300 – A Ascensão de um Império | Crítica

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A primeira coisa que impacta os primeiros minutos de 300 – A Ascensão de um Império é quantidade de cenas em slow motion absurda que o filme tem, e é uma quantidade tão grande e tão mal utilizada quanto no filme nacional 2 Coelhos, mas felizmente a qualidade dos dois filmes estão bem distantes, visto que apesar de todos os problemas que a sequencia do filme de Zack Snyder enfrenta, 300 – A Ascensão de um Império é um filme bem interessante quanto ao que ele se propõe.


Uma das coisas mais interessantes de 300 – A Ascensão de um Império é sua capacidade de entregar personagens interessantes, Artemísia e Themistocles, vividos respectivamente por Eva Green e por Sullivan Stapleton são ótimos personagens, o Xerxes de Rodrigo Santoro que agora tem mais camadas (mas aparece tão pouco ou menos que no primeiro filme), também se tornou um personagem bem mais interessante do que apenas a Drag Queen dourada de 300. Obviamente Themistocles não é Leonidas e Sullivan Stapleton não é Gerard Butler, mas ainda assim é um bom ator em um bom personagem, alias, Stapleton acabou de lançar seu nome a todos os potenciais filmes de ação por aí a partir de agora, o cara parece realmente ter uma veia para esse tipo de longa.


Mas a graça toda do filme fica por conta da interpretação de Eva Green e sua Artemísia, a principal comandante do exército de Xerxes e provavelmente a mais manipuladora também, Artemísia foi a responsável por Xerxes ter sua coroa e por se tornar o Deus-Rei que é hoje, e parece feliz em ser sua subalterna, exceto quando as ordens de seu líder máximo vão contra suas vontades. Green está especialmente inspirada no papel e acaba roubando toda a cena do filme, sendo possivelmente a protagonista do longa, apesar de ser a principal vilã também.


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Eu até estranhei quando acabei de ver o filme e lembrei que o título anterior era “300 – A Batalha de Artemísia” que é um título muito mais honesto com o conteúdo do filme, contudo Artemísia é uma personagem muito limitada e isolada a esse longa apenas, para talvez nomear um filme inteiro, com um personagem pequeno em meio ao enorme escopo que a trama ganhou agora. O nome pensado antes, logo no início, “Xerxes”, também não é válido, visto que o Deus-Rei vivido pelo nosso conterrâneo Rodrigo Santoro aparece ainda menos nesse filme do que no filme anterior e ele tem toda sua vilania ainda diminuída pela presença constante de Artemísia, que apesar de ser uma mulher aparentemente frágil e pequena, se mostra mais perigosa que ele apenas ao falar e ao exibir sua expressão corporal, apenas o caminhar de Eva Green nesse filme por si só é ameaçador.


O grande problema dessa sequencia é em sua estrutura de roteiro, quando disseram que o filme não era realmente uma sequencia de 300, eles não mentiram, o filme realmente se passa antes, durante e depois dos eventos do primeiro filme e isso prejudica e muito a forma como a história flui, em um momento, o personagem de Stapleton discute com a personagem de Lena Headey em Sparta, momentos depois do épico “This is Sparta” do primeiro filme acontecer, claramente a cena acontece com Headey porque Gerard Butler se negou a fazer uma ponta, mas esse momento no lugar de ser interessante, se torna meio bobo e desnecessário, especialmente porque ele foi precedido por cenas de batalhas intermináveis demonstrando o heroísmo de Themistocles e logo após que essa cena acaba, adivinha o que temos, mais cenas de batalhas intermináveis, dessa vez no mar. Depois mais uma cena para pontuar o segundo filme com o primeiro, depois mais batalhas e isso acaba tornando os dois primeiros atos do longa completamente burocráticos e tediosos, especialmente para um espectador comum que não viu o primeiro filme com tanta atenção e vai ficar sem entender porque tantas cenas deslocadas e desnecessárias estão no filme.


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As batalhas estão muito bem feitas, mas são tão parecidas entre si que acabam nos deixando com sono, o excesso de Slow-Motion realmente me lembrou de 2 Coelhos (que eu mencionei no primeiro paragrafo), porque parece que assim como o diretor do filme nacional, Noam Murro tentou mostrar a “beleza da violência”, mas errou na mão e apenas tornou a ferramenta repetitiva e banal, pelo menos, diferente do filme mencionado acima, a violência de 300 – A Ascensão de um Império é realmente “bonita de se ver”. A forma gráfica como Murro usa a violência é semelhante ao modo que Zack Snyder usou no primeiro filme e Robert Rodriguez usou em Sin City, contudo ela é tão repetitiva que acaba banalizada, tanto que um casal ao meu lado, que levou um filho de mais ou menos 10 anos, preferiu tapar os olhos do menino na cena de sexo, bem sonoro, mas apenas sugerido (não necessariamente explicito) e por outro lado deixou a criança assistir livremente as dezenas de decapitações, espadas abrindo cabeças e esse tipo de coisa ultraviolenta. Nada soa real em 300 – A Ascensão do Império, não que no filme anterior fosse mais realista, mas era talvez, mais bem cuidado.


As batalhas marítimas do filme, e são muitas, também carecem de criatividade, é difícil diferenciar de uma batalha para outra, todas são muito parecidas, extremamente parecidas na verdade e nenhuma delas ficou na minha memória depois de que o filme acabou, exceto a última, que bem, é outra história.


Ainda há mais uma coisa patética no filme a se mencionar antes de partirmos para o bom terceiro ato, os personagens forçados criados para preencher algum relacionamento emocional do espectador com o fator morte, no filme. O Pai e o Filho, amigos de Themistocles. Dois personagens absolutamente descartáveis, cujo os nomes eu nem lembro, que repetem ao inverso um arco do filme anterior, mas que nesse soam completamente forçados e para preencher uma necessidade de roteiro, ambos são tão óbvios que fica difícil levar eles a sério e isso deixa difícil de levar o roteiro do filme a sério, especialmente quando ele já falhou em sequer fazer a narrativa fluir descentemente. 300-ROAE-6 Agora o 3° ato do filme, apesar de ainda ser obvio, é bem empolgante, a forma como a batalha marítima e as lutas acrobáticas de Artemísia e Themistocles convergem até os dois se enfrentarem é sensacional, a luta dos dois também é realmente “perigosa” por assim dizer, Artemísia é incrível como o filme inteiro mostra, enquanto Themistocles é tão bom que mata Imortais de olhos fechados e com a mão nas costas, quando as espadas dos dois se encontram realmente é de se temer pelo herói, ou pela vilã, porque afinal eu torcia pra ela, que é uma personagem muito melhor.


O fato do filme acabar sem realmente acabar, também estava bem obvio durante toda a projeção, mostrando que 300 – A Ascensão do Império é apenas um pedaço de uma trilogia, o que é bem diferente do que o primeiro filme, que funciona sozinho. Mas uma coisa tem de bom nisso, provavelmente teremos muito mais Rodrigo Santoro e seu Deus-Rei-Drag-Queen no terceiro filme e muito mais Lena Headey também.


Antes de finalizar, vale uma menção a trilha sonora do filme, que apesar de um pouco genérica, é muito boa!


 
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