House of Cards - 2° Temporada | Crítica
(Crítica com Spoilers)
Com o final da primeira temporada de House of Cards, uma coisa ficou clara, a Netflix não esta pra brincadeira, em sua primeira série original proeminente ela trouxe grandes diretores, um grande roteirista, um grande ator, um grande elenco e David Fincher, juntos para criar a série mais bem produzida da TV, se é que podemos limitar a Netflix como TV.
Na primeira temporada tínhamos uma trama em duas frentes, Frank Underwood lidera os aspectos políticos da série enquanto Zoe Barnes liderada o jornalístico, nesse ponto a segunda temporada de House of Cards sofre um pouco em relação a primeira. Olha, se você não acreditou no “Crítica com Spoilers” em vermelho ali em cima, acredite e não leia o próximo parágrafo se você ainda não assistiu a temporada.
A morte de Zoe Barnes no primeiro episódio é extremamente chocante e serve ao propósito da jornada dessa segunda temporada, mas elimina o “jornalismo” da equação da série e com certeza desequilibra o ritmo e o tom que a primeira temporada tinha.
Kate Mara fez uma falta imensa pra segunda temporada, ela era um contraponto interessantíssimo para Frank, mesmo sendo sua aliada e a promessa de tê-la como sua inimiga, uma promessa que não se concretizou, era ainda mais interessante.
Contudo, depois que deixamos passar a morte da senhorita Barnes e o choque que ela causa, entendemos o novo ritmo que a série tem, Frank Underwood virou o Vice-Presidente dos EUA e só tem mais um passo a ser dado para que ele vire o homem mais poderoso do mundo, tirar Garrett Walker, o atual presidente, da jogada e é sobre isso a temporada, como ele disse uma vez ano passado; “É assim que se devora uma baleira, uma mordida por vez” e ele começou a morder há muito tempo atrás.
O principal problema que Underwood tem que enfrentar dessa vez é Raymond Tusk, o empresário mega milionário e amigo do presidente, todas as outras ameaças que ele enfrenta durante a temporada mal o arranham e só servem para criar uma tensão bilateral e deixar o conflito principal menos cansativo. Stamper praticamente resolve o problema de Lucas, o jornalista que namorava com Zoe, apenas com uma conversa com o FBI e o resto acontece sem que ele precisasse mover um dedo.
Stamper tem alguns momentos bem interessantes nesse temporada, mas ele é também o protagonista de uma das coisas mais sem nexos de House of Cards, o relacionamento dele com Rachel é absolutamente improprio e sem propósito e eu fiquei me perguntando até onde aquilo ia dar, aparentemente não vai dar em nada, exceto que isso deixou Frank sem seu braço direito para a próxima temporada e deixou Rachel a solta para talvez ser alvo de Janine ou de Tom no ano que vem, ou pior ainda, de Gavin, o Hacker esquisito que promete ser um grande personagem para a próxima temporada.
A trama de Gavin Orsay em parceria com Lucas Goodwin foi interessantíssima enquanto durou, a ideia de ter um Hacker como Gavin na trama muda completamente o conceito de House of Cards, que aparentemente lidava com política, dinheiro e jornalismo como os grandes poderes que regem o mundo, Gavin é uma ponta solta nessa teoria da série, ele é um investigador alheio a tudo isso, como ele diz a Lucas, ele é superior aos jornalistas em alguns pontos e se arrisca muito mais do que eles, ele é quase um soldado, como explica em suas próprias palavras e parece que nesse momento, se alguém consegue ferir Frank Underwood será ele.
A trajetória de Underwood ao poder ficou bem difícil nessa temporada, embora ele tenha se livrado de sua potencial maior inimiga logo de cara, Zoe, Raymond Tusk e seu braço direito Remy Danton não foram adversários fáceis e o roteiro da série também foi muito espero em mostrar que Frank Underwood, por mais inteligente que seja, não é um Sherlock, visto que nem sempre ele sabe tudo que vai acontecer e nem sempre ele tem resposta para tudo, seus planos falham e acertam em igual escala, sua inteligência está mais em apagar incêndios do que qualquer coisa. Um exemplo disso é o fim de sua relação com o presidente Garret, que é uma falha dele, ao agir tão bruscamente que o presidente notasse, mas foi de uma esperteza sem tamanho enviar a carta de desculpas ao presidente, um texto belamente escrito por sinal e que dificilmente não teria o efeito esperado.
Underwood tem algumas vantagens sobre as outras pessoas, nessa temporada são três vantagens, a primeira e maior delas é Doug Stamper, que apesar de ter sido irritante a temporada inteira e provavelmente ter sido eliminado da próxima, é o melhor braço direito que alguém pode ter, executa tudo perfeitamente e com precisão, exceto as coisas que envolvem a Rachel, mas aí é um problema esquisito a parte. Outra vantagem que ele tem é o novato Seth Grayson, que é esperto demais para se confiar, mas aparentemente tem potencial de se tornar o novo Stamper. A última vantagem é sua esposa, Claire Underwood.
Claire e Frank tem um relacionamento tão especial que os dois são capazes de executar planos complexos que foram planejados apenas em uma troca de olhar. Isso é interessante porque mostra o quanto esse papo americano da importância da Primeira Dama no governo do Presidente faz sentido, no caso dos Underwood pelo menos, porque no caso dos Walker a Primeira Dama só ajudou a sua queda.
Mas esse relacionamento e essa capacidade de Claire e Frank se comunicarem sem falar também geraram a cena mais bizarra da série, onde acontece um estranho ménage com os dois e Meechum, o segurança do Serviço Secreto mais próximo da família. A cena não é estranha porque estamos vendo um ménage e muito menos por Frank mostrar de novo sua bissexualidade, mas simplesmente porque é esquisita, parece surreal demais e até parece algo saído de um filme de terror, parecia que em algum ponto Claire e Frank iriam se revelar monstros que iriam devorar Meechum... um cena muito esquisita de fato, quase de mal gosto e olha que a série sempre soube lidar muito bem com cenas de sexo depravado antes.
A cena que eu mencionei acima pode ser esquisita por vários motivos, mas nenhum motivo interfere no elogio que eu tenho que fazer ao elenco da série, especialmente a Kevin Spacey novamente, que é simplesmente o melhor ator da TV (novamente, não sei se devo chamar a Netflix assim) no momento, a forma como ele atua e sua voz nós fazem acreditar totalmente no que Frank é e no que ele pode fazer.
Se eu tenho uma reclamação sobre a série, talvez seja na “Quebra da Quarta Parede”, que antes era extremamente divertida, mas aqui ela ficou diluída e um pouco mais orgânica, que acabou deixando ela menos legal, talvez os diretores tenham visto isso como um ponto a favor, eu não gostei tanto.
Há também uma certa estagnação em ver a briga de Tusk e Underwood eternamente, chega ao ponto em que os impasses políticos entre eles parecem uma cena de ação interminável de Transformers, onde não importa o que acontece ali, sabemos que ainda tem mais 6 ou 7 episódios e nada vai importar, esse é o risco quando você prende 13 episódios inteiros a um único tema e centralizando basicamente a um único personagem, algo diferente do que foi a primeira temporada.
Ainda com esse pequeno contratempo, que basicamente é um defeito apenas na minha opinião, a 2° Temporada de House of Cards foi por apenas um milésimo mais fraca que a 1° Temporada, o que significa que a série ainda é a série mais impressionante e mais bem produzida da atualidade e que venha a terceira temporada e o governo do 46° Presidente dos Estados Unidos, o senhor Frank Underwood; a democracia é tão overrated.
[divider top="no"]