Sherlock - 3° Temporada | Crítica

O vento leste...


Steven Moffat é um gênio, eu nunca canso de dizer isso, Doctor Who, desde que Matt Smith entrou como 11° Doutor e ele entrou como produtor, ganhou roteiros brilhantes (menos os da 7° temporada), apesar de alguns fãs xiitas da série detestarem ele e esses roteiros, eu não vejo como a série poderia estar melhor, ok, estaria melhor com a Billie Piper sendo a Rose novamente, pelo menos em pontas, mas fora isso...


Mas a implicância que alguns fãs tem com a fase Moffat de Doctor Who não se estende em nada a seu trabalho com Sherlock, que é amplamente elogiado em todos os sentidos, até exagerado as vezes. As duas primeiras temporadas de Sherlock são simplesmente brilhantes, embora tenha seus defeitos aqui e ali, como o chato e decepcionante episódio baseado em Os Cães de Bakersville e o ator que faz o Moriarty, sinceramente, Moriarty é um vilão excepcionalmente bem escrito, como tudo na série, mas o ator que o interpreta tem uma tendência ao overacting irritante, se é que pode se chamar tendência algo que acontece em todas as suas cenas.


Interessante pensar que Andrew Scott seja um ator tão aceito pelo publico em uma série que mesmo com seu humor bizarro e over-the-top algumas vezes, é ainda tão séria e sóbria. Ele parece uma criança atuando perto de Benedict Cumberbatch e Martin Freeman e mesmo atuando contra Mark Gatiss, que é principalmente roteirista e produtor, mas dá um show como MyCroft Holmes, contudo esse é um problema pequeno da série e que em partes, que ela não tem na terceira temporada.


Sherlock-season-3-2966171


O vilão da terceira temporada é Charles Augustus Magnussem, interpretado magnificamente por Lars Mikkelsen, o que me faz pensar que os Mikkelsen tem vocação natural a serem grandes vilões, como seu irmão, Mads Mikkelsen que faz o grande Hannibal na série de TV, que é igualmente brilhante. Magnussem é um vilão perfeito para essa terceira temporada, uma pena que ele só apareça de verdade no terceiro e último episódio do ano.


Por falar em episódios, a qualidade técnica dos três é extraordinária e em nada lembra a inventividade, porém precariedade de alguns arroubos visuais da primeira temporada. Em especial nesse último episódio, His Last Vow, quando há uma brincadeira com O encontro de Sherlock com Mary em certo prédio. A forma como tudo se dá a partir dali, visualmente e artisticamente é brilhante, ainda que tenha uma pavorosa ponta de Andrew Scott, que é constante na terceira temporada.


O “Palácio Mental” de Sherlock, visto da forma como ele é visto nessa temporada é uma desculpa perfeita para pequenas pontas de personagens queridos, eu até arrisco que vemos mais do MyCroft, (novamente) belíssimamente interpretado por Mark Gatiss, na mente de Sherlock do que fora dela. Mas o melhor é a ponta que acontece no segundo episódio, eu não vou falar para não estragar, mas valeu cada segundo de cena, mais ou menos todos os 5 segundos que ela durou, mas foi o suficiente para me fazer falar empolgado e de forma involuntária o nome do personagem.


????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????


Sobre os três episódios que compõem a temporada, tenho que dizer que o primeiro dele e supostamente o mais importante, The Empty Hearse, que mostra como na verdade o Sherlock não morreu na queda do prédio no último episódio da segunda temporada, é o pior de todos. A forma como Sherlock sobreviveu é explicada pelo menos de 3 formas, uma delas bem galhofa e que conta com uma outra ponta de Andrew Scott, as outras duas fazem total sentido, mas fica aquele gostinho na boca de “ok, mas isso foi forçado demais” embora sejam formas factíveis. Sherlock diz que tinha 13 formas de como aquilo poderia acontecer e que escolheu uma delas na hora, usando seus parceiros da rede de mendigos, MyCroft e Molly para executar o plano. Novamente ok, faz sentido da forma como ocorreu, mas havia variáveis demais que poderiam não estar de acordo com o plano de Sherlock, como por exemplo, Watson estar olhando de outro ângulo, ele ter se atrasado, o táxi parar em outro lugar, alguém mais próximo do Sherlock gritando “olha, um truque de mágica” ou qualquer coisa do tipo. Moffat é esperto o suficiente para fazer um personagem dentro da própria história questionar (e as variáveis?), mas a resposta é apenas um sorriso de Sherlock, como se dissesse “eu controlo as variáveis”, embora por várias vezes o próprio Moffat faça questão de deixar claro em seu roteiro que o único Deus que ele escreve é o Doutor, o Sherlock erra (raramente) e não é capaz de controlar o fluxo do mundo, por mais que ele não goste de ser lembrado disso.


O segundo episódio, The Sign of the Three, foca demais na comédia e nos personagens e é um tanto emocionante, apesar de ter um mistério filler no meio do casamento de John e Mary, há de convir que foi um baita mistério legal, embora ele não leve a trama a lugar algum, exceto talvez em apresentar Sherlock à Janine. A forma como o discurso de Sherlock foi escrito, a forma como ele reagiu ao convite e tudo mais é muito sutil, muito bem feita, que emociona e é engraçada ao mesmo tempo, porque afinal, com a personalidade do Sherlock, não daria para ser um texto piegas, mas se fosse completamente sociopata, como era de se esperar, a chance é que o episódio também fosse estragado, portanto existia uma linha tênue a seguir e Moffat a contornou perfeitamente.


HisLastVowJá o terceiro episódio, His Last Vow, de longe foi o melhor do terceiro ano e um dos melhores de toda a série (que agora tem 9 episódios). A revelação sobre a Mary é problemática na primeira estância, mas quando nós descobrimos que havia dicas nos dois episódios anteriores, por mais que ainda soe forçada, é compreensível. Mas o maior fator que contribui para que esse episódio seja praticamente perfeito é o fato do vilão, Magnussen, que eu mencionei acima, finalmente se revelar e se mostrar como um adversário mais inteligente que o Sherlock, que especialmente por não ter um overacting estúpido como o do Moriarty, se revela uma pessoa muito mais ameaçadora.


Todo o vislumbre visual desse episódio também merece elogios e a forma como ele termina, com o Sherlock deixando bem claro que ele não é um herói, só um sociopata, é brilhante, alias, o roteiro é brilhante em todos os pontos desde como a trama é conduzida até os diálogos, que eu quero ressaltar um aqui abaixo, ele não estará escrito por extenso, apenas da forma como eu lembro dele.


[quote]


- Ele está bem? (pergunta John vendo um segurança de Magnussem caído, então Sherlock começa analisa-lo.


- Pelas tatuagens, ele já foi da prisão, o padrão delas significa que ele é de alguma espécie de gangue, provavelmente é um supremacista branco, um neo-nazista, então quem se importa se ele está bem? (diz Sherlock simplesmente abandonando o cara, enquanto poderia ter chamado uma ambulância para salvá-lo).


[/quote]


Essa fala e a cena final entre Sherlock e Magnussem provam muito bem que tipo de personagem ele é, realmente não é um herói, ele tem seu senso de certo ou errado, mas na maioria das vezes faça apenas o que lhe parece melhor e o que convém aos seus interesses pessoais, embora quase sempre acabe fazendo o certo ao seu modo. Fins e não Meios.


Toda a explicação final sobre o Vento Leste e o cliffhanger para a quarta temporada são brilhantes, embora eu tenha muito medo de como esse cliffhanger vai repercutir em mais um ano, ver o Sherlock voltando dos mortos, a revelação sobre a Mary e outras coisas já foram forçadas, embora como eu disse, factíveis ou compreensíveis, mas dependendo de onde a Quarta Temporada começar, isso será um tiro no pé e em toda a integridade da série, vamos ver.


Para resumir, entre poucos baixos e muitos altos, Sherlock continua extraordinária e nos explica novamente porque o mundo do Cinema e toda a Cultura Pop se rendeu aos talentos de Benedict Cumberbatch e aos roteiros de Steven Moffat.


PS: Um crossover entre o Doutor e o Sherlock está fora de cogitação, embora Moffat tenha dito algo como “nunca diga nunca” ou uma variação disso, mas ele falou que não se opõe a ideia de ter Matt Smith na quarta temporada da série, quem sabe como um vilão? Melhor que o Andrew Scott ele seria fácil.

Patreon de O Vértice