que é pequeno e não detém muito dano, mas tem uma sineta que soa sempre que alguém encosta nele, que facilita muito o momento para o Parrying, ou desarmar o inimigo, o que é muito útil no PVP.
Alias, a forma de jogo online de Dark Souls 2 é única e espetacular, você pode interagir com jogadores de algumas formas, a primeira é através de mensagens, que você e outros podem escrever no chão, ajudando, dando dicas ou até dando uma zoada no coleguinha, as mensagens usam pedaços de textos prontos para serem formadas, o que agiliza o texto e impede palavrões e spam dentro do jogo, as mensagens tem também notas, que fazem ela durar mais tempo em um local do que outras, dependendo de quantas notas ela recebeu. Há também as manchas de sangue, sempre que você clica em uma, você vê o momento exato da morte de outro jogador naquele local, então se você está indo para um lugar que tem muitas manchas de sangue por perto, se prepare, há perigo ali.
Contudo, o mais interessante no multiplayer é o PVP e o co-op, o co-op é uma ajuda indispensável na luta contra grandes chefões de fase, afinal, é muito mais fácil lutar contra um ser poderosíssimo estando em 3, do que sozinho. Você pode deixar uma marca de invocação no chão, próximo aos locais onde tem chefes de fase e um jogador pode invoca-lo para a luta, a invocação termina assim que vocês perderem ou derrotarem o chefe e você então volta ao seu mundo. Para quem invoca, isso é uma ajuda, que vem a um custo, você, por exemplo, só pode fazer isso enquanto humano, ou seja, depois de ter consumido uma Human Effigy, que são em um número limitado no jogo, depois de consumir esse item, você vira humano novamente, mas só até você morrer mais uma vez, quando você volta a ser Undead. Para quem esta sendo invocado isso é uma forma de conseguir mais almas, e também vale como recompensa de alguns Covenants, como os Heirs of the Sun, a propósito, Praise the Sun!
Alguns Covenants são responsáveis pelo PVP do jogo, que acontecem apenas em determinadas áreas, ou quando alguém deixa um Símbolo de Invocação vermelho no chão, quando o jogador tem a opção de receber ou não um invasor para duelar contra si. Em determinadas áreas, apenas por você estar nelas, você pode invadir um jogador que também está lá, ou você pode ser invadido por um jogador que está por ali, é claro que o nível também é controlado, por exemplo, se alguém que começou a jogar há algumas horas chegou a Belfry Sol, eu que estou há 50 horas jogando não vou enfrenta-lo jamais, há um nível de quantas almas já recolhidas para criar um duelo, o que além de ser interessante para quem está jogando não enfrentar algo mais difícil de se vencer que um chefão, e acabar morrendo sem nem estar preparado para aquilo, você também sempre ganha batalhas de alto nível, e niveladas, onde ganhar ou perder depende se sua capacidade e de como você se preparou pra luta.
De fato, o PVP funciona exatamente como o restante do jogo, o desafio é alto, mas você tem tudo para vencê-lo, o jogo te da uma parte do que é necessário e ele te deixa treinar várias vezes até acumular a habilidade e a disciplina necessária para ganhar. Sabe o Slogan do jogo, “prepare-se para morrer”? Eu diria mais para “prepare-se para superar desafios”, em Dark Souls 2 você terá muito e será muito bom superá-lo.